Um certo relaxamento de belo-horizontinos em relação às medidas de isolamento e distanciamento social pôde ser percebido, na manhã deste domingo (26). Apesar da vacuidade de alguns locais, outros pontos registraram grande movimentação de pessoas. Muitos dos centros de aglomeração foram identificados na região Sul da capital. 

A avenida Bandeirantes, por exemplo, virou pista para um grande volume de moradores - que aproveitaram o dia para corridas e caminhadas ao ar livre. A maioria não usava máscaras, que são obrigatórias na capital desde quarta-feira (22). Além da movimentação, pessoas se avolumavam em torno de um foodtruck que vendia água de coco. 

Em práticas individuais, mas em grande volume, houve aglomeração também nos arredores da Lagoa Seca do Belvedere. O desrespeito ao decreto municipal era evidente no local. “Vim aqui essa semana e estava todo mundo de máscara. Agora, vi pouca gente usando. Parece que já tem muita gente relaxando”, observa Luiz Santos, que é morador da região. 

Consultor em controle de processos, o engenheiro costuma frequentar o espaço para a prática de atividades físicas. “Eu estou no grupo de risco, tenho mais de 60 anos e estou fazendo quimioterapia”, reconhece, completando que toma todos os cuidados preconizados por autoridades sanitárias. 

Santos alega que não deixa de frequentar a Lagoa Seca por precisar manter uma rotina de exercícios. “Meu corpo tem que estar forte por causa do tratamento”, justifica ele, que usava máscara.

Encontro de carros antigos reúne colecionadores e curiosos

Na avenida José do Patrocínio Pontes, esquina com a rua Salomão de Vasconcelos, no bairro Mangabeiras, uma exposição de carros antigos gerou aglomeração de colecionadores, seus familiares e curiosos. Muitos dos presentes desprezavam os protocolos de distanciamento social e não usavam qualquer proteção. Até mesmo uma mesa de café da manhã foi posta entre os veículos. 

“Aqui é o pessoal que está parando mesmo, não é nada organizado. Pessoal tem costuma de vir e, carro antigo, todo mundo se conhece...”, garante Fernando Bazolli, que preside um clube de colecionadores. “Nossos eventos mensais estão adiados até o fim da pandemia”, observa ele, que usava máscara, reforçando que a reunião foi espontânea.

Um dos presentes, que estava sem máscara, diz que, de fato, não havia um organizador. Entretanto, contradizendo Bazolli, disse que a reunião não aconteceu ao acaso e que teria sido planejada coletivamente em redes sociais.

Praça da Liberdade, praça do Papa e Pampulha esvaziadas

Nos arredores da praça da Liberdade, que segue fechada, poucos moradores circulavam. Fosse para corridas, para caminhadas ou para o passeio com animais domésticos, a maioria seguia os novos protocolos, evitando a proximidade uns dos outros.

Um pequeno número de pessoas frequentava a também interditada praça do Papa, no bairro Mangabeiras. “Confesso que, quando cheguei aqui, deu até um aperto no coração de ver esse lugar tão vazio. Mas, ao mesmo tempo, comemorei que as pessoas estão mesmo se preservando”, comenta Stefanie Fontes, gerente financeira de um escritório de advocacia. 

Moradora da região da Pampulha, ela estava no local junto de sua mãe. As duas usavam máscaras de proteção. “Minha mãe, que é muito ativa, está há 40 dias em casa e precisava respirar um pouquinho, por isso pensamos em vir aqui aproveitar a vista”, explica Stefanie.

Na avenida Afonso Pena, na altura do parque Municipal, onde aconteceria a tradicional Feira Hippie, apenas poucos passantes. Um contraste em relação aos domingos movimentados, quando as tendas de artesãos são distribuídas, fazendo da via lugar de encontro.

Com ruas de acesso e o entorno da lagoa da Pampulha cercados, o local estava mais vazio que todos os outros visitados pela reportagem.

Atividades, mesmo individuais, em praças e ruas ainda não são adequadas

Presidente de Sociedade Mineira de Infectologia e membro do comitê de enfrentamento à pandemia em BH, Estevão Urbano lamenta o sistemático desrespeito às recomendações e ao decreto municipal. Ele explica que atividades ao ar livre não são adequadas neste momento.

“Vamos supor que se libere todo mundo ao mesmo tempo: mesmo que para fazer práticas solitárias, formam-se aglomerados. Pensando na ordem coletiva, ainda não está liberado”, examina.

Pesquisa mostrou brasileiros mais descrentes quanto ao isolamento social

Uma pesquisa global do instituto Ipsos divulgada na quinta-feira (23) corrobora com as impressões de que aglomerações voltaram a ser rotineiras em diversas regiões da cidade. De acordo com o levantando, Brasil é o segundo - em uma lista de 15 países - que menos confia na eficácia do isolamento social como política contra a Covid-19.

Há um mês, 49% dos brasileiros não acreditavam na proposta. Agora, são 54%. Na média mundial, 44% de todos os entrevistados duvidam que o isolamento social impedirá a disseminação do coronavírus.

"Certamente os desalinhamentos entre narrativas dos governos federal e estaduais não contribuem positivamente para a aceitação das medidas de isolamento social", aponta Fernando Takahashi, diretor do Ipsos.

Mas, ainda que o método não desperte a confiança de maior parte da população, Takahashi acredita ser pouco provável que "um cenário de descrença da doença aconteça dada a velocidade e abrangência da informação sobre o coronavírus, por diferentes meios, que diariamente é compartilhada através de diversos órgãos públicos e privados", avalia.

Para ele, não é possível comprovar a hipótese de que essa crescente desconfiança levem a uma redução do engajamento individual. "Se observarmos, por exemplo, a quantidade de pessoas que declara usar máscaras, identificamos um aumento expressivo no Brasil saltando de 28% ao final de março para 56% nessa oitava onda de abril", situa.