Polêmica

Blocos de Carnaval de BH publicam manifesto contra repressão da PM

Segundo o texto divulgado nas redes sociais, as festas em que houve violência policial 'transcorriam em paz e segurança'

Por Rafaela Mansur
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 | 15:35
 
 
 
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Mais de 60 blocos do Carnaval de Belo Horizonte assinaram uma carta aberta contra a repressão e o uso desproporcional da força por parte da Polícia Militar (PM) na folia da capital, que teriam ocorrido sobretudo na periferia. Segundo o texto divulgado nas redes sociais, as festas em que houve violência policial 'transcorriam em paz e segurança' até a chegada da corporação.

A carta reconhece o avanço dos órgãos municipais na tentativa de ampliar o apoio e o diálogo para a realização do Carnaval, mas ressalta que a repressão da PM à festa "não muda nunca".

O manifesto cita a interrupção do show do artista Marcelo Veronez e a proibição da apresentação do coletivo Família de Rua, na rua Guaicurus, que estavam previstos na programação oficial para a madrugada da última terça-feira. Segundo o coletivo, alegando "excesso de contingente no local", a PM agiu "de forma arbitrária e inconsequente". Veronez reforçou nas redes sociais que as pessoas foram retiradas do local de forma autoritária, apesar de não haver "nenhuma sombra de confusão".

A carta cita, ainda, o desfile do Filhos de Tcha Tcha, realizado na última segunda-feira em várias ocupações no Barreiro e onde a PM teria usado de "força desproporcional". De acordo com o bloco, o cortejo seguia de forma pacífica quando a a corporação surpreendeu os foliões com balas de borracha, pancadas de cassetetes, spray de pimenta e bombas de efeito moral. Duas pessoas foram presas. Na ocasião, o tenente-coronel Sílvio Mendes, comandante do 41º Batalhão, afirmou a O TEMPO que a confusão começou quando os foliões continuaram a tocar música alta após o fim do desfile.

Além disso, o texto relata "dispersões descabidas e violentas" de foliões negros e do público LGBT e denuncia, entre outras situações, a prisão de uma jovem que usava boné com símbolo da maconha no Mikatreta, no Centro; uso de violência policial na dispersão do bloco Pisa na Fulô, no Carlos Prates, na região Noroeste; e ameaça ao baile Uai Sound System, no Nazaré, na região Nordeste, que tocava reggae.

O manifesto é assinado por alguns dos maiores blocos da capital, como Chama o Síndico, Então, Brilha! e Juventude Bronzeada. "A gente sabe que precisa de segurança, mas, o que a gente vê, às vezes, é que a insegurança vem justamente dos órgãos de poder e da polícia, que precisam de mais preparo e tolerância. Nós somos absolutamente contra esse tipo de ação violenta, que ocorre especialmente em blocos que saem nas zonas periféricas", afirmou o organizador do Beiço do Wando, Rodrigo Zavagli. O bloco não teve problemas com a PM, mas, segundo Zavagli, é solidário aos grupos que sofreram repressão.

O presidente da Empresa Municipal de Turismo (Belotur), Aluizer Malab, disse que busca combater os confrontos e ressaltou que os casos foram "isolados". "Não estou querendo colocar panos quentes em nada, mas todos que trabalharam do lado de cá nessa organização trabalharam no seu limite de efetivo, de horas, de entrega e tudo. Eu não diria que a polícia ou outro perde a cabeça, mas são ânimos diferentes, aquele encontro ali pode dar alguma coisa", afirmou. "Eu li esse manifesto, acho que é legítimo e, por outro lado, eu prefiro pensar que, em um Carnaval tão extenso como o nosso, tivemos alguns casos isolados", completou.

Em nota, a PM afirmou que não foi comunicada oficialmente sobre o manifesto e que "respeita qualquer manifestação e acredita no ambiente democrático". A corporação ressaltou que, em quase 1.000 eventos na capital, "não houve destaque para a violência, o que ratifica o trabalho feito". A PM declarou, ainda, que sempre vai atuar na prevenção dos eventos, mas que sempre que houver "ruptura da ordem pública", vai agir no sentido de restaurar a ordem "nos limites previstos pelo uso diferenciado da força e do ordenamento jurídico".

Além da PM, os blocos citam, na carta, os responsáveis pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) e pelo governo do Estado. Os órgãos foram procurados pela reportagem, mas não comentaram o assunto.

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