Déficit

Bike BH prevê 400 bicicletas, mas opera com apenas 263

Reportagem de O TEMPO percorreu, de madrugada, as 40 estações, e constatou a irregularidade

Por Luiza Muzzi
Publicado em 14 de fevereiro de 2015 | 04:00
 
 
 
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Lançado há sete meses como mais uma iniciativa de estímulo ao transporte alternativo na capital, o programa Bike BH está operando com 65,7% do total de bicicletas estipulado em contrato. Embora preveja a disponibilização de 400 bicicletas, distribuídas em 40 estações, levantamento feito pela reportagem de O TEMPO constatou que somente 263 estão habilitadas para uso. Procuradas, a Serttel – empresa responsável pela gestão do programa – e a Prefeitura de Belo Horizonte não admitiram o problema.


Apesar dos avanços com relação ao número de usuários cadastrados e de viagens realizadas, ciclistas ponderam que a falta de bicicletas limita a expansão do projeto. Segundo usuários, o Bike BH nunca disponibilizou as 400 bicicletas prometidas, mesmo com a conclusão da implantação do programa, em dezembro passado.

A reportagem percorreu as 40 estações, na madrugada de ontem – horário em que, conforme as regras do programa, não poderia haver bicicletas em uso –, e constatou apenas 263 bicicletas, 65,7% do total estipulado por contrato.

Usuário do Bike BH, o bancário Vinícius Mundim, 32, acredita que a iniciativa é válida, mas necessita de aprimoramentos na gestão. “Existe uma demanda reprimida na cidade, e o Bike BH é uma ferramenta que, se for bem administrada, pode aumentar o número de ciclistas”, ponderou.
Questionado sobre a possível falta de bicicletas, o diretor de Negócios da Serttel, Peter Cabral, negou. “O projeto contempla 400 bicicletas. Se houvesse algum descumprimento, a prefeitura, na sua capacidade de fiscalização, seria a primeira a levantar (o problema)”, afirmou o diretor.

Responsável pela fiscalização, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) informou que recebe relatórios mensais do sistema e que, conforme a Serttel, o Bike BH “opera hoje com um total de 400 bicicletas, das quais 40 são reserva”. Em nota, a BHTrans acrescentou que “está iniciando um programa de acompanhamento sistemático das estações, de forma a verificar a quantidade de bicicletas disponíveis e sua distribuição”.

A assessoria de imprensa do banco Itaú, patrocinador do programa, não respondeu aos questionamentos da reportagem até o fechamento desta edição.

Investigação. O Bike BH é investigado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Com objetivo de apurar “uma suposta deficiência na prestação dos serviços” de locação de bicicletas, a investigação preliminar – equivalente a um inquérito civil – está em andamento desde dezembro. O caso foi denunciado por um usuário e está sendo conduzido pela Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Belo Horizonte.

Segundo a assessoria de imprensa do MPMG, o promotor de Justiça Fernando Abreu solicitou informações à Serttel, responsável pela gestão do programa, e aguarda esse posicionamento. A Serttel não se pronunciou sobre a investigação.

Queixas
Ajustes
. Reconhecido como iniciativa importante para a cidade, o Bike BH ainda é alvo de queixas com relação à instabilidade do sistema, manutenção e disponibilização das bicicletas. Segundo usuários, falta manejo entre as estações, a compatibilidade de informações entre estações e o aplicativo é problemática e muitas bikes estão constantemente com problemas mecânicos.

Punição. Segundo a BHTrans, em caso de descumprimento das regras, a Serttel pode sofrer sanções, que podem ser advertência, multa e até rescisão do contrato.

Quilometragem percorrida daria três voltas ao mundo

Mesmo com as queixas, o Bike BH alcançou índices importantes. Com mais de 55 mil viagens realizadas desde a inauguração, em junho de 2014, as laranjinhas atingiram a marca de 150 mil km rodados, o equivalente a três voltas ao redor do mundo.

“Equivalem a 20 toneladas de CO² que deixaram de ser emitidas na atmosfera, contribuindo para a qualidade de vida do cidadão, para uma cidade mais limpa e um ambiente ecologicamente mais saudável”, destaca o diretor de negócios da Serttel, Peter Cabral.

“A bicicleta é catalisadora do movimento que se vê, não só em Belo Horizonte, mas Brasil afora, da humanização do espaço público. A bike facilita a apropriação do espaço, e essa forma de ser e estar na cidade cria um sentimento mais aguçado de civilidade, compartilhamento e bem-estar”, acrescenta Cabral.

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