Risco ainda maior

Caminhão que provocou acidente no Anel Rodoviário estava com o pneu careca

Motorista foi autuado pela Polícia Militar Rodoviária por conta da irregularidade; empresa responsável pela carga de óleo será multada em mais de R$ 14.000 por ter derramado material na pista e não se pronunciou

Por Lucas Morais
Publicado em 27 de janeiro de 2021 | 19:52
 
 
 
normal

O caminhão-tanque que provocou um acidente com três carros na última terça-feira (26) no trecho do Anel Rodoviário que passa pelo bairro Betânia, na região Oeste de Belo Horizonte, estava com o pneu careca. É o que revelou a Polícia Militar Rodoviária, que autuou o motorista por conta da infração. O veículo estava carregado com 30.000 litros de óleo transformador.

Em um vídeo registrado por um motorista que passava na região, o caminhão desceu em alta velocidade e não conseguiu parar. A via chegou a ser fechada no sentido Vitória por várias horas e o congestionamento ultrapassou 14 km. Por sorte, ninguém morreu e apenas o motorista do caminhão teve ferimentos. Ele recebeu atendimento no Hospital João XXIII e o estado de saúde não foi informado. 

Como metade da carga ainda derramou na pista após a colisão com os veículos, o Núcleo de Emergência Ambiental (NEA) precisou ser acionado. O órgão informou que a carga "escorreu pela canaleta de drenagem da via e atingiu um curso d'água na região", além de contaminar o solo. Por conta disso, será gerada uma multa de R$ 14.790 à Transporte Grande Oriente, responsável pela carga. A empresa não foi localizada pela reportagem para se manifestar sobre as infrações.

O Auto de Infração será encaminhado ao Ministério Público "para que medidas penais cabíveis, referentes aos danos ambientais e ao fato de colocar em risco a segurança e o bem-estar da população, sejam tomadas", apontou a entidade ligada à Fundação Estadual de Meio Ambiente. 

Ainda segundo o NEA, a Via 040, que administra o trecho, também será multada em R$ 4.930 por ter arrastado o tanque que armazenava o óleo por 300 metros para liberar o trânsito. "Todavia, o procedimento foi feito sem que o transbordo da carga fosse realizado e, durante a movimentação do tanque na pista, ocorreu mais lançamento de óleo sobre a via, agravando o dano ambiental", informou.

A concessionária declarou que o óleo restante no tanque do veículo foi coletado por uma transportadora na madrugada desta quarta-feira (27) e o equipamento retirado ao longo do dia. A limpeza da área só foi finalizada durante a noite.

Pneu careca traz risco ainda maior de acidente

O Código de Trânsito Brasileiro determina que rodar com o pneu careca é uma infração grave, com multa de R$195,23 e perda de cinco pontos na carteira. Apesar de não ser possível afirmar que a irregularidade tenha contribuído com o acidente, o consultor em transporte e trânsito, Osias Baptista Neto, explicou que a situação sempre gera risco, principalmente em rodovias como o Anel Rodoviário.

"Qualquer motorista é capaz de identificar se está com a banda de rodagem (borracha que envolve o pneu) certa ou não, isso não tem nenhuma justificativa. E é perigoso em qualquer situação que precise frear rápido. Nas estradas, também não consegue diminuir a velocidade do veículo na curva. Isso depende de uma simples manutenção preventiva", relatou o especialista.

No alto do bairro Olhos D'água, na região do Barreiro, o relevo acidentado dá início a um dos trechos mais perigosos do Anel Rodoviário. A descida só termina na altura do bairro Betânia, que se tornou palco de constantes tragédias. Em março de 2020, foi a vez de uma carreta carregada com minério descer desgovernada, perder os freios e atingir outros 12 veículos – três pessoas morreram. E menos de um ano depois, mais uma ocorrência volta a trazer pânico para quem trafega no local. A dinâmica foi praticamente a mesma.

Porém, o consultor em trânsito lembra que descida se inicia muito antes, ainda na BR-040, próximo ao bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. "Lá, tem dois radares e os caminhões podem rodar a 90 km/h. Depois disso, eles fazem a velocidade que querem, alguns a 120 km/h. Como o trecho é sinuoso e os veículos vão freando, isso aquece os freios, principalmente quando há muita carga. Quando chegam no Anel, o equipamento está superaquecido e pode falhar. Isso acontece muito", explica.

Além de defender a melhoria na fiscalização de controle de velocidade no trecho do Anel Rodoviário, o especialista diz que a implantação de rampas de desaceleração, que são comuns em outras rodovias do Brasil, pode ajudar a reduzir o índice de acidentes. "A BHTrans tem um projeto pronto, mas como não tem jurisdição sob o trecho, não pode implantar. É como se fosse parte no canto da pisca com material que tem mistura de brita e barro. Como o solo é mole, isso segura o veículo pesado e ajuda no momento de frear", complementa.

Questionado sobre ações para reduzir o índice de acidentes na região, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não se pronunciou até o fechamento da reportagem. 

'Nova licitação precisa garantir investimentos no trecho'

Na época que a concessão da BR-040, no trecho entre Brasília (DF) e Juiz de Fora, na Zona da Mata, foi licitada, o consultor Osias Baptista garante que não foram definidos nenhum tipo de investimento na área da rodovia que passa pelo Anel Rodoviário da capital. "Sem isso, a Via 040 não tem obrigação nenhuma de fazer melhorias", declarou. 

Como o governo federal vai fazer uma nova licitação, após o pedido de devolução pela concessionária, o especialista defende que as obras necessárias sejam acordadas no contrato. "Não dá para relicitar um trecho sem medidas para eliminar esses problemas, até porque o Rodoanel, que seria uma solução, não tem data para sair do papel. Mas isso não exime de culpa o papel do governo federal para acabar com esses acidentes", finaliza.

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!