Em clima de tensão, incerteza e ameaça de lockdown ou retroação na reabertura do comércio, Belo Horizonte completa, nesta sexta-feira (26), 100 dias de quarentena. O prefeito da capital, Alexandre Kalil (PSD), decretou isolamento social obrigatório na cidade como medida de combate ao coronavírus no último 18 de março.

Na época, havia dois dias que o primeiro caso de Covid-19 em BH fora identificado, no dia 16 daquele mês. Agora, somam-se 4.977 casos confirmados da doença e 118 mortes causadas pela pandemia.   

Com indas e vindas nos índices de isolamento social, Belo Horizonte observou, nesse período, mudanças que há um século não aconteciam.

A capital mundial dos bares viu estabelecimentos fechados, esvaziamento das ruas e, pouco tempo após quase 5 milhões de pessoas encherem as vias da cidade durante o Carnaval, as fantasias e o glitter foram trocados pelas máscaras cirúrgicas e álcool em gel.

“Determina a suspensão temporária dos Alvarás de Localização e Funcionamento e autorizações emitidos para realização de atividades com potencial de aglomeração de pessoas para enfrentamento da Situação de Emergência Pública causada pelo agente Coronavírus”, diz o texto publicado.  

Sem cura, tratamento eficaz ou vacina, a Covid-19 tomou conta do país nesses 100 dias. Os dados mais recentes do Ministério da Saúde apontam 1.228.114 casos confirmados de Covid-19 e 54.971 fatalidades no Brasil.

Em Minas, são 31.343 infectados e 771 mortos, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES). Muitas vezes criticada pela “pressa” em conter o avanço das infecções, a Prefeitura de Belo Horizonte agora colhe números menores – mas não menos preocupantes – do que boa parte das demais capitais do Brasil.   

Como força centrípeta do Estado, a capital viu as vagas de leitos de UTI se esgotando mais a cada dia nesse período. Nesta semana, houve recordes diários na taxa que mede a ocupação desses centros de tratamento intensivo. Na segunda, 85%. Na terça, 86%. Na quarta, 88%. Na quinta, contudo, a taxa retroagiu e voltou ao patamar do início da semana, de 85%.   

Muitas vagas são ocupadas por pessoas vindas do interior de Minas, onde a pandemia se alastra rapidamente. São 646 cidades no Estado com casos e/ou óbitos confirmados da doença - o que representa 75,7% dos 853 municípios mineiros. No Estado, 91% dos leitos estão ocupados.   

Confinamento e briga política  

Viu-se, nesses 100 dias de isolamento social na cidade, diversos movimentos da sociedade civil. Buzinaços na porta da casa do prefeito, atos contrários e a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e manifestações contra o racismo no Brasil, impulsionadas pelas revoltas em todo o mundo após o assassinato do norte-americano George Floyd.   

“Não tem mais buzina na porta de minha casa”, afirmou Kalil em entrevista ao apresentador da rádio BandNews José Luiz Datena, ao comentar as tensões sociais nas últimas semanas em BH. Mesmo com os protestos, o chefe do Executivo municipal não demonstrou preocupação: “quem tem medo de buzina é cachorro distraído atravessando a rua, e não o prefeito de BH”, disse, em coletiva de imprensa no final de abril.

Os protestos, que abrangem os dois lados opostos do espectro político, passaram, no último mês, a serem eventos semanais, geralmente realizados aos domingos. O mesmo ocorre em âmbito nacional, quando manifestações emergem em grandes capitais Brasil afora.   

Máscaras, e a batalha pela multa

Na metade de abril, o prefeito Alexandre Kalil havia anunciado um decreto que estipulava multa de R$ 80 para quem não usasse máscaras locais públicos em Belo Horizonte. Criticado por diversas entidades, a medida foi revogada dias depois, com base no argumento de que o Executivo não poderia criar leis.   

Contudo, um projeto de lei foi apresentado por ele na Câmara Municipal da cidade e, nessa quinta-feira (25), aprovado em segundo turno. As medidas determinadas pelo Legislativo são ainda mais duras do que as propostas inicialmente por Kalil – a multa será de R$ 100.   

O “novo normal” na capital mineira  

Tensão econômica e 92% dos empregos ativos em BH – este é o atual cenário observado na capital após o início da reabertura comercial, que começou no último dia 5. Contudo, devido ao agravamento da pandemia, o processo foi paralisado por duas semanas seguidas.   

O futuro das medidas será anunciado nesta sexta-feira, quando Kalil e a equipe que compõe o comitê de combate ao coronavírus em BH promovem uma coletiva de imprensa às 14h, na sede da prefeitura.   

Incialmente, o prefeito havia afirmado em entrevista que não haveria avanço. Contudo, em breve declaração a O Tempo nessa terça (23), ele disse que ainda não tinha uma posição concreta, mas que estava “muito pessimista” com a situação. Nos bastidores, é dado como certo que a reabertura de Belo Horizonte deve, ao menos, se manter da forma como está atualmente.