O empréstimo de um livro que demorou quase 22 anos para retornar à Biblioteca Municipal de Pedro Leopoldo, na região Metropolitana, vai se transformar em tema de uma crônica. O exemplar é da obra “O Cortiço”, escrita por Aluísio Azevedo, em 1890. O retorno se deu graças a dois amigos, o poeta economista Antônio Galvão, 59, e o advogado Sérgio Coutinho, 69. Coutinho encontrou o livro na estante de um estabelecimento comercial, no distrito de Casa Branca, em Brumadinho. Dentro do exemplar, a ficha de empréstimo marcava a última data em que ele foi retirado da biblioteca: 19 de novembro de 1998.
“O Sérgio me ligou um dia e falou que tinha achado o livro e decidimos ir até a cidade para devolvê-lo ao seu local de origem”, conta Galvão. De acordo com o amigo dele, Sérgio Coutinho, o livro estava em uma estante de um pequeno empório da cidade, aonde as pessoas iam para pegar e também doar exemplares para quem quisesse ler. “Eu gosto muito de literatura. Deixei alguns livros e levei outros como obras do Aluísio Azevedo, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, enfim. Quando abri esse livro estava o cartão da biblioteca pública. E logo já pensei que tinha que levar o livro para a sua casa adotiva”, conta Sérgio Coutinho.
Os dois fizeram contato com a administração da biblioteca e foram até Pedro Leopoldo para fazer a devolução do livro. “Fomos muito bem recebidos pela professora Renata Nepomuceno, na biblioteca. Quando o livro foi emprestado ela tinha apenas quatro anos. Eu li o livro pela primeira vez há pelo menos 40 anos e lendo ele hoje, consegui ler com uma visão mais madura das coisas”, explica o advogado Sérgio Coutinho.
Não se sabe ainda como o livro foi parar no distrito de Casa Branca, a 77 Km de Pedro Leopoldo. A teoria mais provável, segundo os dois amigos, é de que a pessoa o pegou emprestado na biblioteca de Pedro Leopoldo tenha perdido o livro. Durante a pandemia de coronavírus os empréstimos e devoluções foram suspensas. Com isso, momentaneamente, o livro passou para a custódia dos dois amigos, pelo menos até o fim da pandemia. Mas assim que as atividades forem normalizadas um novo capítulo dessa história vai ser escrito.
“A biblioteca está instalada em um prédio histórico, muito bonito. Atrás dele há um pequeno coreto. No dia recitei alguns poemas nele. Estou construindo agora uma crônica sobre o livro que volta 22 anos depois para a biblioteca. Combinamos ainda, de depois da pandemia, fazer um sarau. É um espaço muito bom para conversar e trocar ideias com alunos do município”, pontuou o poeta Antônio Galvão.
Cadê a pessoa que pegou o livro?
De acordo com a professora da rede municipal de ensino de Pedro Leopoldo, Renata Nepomuceno, o registro de empréstimo é tão antigo que não foi possível identificar quem foi a última pessoa a pegar o livro emprestado na biblioteca. “Na época a biblioteca ficava em outro prédio. Não temos nem o registro desse empréstimo. Mas com a divulgação do caso quem sabe ele não aparece. Daria pra contar uma nova história, a de como esse livro viajou até Casa Branca”, conta.
Para a professora, o retorno do livro serve de exemplo para que, assim que as atividades voltarem ao normal, as pessoas não se esqueçam de devolver as obras. “É um exemplo para as pessoas devolverem. Essa história é muito legal, porque conhecemos o Galvão e o Coutinho e agora vamos fazer outros trabalhos aqui para os alunos”, revela.