Um estudo realizado com a participação da faculdade de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra alta prevalência de sintomas psiquiátricos na população de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, após o rompimento da barragem Córrego do Feijão, da Vale, em janeiro de 2019. Ao todo, 272 vidas foram perdidas, e quatro vítimas ainda estão desaparecidas.
De acordo com o levantamento, 29,3% dos moradores do município apresentam sintomas depressivos. Além disso, 22,9% foram diagnosticados com transtorno do estresse pós-traumático e 18,9% com sintomas ansiosos.
A pesquisa, feita entre os meses de junho a dezembro de 2021 com 2.740 pessoas, ainda mostra que os mais atingidos são as mulheres, idosos e moradores da área mais próxima à mineração.
Os responsáveis pelo levantamento identificaram a semelhança da prevalência dos sintomas depressivos em Brumadinho com o quadro encontrado em Mariana, na região Central de Minas, onde houve o rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015. Por lá, 28,9% da população têm os mesmos sintomas, conforme um relatório da Pesquisa sobre a Saúde Mental das Famílias Atingidas pelo Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana (Prismma). A prevalência é aproximadamente cinco vezes maior do que a descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para os brasileiros, em levantamento de 2015.
Professora do Departamento de Saúde Mental (SAM) da faculdade de medicina da UFMG, Maila de Castro destaca, em comunicado, que “a vida ameaçada, a destruição de sua casa ou perder alguém querido são situações comuns em desastres e esses momentos são traumáticos para as pessoas”, aponta.
Dor contínua
Uma das diretoras da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Barragem da Mina do Córrego Feijão em Brumadinho (Avabrum), Alexandra Andrade afirma que toda a dor sentida com a tragédia permanece até hoje entre aqueles que perderam pessoas amadas.
“A barragem não rompeu e o impacto ficou naqueles dias; o impacto continua. A gente sempre revive o que aconteceu. Agora ainda está chegando o Natal, dia 25 de dezembro, exatamente um mês antes do rompimento. Essas pessoas fazem muita falta”, conta Alexandra, que perdeu um irmão e um primo na tragédia.
A diretora da Avabrum ainda relata que, desde o rompimento da barragem, ela buscou vários recursos para aliviar a dor. Procurou psicólogo, fez massoterapia e precisa tomar medicamentos no dia a dia.
“Nós convivemos com essa dor todos os dias, há quase quatro anos. Foi brutal e cruel tudo o que aconteceu. Temos pais, irmãos, que viram o rompimento acontecer que infelizmente já morreram – alguns desses foram por causa da barragem”, diz.
A pesquisa compõe o Projeto Saúde Brumadinho, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais (Fiocruz Minas) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com participação da UFMG. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) apoiou a iniciativa.
Posicionamento
Em nota, a Vale informou que tem feito diversas ações para o atendimento da população de Brumadinho. Segundo a mineradora, foram destinados cerca de R$ 52 milhões a atendimentos psicossociais e R$ 46,6 milhões a atendimentos médicos, entre outras medidas.
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O Acordo Judicial de Reparação Integral (AJRI), firmado em 4 fevereiro de 2021 entre a Vale, Instituições de Justiça e Estado de Minas Gerais, estabelece as medidas e ações para a reparação integral de todos os danos e impactos socioambientais e socioeconômicos, inclusive medidas relacionadas à proteção e promoção da saúde da população. As iniciativas e projetos são estruturados a partir de referências técnicas e normativas, em cooperação e comum acordo com as autoridades competentes, inclusive a Secretaria de Estado de Saúde do Estado, na forma estabelecida no AJRI.
Além disso, o Programa Referência da Família, criado ainda em 2019 para prestar assistência psicossocial às famílias elegíveis de Brumadinho, região e municípios impactados pelas remoções de território, conta com uma equipe de profissionais especializados e já atendeu cerca de 3,3 mil pessoas, alcançando 93% de adesão. Ao todo, já foram destinados aproximadamente R$ 52 milhões a atendimentos psicossociais e R$ 46,6 milhões a atendimentos médicos. Além desses valores, outros R$ 32 milhões foram repassados à Prefeitura de Brumadinho, por meio de um acordo de cooperação, para a ampliação do atendimento de saúde e assistência social no município.