Portas fechadas, casa cheia

Boates e espaços culturais de BH ignoram pandemia e promovem festas clandestinas

Um dos eventos foi realizado nessa segunda (14), no Espaço Even, na região Oeste da cidade; outro, na última sexta (11), na Major Lock, boate que funciona na região Centro-Sul

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 15 de setembro de 2020 | 15:38
 
 
 
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Em plena pandemia, de portas fechadas, mas com casa cheia – eventos clandestinos em boates e espaços culturais em Belo Horizonte reúnem aglomerações, mesmo com proibição da prefeitura. Em alguns lugares, festas com mais de 1 mil pessoas chegaram a ocorrer. 

Um dos eventos foi realizado nessa segunda-feira (14), no Espaço Even, na região Oeste da cidade, com participação de um músico que já compôs o quadro do grupo de pagode Akatu*. Outro, na última sexta-feira (11), na Major Lock, boate que funciona na região Centro-Sul.

Em ambos casos, pessoas sem máscara se aglomeraram e, no primeiro, a lotação ficou na casa dos milhares, conforme uma fonte informou a O TEMPO

Situação que, não apenas desrespeita o regramento estabelecido pelo Executivo municipal, como expõe a população a riscos de contaminação por coronavírus e vem prejudicando empresários do setor que seguem as normas. 

 Em contato com a reportagem, uma fonte, que pediu anonimato temendo represálias, afirmou que os eventos não estão sendo feitos por aventureiros, mas por produtores grandes da capital. Ela nos explicou que esses empresários em questão "não se importam com a pandemia nem com o drama econômico vivido por colegas".

As festas clandestinas são realizadas, inclusive, com contratação de "promoters", que são pessoas que ganham comissão na venda de ingresso e divulgam o evento.

“Enquanto, praticamente, a produção cultural e de eventos ta se f**** por conta da COVID-19, a Major Lock está fazendo festa em boate fechada, como se não tivesse ninguém morrendo para sustentar rolê hétero de playboy da Zona Sul”, desabafou um dos produtores em uma rede social. 

A reportagem entrou em contato com os estabelecimentos citados e, inclusive, com o organizador do evento do espaço Even, que não respondeu aos questionamentos.

Em nota, a Major Lock negou o que, registrado em imagens, aconteceu e se limitou a afirmar que “o bar funcionou aberto ao público na área externa até 22h, cumprindo todos os protocolos referente ao COVID-19”.

“Qualquer movimento após este horário foi referente ao recolhimento dos equipamentos da área externa, bem como conclusão de uma LIVE na área interna, composta pela produção e artistas, sem acesso ao público”, continua o texto.

Contudo, em imagens gravadas dentro do local no dia, é possível ver aglomeração e pessoas bebendo dentro do espaço, sem máscaras. 

Em nota, a banda Akatu alegou que está com atividades suspensas desde 18 de março, "devido à pandemia", e que "está isenta de fazer qualquer tipo de apresentação enquanto a prefeitura de Belo Horizonte não liberar os eventos em maiores portes com música ao vivo", diz o texto. 

Apesar disso, o grupo pontuou que o "evento clandestino que tem acontecido se trata de um projeto chamado 'Misturadinho' onde se reunem músicos de BH de trabalhos diferentes, sem qualquer tipo de divulgação referente a Banda Akatu".

A banda esclareceu que um dos ex-integrantes da banda aparece nas imagens, mas que teve o "contrato suspenso desde o início da pandemia", assim como o de todos os músicos.

"Com as atividades da banda suspensas desde março, os contratos de todos os integrantes estão suspentos. Sendo assim, (o músico que aparece nas imagens não faz parte do grupo) nesse momento", ressaltou. "A Banda não pode se responsabilizar pela vida pessoal dele", concluiu o grupo. 

Conforme apurado por O TEMPO, o esquema clandestino das festas é comumente organizado via grupos de WhatsApp, nos quais pede-se sigilo.

Em nota, a Guarda Municipal explicou que realiza patrulhas preventivas espontaneamente em todos os dias da semana, por toda a cidade.  As abordagens são voltadas, sobretudo, para a conscientização da população sobre a importância de evitar aglomerações e para o observar o uso de máscaras, medidas que visam evitar a disseminação do coronavírus.

Em relação ao bar Major Lock, localizado no bairro São Pedro, foi recebida uma denúncia de aglomeração e desrespeito aos decretos municipais. A demanda foi repassada para os agentes de fiscalização da prefeitura, que foram ao estabelecimento, constatando que ele permaneceu fechado no sábado e no domingo.

A população pode denunciar o funcionamento indevido de estabelecimentos ou a existência de aglomerações utilizando o aplicativo PBH App ou no Portal de Serviços da Prefeitura, ambos integrados ao BH Digital.

*Texto atualizado às 16h43, com esclarecimentos prestados pela Banda Akatu

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