CIDADES

Acaiaca: o mais alto de Belo Horizonte

Edifício finalizado em 1943 tem 30 andares e 120 m de altura; o maior do país está em São Paulo e tem 170 m.

Por ERNESTO BRAGA
Publicado em 03 de junho de 2007 | 00:01
 
 
 
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Olhando do alto do edifício Acaiaca, localizado no centro de Belo Horizonte, é possível avistar quase toda a cidade. E não poderia ser diferente. Com 30 andares e 120 m de altura, o prédio é apontado como o mais alto da capital. Finalizado em 1943, o Acaiaca se tornou um símbolo para os belo-horizontinos.

Projetado em estilo art décor, a fachada do arranha-céu é enfeitada com cúpulas de vidro e duas efígies de índios. O porão, hoje um compartimento de carga e descarga, já serviu como abrigo antiaéreo, uma vez que o edifício foi construído durante a Segunda Guerra Mundial.

O prédio tem 25 andares com salas comerciais. Segundo a administração do edifício, são 22 salas por andar, num total de 460. Cerca de 10 mil pessoas passam pelo Acaiaca diariamente.

"É um edifício com elementos que marcam a identidade nacional, que são os índios. Existia no momento em que ele foi projetado, uma arquitetura que buscava alguma identidade com o país. O Acaiaca tem uma posição dentro do espaço urbano muito bacana que ajuda a fazer uma leitura de diferencial urbano para a edificação", diz o arquiteto Carlos Noronha, mestre em arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador da Fundação João Pinheiro.

Ele ressaltou que o Acaiaca foi projetado pelo arquiteto Luiz Pinto Coelho, formado na primeira turma de arquitetura de Belo Horizonte. Segundo a administração, a primeira fábrica de tecidos e a primeira boate da cidade funcionaram no imóvel.

O cine Acaiaca, com capacidade para 900 pessoas, funcionou no prédio até março de 1998, quando foi desativado. A fachada foi tombada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município em 1994. Um ano depois, o mesmo órgão fez o tombamento do hall de entrada do prédio.

Afonso Pena
De acordo com o arquiteto Carlos Noronha, a legislação da época da construção do edifício Acaiaca estipulava a altura dos prédios de acordo com a largura das vias onde eles seriam erguidos.

"Na avenida Amazonas e em outras vias da cidade, que têm 35 m de largura, os prédios chegavam a 18 pavimentos. A Afonso Pena tem 50 m, a única na área central com dimensão maior. Por isso, era permitido um número maior de andares", explica o arquiteto.

Além do Acaiaca, ele citou outros arranha- céus construídos na Afonso Pena, como o Othon Palace Hotel, que aparece como segundo maior prédio da capital, com 32 andares e 101 m de altura.

Em seguida, estão a torre A do conjunto JK, com 100 m; o edifício Mesbla, com 91 m; e o edifício Maleta, com 90 m " todos na região central.

São Paulo
O maior arranha-céu brasileiro é o Mirante do Vale, em São Paulo, com 170 m e 51 andares. O Taipei 101, edifício de 101 andares e 508 m de altura, erguido em Taipei, Taiwan, é apontado como o maior do mundo.

No entanto, prédios ainda maiores estão sendo construídos ou projetados em países como Emirados Árabes Unidos, Índia, Rússia e Coréia do Sul.

Capela de 1897 resiste aos arranha-céus

Com a verticalização do centro de Belo Horizonte, apenas dois imóveis construídos na época da inauguração da cidade permanecem na região, segundo o arquiteto Carlos Noronha.

A capela Nossa Senhora do Rosário, que fica no cruzamento das ruas Tamoios com São Paulo, e o prédio da Imprensa Oficial, localizado na avenida Augusto de Lima.

O especialista ressaltou que, embora não tenham sido substituídos por edificações maiores, os imóveis sofreram alterações em seu projeto original. A capela foi inaugurada em setembro de 1897 e já passou por algumas reformas.

"Com o mercado imobiliário ostensivo, foram criados dois barracões sobre uma área onde era o jardim da igrejinha, que perdeu toda a visibilidade. Ela é um ponto de referência muito simbólico desde o início da cidade. O prédio da Imprensa Oficial já sofreu alguns acréscimos, mas ainda tem uma volumetria na arquitetura que remete ao período na inauguração da capital", diz Noronha.

Ele afirma que também resta parte do projeto arquitetônico original da cidade na praça da Liberdade e na avenida João Pinheiro.

"A cidade precisa conviver com o passado e o presente, sempre conjugados. Mas o que há é uma especulação imobiliária que quer aproveitar qualquer pedacinho de terreno para colocar um comércio, desde que a área seja atrativa para um determinado tipo de atividade", critica o arquiteto.

Para a arquiteta urbanística Maria Caldas, consultora da Secretaria Municipal de Política Urbana, o modelo de construção das cidades cria uma valorização excessiva das áreas dotadas de infra-estrutura que adquirem valor imobiliário irreal.

"Se pegarmos uma foto aérea de Belo Horizonte, veremos um mar de prédios, uma concentração de paliteiro. É um círculo vicioso que a legislação tem que quebrar e impor limites", considera.

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