Mercado cervejeiro

Ambev encerra atividades do Ateliê Wäls na capital

Companhia informou que endereço irá funcionar apenas como fábrica de cerveja; empresas do setor disputam fatia do mercado deixada pela Backer

Por Rafael Rocha
Publicado em 21 de outubro de 2020 | 11:00
 
 
 
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Mais uma baixa é registrada no cenário comercial e gastronômico da capital. O Ateliê Wäls, uma imponente construção erguida no bairro Olhos D’água onde funcionava uma cervejaria de padrão internacional, fechou as portas durante a pandemia e não vai voltar a funcionar. A empresa informou que o local irá atuar apenas como fábrica. A informação foi divulgada hoje pela Ambev, administradora da marca.

A gigante do mercado cervejeiro adquiriu a mineira Wäls em 2015 por valores não revelados, vendida pelos irmãos José Felipe Carneiro e Tiago Carneiro. Eles chegaram a seguir na sociedade, mas saíram três anos depois. A companhia informou, por meio de nota, que a unidade será utilizada exclusivamente para a criação e produção dos rótulos da Wäls, com o objetivo de ampliar a capacidade de produção da marca em Minas Gerais. O atendimento a clientes será feito apenas por meio de delivery de chope. A retomada da visitação guiada é prevista, mas sem data exata.

A inauguração do Ateliê Wäls aconteceu em 2015 e atraiu as vistas da imprensa nacional especializada em cerveja artesanal. O terreno de 1.900 metros quadrados tem vista privilegiada, elevador panorâmico, um amplo balcão, 21 torneiras de chope e uma cortina com 135.482 rolhas. O projeto assinado pelo arquiteto Gustavo Penna causava impacto e exibia ainda adega com 20 mil garrafas de cerveja. Atualmente a Wäls mantém outra fábrica no bairro São Francisco, além de um bar na Savassi e um restaurante no BH Shopping.

Ambev e outras cervejarias em busca do espaço deixado pela Backer

Os bastidores do mercado cervejeiro em Minas andam movimentados, já que a Backer, vizinha de bairro da Wäls, encontra-se interditada devido à acusação de adulteração de bebidas alcoólicas, lesão corporal gravíssima e dano irreparável à saúde pública. As denúncias recaem sobre sócios e funcionários. Segundo investigação da polícia, 29 consumidores foram intoxicados pelo uso de dietilenoglicol, uma substância tóxica, e outros oito morreram. Apesar disso, a marca realizou uma festa de lançamento de cerveja no último sábado, o que causou indignação e revolta nas famílias das vítimas.

Estimativas do setor calculam que a fatia do mercado antes ocupada pela Backer seja de 40%, e desde o caso de envenenamento, as cervejarias se engalfinham para tentar ocupar esse espaço. “Todas as artesanais estão de olho nessa fatia”, confirma Marco Falcone, cervejeiro que ocupa a vice-presidência do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas). Segundo ele, essa decisão da Ambev em fechar o Ateliê Wäls e aumentar a produção pode se justificar por isso, já que a companhia vem decrescendo 3% ao ano. A empresa, no entanto, não divulga números.

As pequenas e médias cervejarias também tentam recuperar as perdas durante a pandemia, que chegaram a 70%, segundo Falcone. Tatiana Santos, executiva do mesmo sindicato, confirma que várias cervejarias estão adquirindo maquinários para ocupar esse vácuo de produção deixado pela Backer.

Cautela com cervejas baratas demais

“Foi como retroceder cinco anos no mercado”, calcula o cervejeiro Bruno Parreiras, à frente da Cervejaria Küd, sobre o impacto de 2020 no segmento, fruto das enchentes de janeiro, seguidas do caso Backer e complementadas pela pandemia do coronavírus.

Para ele, um dos problemas do setor são rótulos com preços com valores muito baixos, o que chama atenção de alguns cervejeiros, o que remete exatamente à Belorizontina, a cerveja da Backer que gerou intoxicação e tinha preço bastante atrativo. “Isso me gera estranheza, essas cervejarias menores conseguirem ter esses preços menores do que as grandes fabricantes. Os ingredientes são atrelados ao dólar, então minha percepção é de cautela. Vender cerveja artesanal a R$ 5,90 a garrafa eu não consigo entender essa conta. Eu ficaria preocupado”, opina.

Pinguim de portas cerradas

Outra casa importante de Belo Horizonte que ainda não deu sinal de vida depois da flexibilização do comércio foi a Choperia Pinguim, situada num casarão da década de 1950, tombado pelo patrimônio histórico municipal e instalado na rua Grão Mogol, no Sion, região Centro-Sul da capital.

O estabelecimento segue de portas fechadas. Ninguém quis atender a reportagem para informar a previsão de reabertura da choperia. Uma atendente informou apenas que o negócio passa por mudanças internas e que somente em novembro eles terão notícias sobre possível reabertura.

A choperia foi fundada há mais de 80 anos em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, mas chegou a Belo Horizonte em 2006.

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