Colocar o bloco na rua com força máxima pode exigir até R$ 120 mil, segundo um dos fundadores do bloco Havayanas Usadas, o músico Heleno Augusto. Este é um dinheiro que os blocos que exigem maior estrutura na cidade já não têm, após quase dois anos sem realização de shows e com o abandono de patrocinadores. Sem perspectiva de recuperação econômica no curto prazo ou data para retomar os ensaios plenamente, blocos cobram mais apoio do setor privado e do poder público e apostam em um Carnaval de menores proporções em 2022.
“Os blocos que têm CNPJ têm uma despesa contínua, e ficamos sem trabalhar. O cenário hoje é muito enfraquecido. Antes de falar da possibilidade de realizar um Carnaval, precisamos colocar dinheiro no bolso dos músicos, dos produtores, das pessoas que sempre fizeram a festa. A gente conversa com a iniciativa privada, mas não temos nada de concreto, porque as empresas também não sabem como estará o cenário”, detalha Augusto.
Em 2020, ano do maior Carnaval na cidade, a iniciativa privada investiu R$ 14,3 milhões na festa. O iFood, um dos principais patrocinadores do Carnaval de 2020, disse que não há definição sobre 2022. A Skol, outra das maiores patrocinadoras, foi procurada pela reportagem, mas não respondeu.
O fundador do bloco Samba Queixinho, Gustavo Caetano, pontua que alguns blocos, como o dele, vivem de Carnaval o ano inteiro, com shows e oficinas, mas se viram sem recursos durante a pandemia. A prefeitura argumenta que tem realizado reuniões sobre sustentabilidade financeira com o setor e que, em parceria com o Sebrae Minas, oferece capacitações na área. Alguns blocos também participaram de editais da Belotur e se beneficiaram da Lei Aldir Blanc, com recursos federais.
“Editais ajudam, mas pouco. A cultura foi abandonada na pandemia. O Carnaval gera muito dinheiro, mas, quando ele precisou de ajuda, foi abandonado. Músicos, ambulantes, quem gera renda no Carnaval, ficou desamparado”, destaca Caetano.
Levantamento realizado pelos blocos mostra que apenas 7,5% dos trabalhadores do Carnaval conseguiram se beneficiar da lei. E, no caso dos editais, de acordo com Caetano, as quantias são o bastante somente para os eventos pontuais que financiam, sem capacidade de sustentar a indústria o ano inteiro.
Eventos em bairros são aposta
Com os blocos mais estruturados ainda sem ensaios e perspectiva, membros do setor carnavalesco apostam na forte presença de blocos de bairro, que demandam menos recursos, em 2022. Um dos fundadores do Bloco da Língua, que desce o bairro São Salvador, na região Noroeste de BH, Aender Reis, está certo de que colocará o bloco na rua se a situação da pandemia permitir.
“Nessa ótica, de não haver grandes patrocínios, acredito que o Carnaval tenda a ser local no ano que vem. A gente percebe a saudade das pessoas, ao mesmo tempo em que elas ainda têm receio”, diz.
O Carnaval de passarela, com os desfiles e escolas de samba na avenida Afonso Pena, também é uma aposta para o próximo ano, embora não tenha sido confirmado pela prefeitura. A escola Canto da Alvorada, vencedora da competição 17 vezes, revelou os figurinos no Palácio das Artes na última sexta-feira (15). O enredo homenageia justamente a instituição, que completou 50 anos em 2021.
“Tem muita gente que depende de Carnaval para trabalhar, como costureiras, e não houve ajuda para eles nos editais. No Carnaval de passarela, temos como fazer um controle maior das pessoas, temos um percurso delimitado”, diz a diretora de Carnaval da escola, Maria Elisa Moraes. Por via das dúvidas, sem saber se elas ainda serão necessárias, a escola já desenha máscaras para incluir no figurino dos foliões.
Outra possibilidade para 2022 são os eventos de Carnaval em locais fechados, em que seria mais fácil controlar a entrada de pessoas. Por ora, entretanto, ainda não há volume de eventos sendo organizados devido às atuais restrições impostas pela prefeitura, segundo o presidente da Associação Mineira de Eventos e Entretenimento (Amee), Rodrigo Marques.
“Cobramos planejamento da administração pública, porque eventos demandam tempo para serem organizados, não é como um bar, que é só abrir”, diz. Marques reclama que ainda não existe uma previsão para os testes de Covid-19 deixarem de ser exigidos na entrada de eventos, por exemplo, mesmo com avanço da vacinação na cidade. Nesse cenário, segundo ele, grandes produtores podem preferir migrar as festas para cidades próximas.