Região Metropolitana

Adolescente é torturada em Pedro Leopoldo por ter agredido avó

“Você pode até estar achando que vamos fazer covardia com você, mas vamos te bater porque você bateu na sua avó, teria dito um agressores, segundo relatou a vítima à Polícia Militar (PM)

Por Pedro Ferreira
Publicado em 20 de setembro de 2017 | 15:48
 
 
 
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Uma adolescente de 15 anos foi torturada, surrada com um fio elétrico e ainda levou uma coronhada na cabeça como castigo por ter agredido a avó de 61 anos. Pelo menos foi essa a justificativa dos três agressores que a levaram para um matagal conhecido como Cascalheira, no bairro Teodoro Batista de Freitas, em Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde a menor foi torturada.

“Você pode até estar achando que vamos fazer covardia com você, mas vamos te bater porque você bateu na sua avó”, teria dito um agressores, segundo relatou a vítima à Polícia Militar (PM). A adolescente sofreu várias lesões e foi socorrida no Pronto-Socorro da cidade. A PM foi acionada e conseguiu prender um dos envolvidos, Henrique Carlos Matos Salves, de 20.

A menor contou à PM que estava na casa de uma amiga, por volta das 16h de terça-feira, e um rapaz identificado por Paulo Antônio a chamou na rua. O rapaz, acompanhado de Henrique Carlos e um terceiro jovem, identificado por Nícolas, a levaram sob ameaça para o matagal.

Além de ser surrada com o fio elétrico, a adolescente contou que foi ameaçada por Henrique com um pedaço de pau. Os agressores só pararam de agredi-la quando surgiu uma irmã de Henrique e impediu que continuassem batendo na menor. Ainda assim, Henrique, que estava armado com uma pistola semiautomática, teria dado uma coronhada na cabeça da adolescente, segundo a PM.

Ainda de acordo com a polícia, Paulo Antônio e Nícolas agrediram a vítima várias vezes com o pedaço de fio, querendo que ela confessasse a agressão contra a avó. Após a tortura, os três fugiram.
Henrique Carlos foi preso mais tarde. Ele se trancou em casa ao perceber a presença da PM e foi interceptado quanto tentava escapar pela porta dos fundos. Segundo a PM, ele teria confessado a agressão, mas disse ter dado apenas uma coronhada na vítima. A arma estava no quarto dele. Há suspeita de que a violência tenha relação com drogas.

A avó paterna da adolescente, a aposentada Elza Rodrigues de Oliveira Pereira, negou ter sido agredida pela neta. “Uma menina veio aqui me avisar que eles tinham levado a minha neta para bater nela, pois ela tinha me esfaqueado. Não aconteceu nada disso. Eu estava aqui lavando roupa”, contou a avó.

No entanto, Elza contou que a neta fica agressiva quando usa drogas. “Ela já me empurrou uma vez. Queria brigar com o primo dela e não deixei. Ela, então, furou o pneu da bicicleta dele”, conta a aposentada.

De acordo com a avó, a adolescente perdeu a mãe muito cedo e saiu da casa do pai, que constituiu outra família, por não obedecer ninguém. “Largou o pai e agora vive na rua. Ninguém sabe o que acontece com ela. Hoje, ela fica um dia na casa de um, na casa de outro. Não para em lugar nenhum. Vive na rua”, lamentou a avó.

Quando soube que a neta estava sendo espancada, Elza conta que se armou com um porrete e foi defendê-la, mas já a encontrou ferida na rua, sendo socorrida. “Ela ficou bastante machucada nas mãos, nas costas e nas pernas. Levou uma coronhada na cabeça. Acho um desaforo isso. Por mais que a minha neta seja desobediente, quem tem que educá-la é a família. Se ela ela tivesse feito isso comigo, de me esfaquear, como eles falaram, quem tinha que pegar ela sou eu. Mas, nem eu tinha coragem de fazer com ela o que eles fizeram”, reclamou a avó.

A esperança de Elza é que a neta aprenda a lição, que volte para casa e retome os estudos. “Espero que ela mude. Isso não é vida, não”, lamentou. “Ela fuma drogas e bebe. Agora, vender drogas eu não tenho certeza. Teve uma vez que ela chegou aqui em casa com os olhos vermelhos e eu não deixei ela fumar droga dentro de casa. Mesmo sem fumar, ela me xinga, fala o nome da pelada. Meu coração chega a doer. Fico muito triste”, lamenta a avó.

O avô materno, o lavrador aposentado João de Jesus Medeiros, de 70, também foi procurado pela reportagem e contou que a neta foi criada no meio da malandragem. “Minha filha morreu e ela ficou com o pai. Uma pessoa da minha idade não aguenta isso. Já perdi uma filha, que é um sofrimento muito grande, e agora estou com uma neta dessa idade jogada na rua”, lamentou o avô.

Segundo João de Jesus, a neta o deixa desorientado quando aparece em sua casa com outras adolescentes para usar drogas. “É uma bagunça, uma discussão. As meninas ensinaram ela a usar drogas. Ela foi criada no meio desse povo. Eles apertam ela pegar dinheiro comigo e levar para fumar droga. Minha neta chega estressada, querendo dinheiro para levar para as meninas, e eu fico sem saber o que eu faço com essa criança. É difícil para mim", lamenta o avô, que decidiu recorrer à

Justiça para retirar a menina das ruas

"Meus filhos nunca me deram trabalho. São uns anjos de Deus. O pior é que a mãe dela morreu e o pai colocou a filha na rua. Ela não tem amparo” , lamentou o avô. A reportagem não localizou o pai da adolescente.

A Polícia Civil informou que a ocorrência foi registrada como tortura na delegacia de plantão de Vespasiano. O caso será encaminhada à delegacia de Pedro Leopoldo para abertura de inquérito.

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