Buracos estão por toda parte, e motoristas ficam com o prejuízo

Não é só nas estradas mineiras que as chuvas causaram destruição. Quem circula pelas ruas e avenidas de BH  e região metropolitana encontra buraqueira por todo lado e, em alguns pontos, até cratera. Além do risco de acidentes, os estragos no asfalto tem provocado lentidão no trânsito e prejuízo para motoristas que acabam caindo nas armadilhas. Um dano que poderia ser evitado, segundo especialistas, com avaliações e correções técnicas eficientes nas vias, para que o problema não volte a aparecer ano após ano.

Na avenida Cristiano Machado, um dos principais corredores de tráfego da capital, uma cratera se abriu desde o fim de semana na entrada do túnel da Lagoinha, no bairro Colégio Batista, na região Leste, e 14 bairros ficaram sem água. Até ontem, a Copasa tentava fechar o buraco para recuperar a rede de distribuição de água. A previsão é de que obra seja concluída nesta semana.

O pedreiro Leonardo Ribeiro, 38, morador do bairro Juliana, na região Norte, passa pela Cristiano Machado todos os dias de carro e precisa madrugar para conseguir chegar ao trabalho, no bairro Floresta, na região Leste. “Saio de casa com 2 horas de antecedência para não chegar atrasado no serviço nem ficar irritado demais com o trânsito”, relatou.

Na avenida Alfredo Camarate, no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, parte da pista cedeu e o trânsito está parcialmente interditado. Na rua Olinda com a avenida Amazonas, no bairro Nova Suíça, na região Oeste, também há buracos e trincas, assim como na alça de acesso entre Via Expressa e Anel Rodoviário, no bairro Califórnia, na região Noroeste.

O taxista Oscar Dal Ferro, 75, trabalha há mais de 22 anos nas ruas de BH e diz que até perdeu as contas de quanto já gastou em reparos por cair em buracos. “Este ano tive sorte, até o momento só tive um pneu furado que deu para salvar. O reparo ficou em pouco mais de R$ 20. Mas já teve épocas que precisei trocar pneus e amortecedores porque não suportaram os baques” avaliou o taxista. 

“O asfalto precisa de cuidado, assim que surgir uma trinca é necessário realizar a recuperação para que não vire um buraco. O mais assertivo que realizar operações tapa-buracos ou recapeamento seria investir em uma nova pavimentação que tem um tempo útil maior. Atualmente nossa engenharia tem tecnologia suficiente para isso,” avaliou o professor do Departamento de Engenharia de Transporte e Geotécnica da UFMG, Ronderson Queiroz.

Gasto é de R$ 150 mi com tapa-buraco
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que será investido neste ano cerca de R$ 150 milhões em operações tapa-buraco e recapeamento de vias. No ano passado, foram executadas um total de 216.953 operações. O investimento estimado para 2021 foi de aproximadamente R$ 31,8 milhões.

Sobre a avaliação de especialistas de que falta uma avaliação técnica mais assertiva nas vias, a prefeitura declarou que “o trabalho é executado conforme normas técnicas de engenharia amplamente difundidas”. Ainda segundo o município, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) exige e fiscaliza o rigor na qualidade do asfalto e dos trabalhos executados pelas empresas.

“A prefeitura vem na segunda arrumar e na terça já tem mais buraco. É um sofrimento para o motorista. Todo os dias o motorista sofre. No fim de tarde e fim de semana é pior. Estes buracos vão acabar causando acidente grave. Nunca vi obra que solucionasse o problema”, reclamou o eletricista Ademir de Souza, 46.

Borracharias
Quem lucra com os buracos são os borracheiros. Mateus Moreira, 73, é dono de uma borracharia na avenida Cristiano Machado e diz que, quando chove, o trabalho quase dobra. “Trabalho somente com pneus remolde e com reparos. Só na semana passada vendi mais de dez pneus e realizei reparo de outros tantos. Na média vendo cada pneu por aproximadamente R$ 200 e cobro R$ 40 de mão-de-obra” avaliou. 

Já o borracheiro Lúcio Carlos, de 60 anos, tem um ponto comercial na avenida Tereza Cristina, no bairro São Paulo, na região Nordeste, há mais de uma década. Ele também disse que só na semana passada multiplicou as vendas de pneus.  “Vendi dez pneus só na semana passada, fora calotas e remendos. Dá para fazer um bom dinheiro, mas trabalha-se muito,” ponderou.  

Dicas
Lúcio Carlos, 60, trabalha há 41 anos no ramo e dá duas dicas aos motoristas. “Primeiro é redobrar a atenção e reduzir a velocidade. Outra é olhar a calibragem do pneu, isso que ajuda a não ter tanto impacto nem no pneu e nem na roda”.

O que dizem os motoristas

André Luiz - 44 - Motorista de aplicativo
Está sendo muito difícil rodar pelas ruas das cidades ainda mais depois desta chuvarada. Já tinha buraco antes, mas piorou. Semana passada cai em um e estourei o amortecedor. O buraco estava tampado pela água e não deu para ver. Não só em BH, mas na região metropolitana também tem muitos buracos. As pessoas estão tendo muitos prejuízos e está causando até acidente. Tive que trocar os dois amortecedores, porque um só não dá. A troca custou em média R$ 450. Era um gasto que não estava no meu planejamento. As coisas já não estão fáceis com o preço do combustível nas alturas. Agora é aguentar as pontas para trabalhar e poder pagar.

Igor Lopes - 25 - Motoboy
Andar por BH está complicada demais. A roda empena, o rolamento vai embora. Se for arrumar tudo fica em torno de R$ 400, R$ 500. A gente paga imposto em dia e ainda sai prejudicado. Cada ano que passa aumenta ainda mais [os impostos] porque eles não têm dó do bolso da gente 

Samuel Braga - 55 - Comerciante
Sempre é assim neste período de chuva. O buraco aparece com o excesso de água. O asfalto estoura e nunca resolvem o problema em definitivo. É um buraco aguardado todo ano. Só ano passado vieram quatro vezes arrumas e não adiantou. Arruma pra ficar do mesmo jeito quando chove. Situação complicada e sem solução. Quando o buraco está cheio de água o pessoal passa e estraga o carro. A suspensão vai embora.