Na velocidade de um piscar de olhos, um atropelamento pode destruir uma vida ou deixar sequelas graves. Só neste ano, de janeiro a julho, 140 pessoas morreram em Minas Gerais vítimas da imprudência de motoristas ou dos próprios pedestres – em BH, foram 22 óbitos. O número de pessoas internadas pela mesma causa é muito maior e só cresce.
No Brasil, foram 18.798 casos no primeiro semestre deste ano, contra 16.654 registros no mesmo período de 2022, um aumento de 12,9%, conforme dados divulgados no mês passado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), com base em relatórios do Ministério da Saúde.
Em Minas, ainda conforme relatório da Abramet, o crescimento foi de 11,7%, com 2.457 hospitalizações nos primeiros seis meses de 2023, em oposição aos 2.200 registros do mesmo período do ano passado – em BH, também houve aumento.
No último dia 2, o ator Kayky Brito, de 34 anos, teve traumatismo craniano e múltiplas fraturas depois de ser atingido por um carro na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ele segue internado em estado grave, mas já respira sem ajuda de aparelhos e não está mais sedado. A suspeita é que ele tenha atravessado a via de forma desatenta.
Saídas. O aumento de casos, segundo o presidente da Abramet, Antonio Meira, mostra a necessidade de melhorias na infraestrutura de trânsito para proteger os pedestres, sobretudo em áreas que apresentaram aumento significativo de casos, como o Sudeste.
Para além disso, Daniela Fôscolo, gerente médica da Urgência e Emergência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) – responsável pela unidade de referência em politraumatismos no Estado, o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em BH –, defende que o pedestre e o motorista precisam colaborar e seguir as regras. “A música alta, o podcast criam um ‘véu’ no pedestre, que não vê o semáforo nem como está atravessando a rua”, disse Daniela.
“Preste atenção na sinalização e não acelere no amarelo”, completou Allan Azevedo, sargento do Corpo de Bombeiros. Ele ainda alerta sobre a proibição do uso de telefone na direção veicular – infração gravíssima, com multa de R$ 293,47 e sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
BH também tem alta; ‘culpa é do pós-pandemia’
A quantidade de atropelamentos subiu também em BH: foram 853 pedestres atingidos nos sete primeiros meses deste ano, contra 812 no mesmo período do ano passado – um crescimento de 5%, segundo boletins de ocorrência da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG).
Para a diretora de Dados e Informações da BHTrans, Jussara Bellavinha, o aumento no número de atropelamentos neste ano é resultado da volta à normalidade no pós-pandemia. “Quanto maior a exposição, maior é o risco de ter acidente, sobretudo no horário de pico da tarde. Porém, nós temos conseguido reduzir significativamente o número de atropelamentos (na análise de dados de 2011 para 2020). O acidente com mortos e feridos graves não é aceitável, mas uma distração e batidinhas acontecem”, disse.
Entre as ações que, segundo Bellavinha, diminuíram o número de atropelamentos estão a reprogramação de todos os semáforos, com mais tempo destinado para o pedestre passar; o aumento do número de interseções semaforizadas e de semáforos de pedestres; e a implantação de redutores de velocidade (quebra-molas) e de placas de sinalização.
Juvenil. As internações por atropelamento subiram 9,4% entre adolescentes de 15 a 19 anos no Brasil no 1º semestre deste ano, com 1.010 casos, contra 923 registros de janeiro a junho de 2022.
Idosos. A faixa de 60 a 69 anos foi a que registrou o maior aumento (37,9%) de internações por atropelamentos no Brasil, no 1º semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2022. Já em números absolutos, o público de 30 a 49 anos é o que mais vai parar nos hospitais por atropelamentos no país: foram mais de 3.000 casos.
Data. Dia 25 de setembro é o Dia Nacional do Trânsito, data que reforça a necessidade de cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que foi instituído na década de 1990.