Buracos, trepidações, curvas sinuosas. Como se não bastassem esses problemas na BR-381 — que liga o Espírito Santo a São Paulo, cortando 950 km de estradas de Minas Gerais —, a imprudência dos motoristas, o excesso de veículos e a presença de animais e pedestres em locais proibidos agravam o perigo da via. Popularmente conhecida como rodovia da morte, a estrada foi, em 2021, palco de 2.942 acidentes, segundo um estudo da Fundação Dom Cabral.

Há 20 anos trabalhando como ambulante na BR-381, José Carlos Santos Morais, 64, já presenciou muitos acidentes. “Acho que fica pior quando está chovendo. O óleo cai e os carros deslizam na pista, isso causa acidente, né?”, avalia. Ele afirma não sentir medo de dividir o carrinho onde leva seus lanches e água com os milhares de veículos que circulam pela rodovia. “Não tenho medo, porque o que tiver que acontecer, acontece. Tem que ter cuidado. As motos são as mais perigosas, que passam pelo acostamento. Tem que ter cuidado com as motos”, reforça.

A dona de casa Márcia Lenir da Costa, 48, assiste de casa o trânsito intenso da rodovia desde os 17 anos, quando se mudou para uma casa às margens do km 16, em Santa Luzia, na grande BH. Ela e o marido já perderam as contas de quantos capotamentos, batidas e atropelamentos já viram bem próximo de casa.

“Lembro de uma van capotando de lá da curva da macumba e também de um carro fazendo a trajetória errada, tentando atravessar pra lá, e a carreta veio e bateu”, conta. Na visão dela, a imprudência dos motoristas é a maior causa de acidentes. “Já ajudei a socorrer uma pessoa. Umas 23h a gente ouviu um barulho e eu falei com meu marido ‘isso é atropelamento’. Foi uma moto e uma Hilux branca. O motociclista estava caído na vala. Parece que o carro queria ir para outro canto da pista e acabou pegando o menino”, conta.

Segundo estudo da FDC, Minas Gerais é o terceiro estado brasileiro com a maior taxa de acidentes em rodovias federais. O estado lidera o ranking no sudeste.

Perigo na estrada gera risco para gerações

A dona de casa Jucélia Rodrigues, de 34 anos, é mãe de seis filhos. O mais velho tem 17 anos, e o mais novo, ainda de colo, 11 meses. Em um espaço improvisado às margens da rodovia, três filhos dela brincam. Separados apenas por uma cerca artesanal, a mãe garante que as crianças estão mais seguras do que antes “Eu fico com medo pelos meus filhos, mas aqui onde eles estão é mais tranquilo, se não, eles ficariam na BR mesmo, sem proteção”, afirma. Ela vive preocupada com o trânsito intenso no quintal de casa, ainda mais porque a irmã dela, anos atrás, foi vítima de uma atropelamento naquele local. “Minha irmã mais nova sofreu um acidente e hoje, anda de muleta, porque ficou com sequela. Bateu um carro nela, aqui na BR”, diz.

Vivência nas estradas

Apesar de estar nas estradas apenas há três anos, o caminhoneiros Mateus Dias, 24, já presenciou mais acidentes do que gostaria. “Todo dia tem”. Questionado sobre qual estrada, na opinião dele, é a mais perigosa, ele foi enfático. “É a nossa aqui!A gente roda, roda, mas a pior é essa 381 aqui, principalmente esse trecho de Belo Horizonte à Ipatinga. Não tem como andar num lugar desse, não. É buraco, trepidação, desvio.. Tem que andar com muita atenção para não ter acidente”, conta. Para ele, além dos problemas de conservação da pista, a quantidade de curvas acentuadas agravam o risco.

O borracheiro Patrick Silva, 26, além de ouvir a reclamação dos motoristas que trafegam pela via, também sofre com a quantidade de buracos. Todos os dias ele sai de casa, em Santa Luzia, e vai até o KM 13, em Belo Horizonte. “Eu nunca sofri acidente, mas cato cada buraco que não é brincadeira. Tem lugar que a gente fica até assutado”, comenta.