Pandemia

Casos de reinfecção vão se multiplicar e comprometem imunidade de rebanho

Minas Gerais investiga seis casos com suspeita de reinfecção por Covid

Por Rafael Rocha e Rafaela Mansur
Publicado em 20 de outubro de 2020 | 06:00
 
 
 
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Seis casos com suspeita de reinfecção por Covid-19 estão sendo investigados pelas equipes da Secretaria de Estado de Saúde (SES). A informação foi divulgada ontem após solicitação de O TEMPO.

O governo estadual não divulga nenhuma informação sobre o perfil dos pacientes em investigação - idade, gênero ou cidade. Cada um deles está sendo monitorado e passa por mapeamento epidemiológico, que envolve avaliação de exames que possam comparar o tipo viral envolvido nos dois diagnósticos. O Executivo também informou que não há previsão para término das investigações.

Para o professor Flávio Fonseca, a tendência é que casos de reinfecção se multipliquem ao passar do tempo, o que pode inviabilizar o alcance da chamada imunidade de rebanho - quando uma doença deixa de se alastrar devido a um número grande de pessoas terem adquirido imunidade, o que protegeria os demais de serem infectados. “Na ausência de vacina, a imunidade de rebanho seria uma esperança, mas a reinfecção impacta a expectativa dessa imunidade de rebanho”, disse o virologista do Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Apesar dessa avaliação, o pesquisador afirma que a possibilidade de reinfecção pela Covid-19 já era esperada pelos especialistas. “Outros coronavírus humanos nos ensinaram que isso é possível. Eles circulam há dezenas de anos, e isso nos mostra que esse grupo de vírus é capaz de reinfectar. Isso não chegar a ser uma surpresa, mas talvez a precocidade seja a novidade”, informou.

Apesar dessa suspeita inicial, os especialistas também apostaram que o comportamento do Sars-CoV-2 fosse diferente devido à gravidade do avanço da doença. “Pensávamos que o vírus pudesse estimular mais o sistema imunológico e causar uma resposta mais robusta, mas estamos caminhando para concluir de que não será o caso”, concluiu o pesquisador.

A SES comunicou, por meio de nota, que outros dois casos suspeitos de reinfecção foram descartados, devido aos resultados finais das amostras não terem confirmado a suspeita. 

Pelo protocolo, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) considera casos suspeitos de reinfecção aqueles em que a pessoa apresentou novo quadro clínico em período acima de 90 dias do primeiro episódio confirmado laboratorialmente.

A pasta comunicou que as investigações de reinfecção são realizadas pelo Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde (CIEVS Minas), em parceria com a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e regionais de saúde.

O governo conta com a colaboração dos laboratórios nesse trabalho de investigação epidemiológica. As empresas precisam guardar as amostras dos testes positivos de coronavírus para que supostos casos de reinfecção consigam ter as primeiras e segundas coletas confrontadas pelas equipes da Fundação Ezequiel Dias (Funed). A empresa realiza o sequenciamento genético e posterior verificação de mutações. Mas isso nem sempre acontece. Em Itatiaiuçu, na região Central, o enfermeiro Libério Tadeu Fonseca Pereira, morto em julho, apresentou suspeita de reinfecção. A confirmação, no entanto, não foi possível, já que um laboratório privado descartou a primeira amostra.

Reinfecção no mundo

Na semana passada houve confirmação de reinfecção em um homem de 25 anos nos Estados Unidos, conforme artigo publicado em revista científica "The Lancet Infectious Diseases”. Outros casos de reinfecção no mundo foram registrados em Hong Kong, Bélgica, Holanda e Equador. No Brasil há casos sendo investigados em vários Estados, como Paraná, São Paulo e Pernambuco.

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