Sempre às 20h. O horário já é considerado "sagrado" para o senhor Marcelo Ferreira, de 76 anos. Há 100 dias ele sai na varanda de seu apartamento, que fica no bairro São José, região da Pampulha em Belo Horizonte, para fazer uma seresta para vizinhos e amigos - os últimos, à distância.
Apesar do auditor fiscal aposentado ainda levar a cantoria como um hobby, a arte já está há um bom tempo em sua vida. "Eu canto assim desde que nós criamos o grupo 'Seresteiros Amigos de JK' para homenagear o centenário do Juscelino, em 2002, que era meu amigo. Sua filha, Maria Estela, é até considerada a madrinha da seresta", conta.
"Há uns nove anos nós fizemos a Confraria dos Amigos do JK, e uma vez por semana nos reunimos para fazer o som. Porém, com a pandemia, tivemos que parar de nos encontrar. Para se ter uma ideia de todos os músicos, eu sou um dos mais novos", brincou.
Veja:
Mesmo com a quarentena, o senhor Marcelo decidiu que não podia parar de cantar só porque não se encontrava mais presencialmente com seus parceiros. "Com o isolamento tivemos a ideia de continuar cantando, abraçando um ao outro, cumprimentando e conversando com a música virtual, e começamos a transmiti-la pela varanda da minha casa todas as noites a partir das 20h. Uma coisa que era para acontecer com meia dúzia ou 20 pessoas já tem 1.000 visualizando a nossa seresta todos os dias, um fato para mim inacreditável", afirmou.
Perguntado se, depois da pandemia da Covid-19 as transmissões pela internet vão continuar acontecendo, Marcelo foi enfático. "Claro! Terminando o isolamento vamos continuar fazendo o virtual todos os dias e às vezes o presencial, se Deus quiser, e ele vai querer. Além disso, eu pretendo fazer uma vez por semana na varanda de alguns amigos meus, como em Copacabana, no Rio de Janeiro, a partir da semana que vem. Às vezes, tem mais de 2.000 pessoas que cantam comigo, e eu não quero parar", ressaltou.
O grande objetivo, segundo ele, é amenizar o sofrimento que o isolamento imposto pela doença causa nas pessoas. "Eu vou continuar fazendo isso porque a minha ideia é tirar as pessoas da frente da televisão, se não, nós vamos morrer confinados. O medo e o confinamento matam", pondera.
100 dias
Neste domingo (28), quando se completam 100 dias initerruptos de serestas, haverá uma comemoração especial. O apartamento foi decorado com balões estilizados e músicos vão ser convidados. "Hoje eu nem vou cantar muito não, vou deixar a cargo da cantora Nívea Monteiro, do tecladista Haroldo Lúcio Pinto e na gaita Pedro Caetano", disse.
De acordo com o cantor, também serão sorteados para o público CD's e DVD's gravados pela confraria. Para assistir a transmissão, assim como outras serestas, basta assessar sua página no Facebook. Os vídeos também são disponibilizados no YouTube.