Saúde

Aedes modificado com bactéria é aposta para controlar dengue

Ainda sem data para funcionar, biofábrica estadual terá um investimento de R$ 64 milhões

Por Raquel Penaforte
Publicado em 20 de janeiro de 2020 | 08:00
 
 
 
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Apenas na primeira quinzena de janeiro de 2020, Minas Gerais registrou 677 possíveis casos de dengue, além de uma possível morte pelo vírus.

Os números alarmantes da doença – mais de 483 mil casos prováveis em 2019 – mobilizaram o governo do Estado a anunciar uma iniciativa que visa ao controle da epidemia.

Trata-se da construção de uma biofábrica, onde serão produzidos mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, capaz de impedir a transmissão dos vírus de dengue, febre amarela, zika e chikungunya entre os insetos.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), inicialmente os mosquitos modificados vão atender 23 municípios da bacia do rio Paraopeba afetados pelo rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana, em janeiro de 2019.

Para a construção da biofábrica, que não teve data de início das obras nem local divulgados, está previsto investimento de R$ 64 milhões.

A verba, segundo a SES-MG, foi garantida por decisão judicial que determinou medidas de reparação a serem efetivadas pela mineradora Vale. A estimativa é que, apenas na primeira fase, seja possível liberar 25 milhões de mosquitos com Wolbachia semanalmente.

“Em um segundo momento, a biofábrica vai atender todo o Estado. Há evidências científicas de que se trata de uma estratégia efetiva para controle das arboviroses, promovendo o combate a dengue, zika, chikungunya e febre amarela”, defendeu o subsecretário de Vigilância em Saúde, Dario Brock Ramalho.

Além dos mosquitos capazes de “blindar” a transmissão de quatro doenças, o governo tem outras estratégias para combater a dengue.

Ao menos R$ 4 milhões foram destinados para a compra de insumos, como aerossóis e bombas de pulverização.

A SES-MG também informou que mantém políticas contínuas de controle vetorial, vigilância epidemiológica e mobilização social, mas não detalhou aporte financeiro para elas.

“Com as medidas, esperamos que, em 2020, ocorra um decréscimo dos casos notificados”, estimou Ramalho.

Capital

Em Belo Horizonte, que registrou 34 dos 171 óbitos por dengue no Estado em 2019, também está sendo construída uma biofábrica.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde da capital (SMSA), o espaço, na Pampulha, recebe, atualmente, obras para instalação da climatização.

A iniciativa é uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a Fundação Oswaldo Cruz, com apoio do Ministério da Saúde.

De acordo com a SMSA, a biofábrica, ainda sem data para começar a operar, terá capacidade de produzir até 2 milhões de ovos de Aedes aegypti por semana.

Ajuda da população

O sucesso da ação da bactéria Wolbachia, capaz de blindar a transmissão de vírus mortais, como dengue e zika, em mosquitos Aedes aegypti, não dispensa o apoio da população para garantir o combate a epidemias.

Quem faz o alerta é o entomologista e gestor de projeto do World Mosquito Program Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Gabriel Sylvestre.

“Trata-se de uma ação complementar. A gente sabe que o mosquito pode ser controlado de forma química, como pelo uso de inseticidas, mecânica, impedindo que ele se reproduza, e de outras diversas formas. O método Wolbachia se soma a tudo isso. Se a gente não conseguir eliminar todos os mosquitos, vamos tentar garantir que eles não consigam transmitir a doença. Mas as pessoas ainda precisam fazer sua parte nessa luta”, explica o especialista

 

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