Prejuízo

Com vendas baixas, pipoqueiros e outros ambulantes evitam voltar às ruas de BH

Mesmo com retorno do comércio na capital, vendedores dizem que vendas despencaram; processo de licenciamento feito pela Prefeitura de Belo Horizonte foi paralisado na pandemia

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 15 de setembro de 2020 | 16:31
 
 
 
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Com a retomada do comércio, das academias e dos bares e restaurantes em Belo Horizonte, o movimento pelas ruas da cidade aumentou, mas não o suficiente para que as vendas de pipoqueiros e de outros ambulantes da capital retornassem ao patamar costumeiro. Por receio de arriscarem a saúde e ainda terem prejuízo, muitos preferem continuar com o negócio paralisado e não têm perspectiva de quando conseguirão recuperar a renda habitual. 

A venda de comida nos carrinhos de pipoca e churros ou carros de cachorro-quente, por exemplo, não chegou a ser proibida pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) durante a pandemia. Ainda assim, pelo menos entre os pipoqueiros, a maioria não circulou pelas ruas da capital nos últimos seis meses, segundo o presidente da Associação dos Pipoqueiros Microempreendedores da Grande Belo Horizonte, Rogério Teixeira dos Santos. 

“Falta gente na rua e é difícil que alguém pare no carrinho de pipoca agora também, porque as pessoas ficam cismadas. Não vale a pena sair ainda, porque só quando as aulas voltarem o movimento vai melhorar”, diz. Ele próprio tentou retornar ao ponto de venda, na região hospitalar, no bairro Santa Efigênia. Mas desistiu, ao perceber que a venda diária, que antes batia nos R$ 150, despencou para R$ 30, ao mesmo tempo em que os gastos com transporte e gás continuaram.

Quem tem insistido em manter as atividades relata uma situação parecida, como a pipoqueira Nilda Teixeira, 60. “Nessa segunda, das 9h às 17h, eu vendi R$ 25. Se continuar do jeito que está, vou parar, porque a gente acaba é adoecendo, com esse calor e com esse estresse”, diz. Já o pipoqueiro Ivan Lúcio da Cruz, 67, é uma exceção, entre os trabalhadores ouvidos pela reportagem. De volta às atividades desde maio, ele diz que, ao menos nos finais de semana, o movimento está bom em um de seus pontos, na Praça da Assembleia, na região Centro-Sul. “Ficar em casa me dá estresse, até adoeci”, rememora.

Protocolos de segurança para ambulantes é similar ao de demais comerciantes

A PBH não preparou um protocolo de segurança específico para o trabalho dos vendedores de comida ambulantes. Nesse cenário, segundo a Secretaria Municipal de Política Urbana (SMPU), as equipes de Fiscalização de Controle Urbanístico e Ambiental devem orientar que os vendedores tenham uma postura similar ao de outros comerciantes, como uso de máscara e álcool em gel, entrega de alimentos já prontos e evitar aglomerações. Os ambulantes também não podem colocar mesas e cadeiras ao redor do carrinho para servir os clientes. Aqueles que continuarem a descumprir os protocolos após notificação podem ter licença cassada e receber multa.

Desde o último mês, o vendedor de picolés Davi da Silva, 48, voltou a rodar a cidade diariamente, do bairro Lagoinha à Praça da Liberdade. Ele diz utilizar máscara e álcool em gel corretamente, mas que nem sempre os clientes fazem o mesmo, o que coloca ambos em perigo. “Não sei como o cliente reagiria se eu falasse para colocar máscara. Nessa segunda mesmo um cliente comprou picolé para o neto e elogiou meu cuidado de passar álcool em gel na mão, mas ele estava sem máscara”, diz. 

Em meio a riscos, ele ainda viu a renda cair pela metade, conta: “Antes, eu conseguia uns R$ 1.500 por mês, mas agora a redução é de 50%, e isso porque eu faço meu roteiro e ando, quem fica parado vende menos”. 

Com paralisação de serviços da PBH, ambulantes não conseguem regularizar situação de trabalho

Os vendedores ambulantes precisam de uma licença da  PBH para atuarem regularmente. Atualmente, a prefeitura disponibiliza 1.325 licenças para veículos em tração humana (como carrinhos de pipoca e foodbikes) e veículos automotores (como carros de cachorro-quente).

Apenas cerca de 470 licenças já estão ativas, porém — as demais estão em processo e não foram formalizadas, já que o atendimento presencial do BH Resolve foi paralisado durante a pandemia. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, há previsão de retorno do serviço em outubro, mas a data ainda não foi confirmada pelo governo municipal. 

Auxílio emergencial é suporte para ambulantes, mas não chega a suprir renda habitual

Com o carrinho de churros parado durante a pandemia, a vendedora Ingrid da Conceição, 29, recorreu ao auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal para manter as contas da família em dia. Com o anúncio da redução do benefício pela metade, a partir deste mês, ela se preocupa com o equilíbrio financeiro de casa. 

“Pelo andar da carruagem, creio que as vendas só melhorem só no ano que vem. A gente está acostumada a trabalhar na rua e a ganhar um valor bom. Mas, agora, o que eu ganhava praticamente em um dia vai ser o que vou receber pelo mês inteiro”, diz.  

O coordenador do Movimento dos Trabalhadores em Logradouros públicos de Minas Gerais (MTLP) e ex-vereador de BH, João Bosco Rodrigues, pontua que esse cenário é recorrente entre os vendedores. “Essa turma é muito guerreira e trabalhadora. Ela trabalha de sol a sol, se vira bem e tem um trabalho bem remunerado. Então, sofreram muito com a redução drástica da renda familiar”, conclui. 

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