Santo Tomás de Aquino

BH: Menino autista é 'torturado' em sala e escola suspende agressor por 2 dias

Garoto foi jogado no chão e levou um mata-leão; após passar o recreio dormindo na sala, ele foi acordado com uma garrafa de água derramada em seu rosto

Por José Vítor Camilo
Publicado em 04 de novembro de 2022 | 11:04
 
 
 
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A Escola Santo Tomás de Aquino, instituição tradicional de Belo Horizonte com quase 70 anos de existência, é acusada pela mãe de um aluno autista de 13 anos de negligenciar o atendimento ao menor e de dar uma punição branda para um colega de sala, da mesma idade, que agrediu o garoto e jogou uma garrafa de água sobre o seu rosto dentro da sala de aula, na última terça-feira (1º de novembro). O agressor recebeu, inicialmente, uma suspensão de 2 dias e retornaria às aulas na segunda-feira (7), apenas em uma turma diferente da vítima. 

No entanto, a escola informou posteriormente que o aluno foi afastado por tempo indeterminado conforme um plano alinhado com familiares. O caso vai ser levado ao Conselho Tutelar. A mãe do aluno, uma mulher de 34 anos que preferiu não ser identificada, conta que, no dia, ela recebeu uma ligação da enfermaria da escola dizendo que seu filho estaria lá e não conseguia falar sequer uma palavra, em estado de choque após ser encontrado no chão da sala tendo uma crise. 

"Ele não conseguia verbalizar nem para mim. Só conseguiu falar após ser levado para a terapeuta dele, que, com muito jeito, conseguiu que ele falasse. Ele disse que, ao final do primeiro horário, estava conversando com um amigo quando esse garoto chegou, jogou ele no chão com muita força e, depois, deu um mata-leão. Tudo isso enquanto os colegas riam e batiam palmas. Quando a professora chegou, pediu várias vezes para ele sair de cima do meu filho, mas, em seguida, só mandou todos irem para suas mesas, e continuou com a aula", detalha a mãe. 

Traumatizado com o ocorrido, o adolescente autista disse que preferiu "dormir" durante a aula, em uma tentativa de tentar parar de pensar nas agressões que sofreu e evitar que tivesse uma crise na frente dos coleguinhas. Ele permaneceu dormindo durante dois horários, o que também é contestado pela mãe, já que os dois professores, de matemática e português, deveriam tê-lo acordado e questionado sobre o motivo disso. 

"Começou o recreio e meu filho foi deixado lá sozinho, em abandono. Depois do intervalo, o agressor retornou, acompanhado de uma menina e outro garoto da sala, e, vendo ele dormindo na mesa, derrama uma garrafa de água em sua cabeça. Ele contou que continuou fingindo que estava dormindo, enquanto os três riam, para não ser tão humilhado. Foi uma tortura, né? Assim que eles saíram, ele se jogou no chão, em sofrimento, até ser encontrado e levado para a enfermaria", completa a mãe. 

Assim que garoto se recuperou um pouco, após passar pela terapeuta, a mulher foi até uma delegacia e registrou um Boletim de Ocorrência. Entretanto, ela pretende ainda registrar duas novas ocorrências policiais, uma contra os três menores que participaram da "tortura" de seu filho, quando a água foi derramada sobre ele, e outro contra a Escola São Tomás de Aquino, pela omissão no caso. 

Suspensão de dois dias e mudança de turma

Durante a reunião promovida na quinta-feira (3) pela escola, a mulher de 34 anos foi informada que o agressor de seu filho estaria suspenso por dois dias e retornaria para aula na segunda-feira (7) em uma turma diferente. 

"Também disseram que o segurança da escola ficaria à disposição do meu filho, perto dele o tempo todo. Mas e os outros alunos? Meu filho não é o único a ser vítima desse garoto. Eu fiquei muito nervosa, falei que não aceitava que meu filho retornasse para a escola enquanto este menino estivesse lá. Este não é o primeiro caso, coisas desse tipo acontecem constantemente desde o início do ano e o agressor só foi suspenso uma única vez, por dar um tapa na bunda de um professor", reclamou a mulher. 

Ela diz ainda que gostaria de entender o porquê de toda a proteção do garoto. "A escola alega que é por ele ter perdido o pai em um acidente, mas, deixar que ele faça essas coisas, só vai piorar. Ele deveria estar em tratamento, com disciplina rígida. Enquanto isso, meu filho está tendo crises de estresse pós-traumático, acorda de noite, todo suado, assustado. Ele tem misturado a realidade com o passado. Provavelmente terei que aumentar a medicação dele, o que eu não gosaria de fazer", finalizou a mãe. 

Nesta sexta, a instituição de ensino se posicionou sobre as denúncias em suas redes sociais. No texto, ela informou que apurou o "episódio de conflito ocorrido entre dois alunos", e que definiu medidas disciplinares "cabíveis" de acordo com o regimento interno da Escola. 

Leia o posicionamento na íntegra:

"A Escola Santo Tomás de Aquino identificou e apurou os fatos do episódio de conflito ocorrido entre dois alunos. Os responsáveis pelos estudantes foram contactados pela Instituição e as questões necessárias endereçadas imediatamente. De igual forma, foram definidas as medidas disciplinares cabíveis de acordo com a aplicação do regimento interno da Escola e do que reza a legislação vigente no tocante à proteção dos direitos da criança, do adolescente, e de ambos os alunos.

A ESTA lamenta o episódio ocorrido na Instituição, que ao longo de seus 68 anos de tradição acolheu outros estudantes neurodiversos e sempre prezou por oferecer o acompanhamento adequado. A Escola afirma que, conforme alinhado previamente com os responsáveis pelo aluno, disponibilizou ao longo de todo o seu percurso educacional, o apoio necessário para seu desenvolvimento pedagógico, e que seguirá oferecendo todo suporte para a família, bem como a manutenção dos canais de diálogo, valor fundamental da Instituição. A Escola reitera ainda que tomou todas as medidas iniciais necessárias e segue apurando todos os detalhes, acompanhando de perto as rotinas dos alunos, a fim de garantir a integridade de todos que convivem sob a sua tutela.

Reiteramos que nossa Instituição é atenta às questões emocionais dos seus alunos e oferece em seu plano de ensino uma série de programas específicos com esse propósito.

Mais uma vez, ressaltamos que o nosso compromisso em “educar para a vida” pressupõe o cuidado com todos os nossos alunos, sem exceção ou distinção, em suas diversas esferas: físicas, cognitivas, emocionais e sociais, e que seguiremos zelando por cada estudante da nossa escola, conforme a tradição dos nossos 68 anos de história.

Continuamos contando com a confiança das famílias que escolheram a ESTA para contribuir com a formação integral dos seus filhos e agradecemos a parceria de sempre, em todos os momentos.

Reforçamos, ainda, que a Direção da ESTA permanece totalmente à disposição pelos canais oficiais de contato e aberta para o diálogo com as famílias"

Atualizada às 13h13

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