Escravidão

Cartazes vendendo escrava e ama de leite intrigam moradores em Ouro Preto

Depois de 135 anos da abolição do trabalho escravo, mensagens provocam repulsa em quem ainda sente as dores do período

Por Gabriel Rezende e Vitor Fórneas
Publicado em 02 de agosto de 2023 | 22:10
 
 
 
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Cartazes espalhados por Ouro Preto, região Central de Minas Gerais, relembram um cenário revoltante do século XVI em pleno 2023 e intrigam moradores. Nas escritas: uma mulher negra despida é colocada à venda, como se propriedade fosse. Depois de 135 anos da abolição do trabalho escravo, as mensagens provocam repulsa em quem ainda sente as dores do período, legado do povo preto. 

“Vende-se uma preta, muito moça, com cria [filhos], sabendo lavar perfeitamente e bem desembaraçada para o serviço doméstico. É sadia. O motivo da venda é não querer mais servir aos seus antigos senhores”, diz um dos cartazes. Os conteúdos estão espalhados por postes da cidade e em áreas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

A geógrafa Eleciania Tavares, de 40 anos, fala sobre o sentimento de ter visto as mensagens. “Enquanto mulher negra, voltei ao século XVI. Até me emociono. A gente volta ao período escravocrata. Nossos corpos ainda são muito violentados, das mais diversas formas. Essa apresentação da mulher despida, como ama de leite, é muito impactante e nos faz vivenciar várias situações”, relata. 

A professora Lívia, de 28 anos, também compartilha a sensação de “incredulidade”. “Quando me mostraram os cartazes, demorei um pouco para compreender, de fato, do que se tratava. Fiquei bastante assustada. A sensação é de revolta. Trata-se da desumanização da mulher negra. Os cartazes retratam a mulher como uma “coisa”. Eu não consigo sequer ler tudo que foi escrito ali”, relatou. 

Em nota, a Universidade Federal de Ouro Preto informou que os cartazes com o suposto anúncio são um trabalho artístico de pesquisadores da instituição

Em uma publicação no Instagram do Núcleo de INvestigações FEmInistAS, a artista Marcinha Baobá afirmou que o objetivo dos cartazes é discutir um passado violento que ainda assombra.  "De forma alguma, estou vendendo pessoas escravizadas, muito pelo contrário, estou rememorando um passado que me cabe como mulher negra", afirmou. "O trabalho aborda um passado que parece superado, mas não passou: a escravização", disse.

O posicionamento pode ser lido na íntegra clicando neste link.

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