Ela tem 91 anos, 14 filhos, 20 netos e uma disposição para fazer coxinhas que é difícil colocar em números. Fabíola Maia de Oliveira, mais conhecida como Vovó Loca, é uma daquelas fontes de inspiração que motiva as pessoas em tempos de distanciamento social e tristeza provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Morando em Belo Horizonte, no bairro Jaraguá, desde fevereiro, ela foi convencida a deixar Morro do Pilar, na região central do Estado, para ficar mais próxima da família.
Para não deixar a peteca cair, Vovó Loca uniu o útil ao agradável: o prazer em fazer coxinhas e roscas transformado num negócio de dimensões inesperadas, que além de renderem um dinheirinho extra, fazem com que nossa quituteira tenha ainda mais qualidade de vida.
"Criamos um Instagram para ela na última sexta-feira e nossa intenção era vender coxinhas e roscas para amigos e vizinhos. Mas bastou um post de uma prima minha lá de Curitiba para o perfil viralizar e termos quase 50 mil seguidores já nesta quarta (24)", explicou Bárbara Maia, que por ser jornalista herdou a função de assessora de imprensa da própria avó.
Com o sucesso imediato e inesperado, já existe uma fila de espera sem fim de encomendas, além de incontáveis mensagens que precisam ser respondidas a seis mãos, já que Bárbara precisou recorrer à irmã Brenda e ao primo Pedro Oliveira. "Ela não tem a dimensão que isso alcançou, mas está adorando conceder entrevistas", disse Bárbara, lembrando que a avó deixou claro que este prazer só existe se as vendas aumentarem.
Empreendedora por acidente, Vovó Loca não se apressa em atender os clientes e segue à risca a determinação dos familiares: são no máximo 1.000 coxinhas por semana, vendidas em pacotes de 25, 50 e 100 unidades, ao custo de R$ 1,00 cada, além de 20 roscas, que custam R$ 10.
"Minha coxinha não é essa de coquitel, ela é maiorzinha", faz questão de deixar claro a dona do negócio. E para atender essa demanda, uma das filhas, Jussara Cattizani, já está ajudando na produção. "Mas é tudo supervisonado, sou exigente, sistemática e tenho meu padrão de qualidade", garantiu.
Empreendedorismo por acaso
Como o mundo da internet é aberto a todo tipo de comentário, já surgiram aqueles, uma minoria, criticando o fato de uma senhora de 91 anos estar trabalhando. Bárbara explica que o ponto é completamente diferente.
"A condição imposta por ela de vir morar em BH foi de trabalhar. Ela foi assim a vida inteira, foi a primeira padeira de Morro do Pilar, seus 14 filhos trabalharam entregando pão e ela quis continuar com isso agora", contou a neta promovida a assessora, garantindo que o dinheiro extra é só um ganho a mais, pois o lucro mesmo vem na saúde mental e alegria da avó de se sentir produtiva, mesmo com tantas primaveras vividas.
Como a grande maioria dos comentários são elogiosos, Loca lembra de alguém que estaria se contorcendo de ciúmes uma hora dessas.
"Meu marido ia ter ciúmes, ele era muito ciumento, mas acho que no fundo ia estar gostando muito da ideia", diz ela brincando sobre Pedro Pereira de Oliveira, de quem é viúva há 19 anos.