O POVO NA RUA

Confronto com a polícia e confusão marcam manifestação neste sábado em BH

Inicialmente pacífica, a manifestação registrou diversos confrontos durante a tarde e a noite. Marcas de depredação ao longo do trajeto na Antônio Carlos e também no centro; militares e manifestantes ficaram feridos e 22 foram pressos

Por BRUNA CARMONA/FERNANDA VIEGAS
Publicado em 22 de junho de 2013 | 10:38
 
 
 
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Inicialmente pacífica, a manifestação que tomou conta da cidade de Belo Horizonte neste sábado (22) terminou de forma pesada. A passeata - que teve início na praça Sete, no fim da manhã, seguiu até a região da Pampulha, e voltou para o centro da cidade, já à noite - registrou pontos altos e baixos. A beleza da proposta, que reuniu mais de 60 mil pessoas em luta de um país melhor, teve o brilho embaçado pela presença de vândalos infiltrados no grupo.

Na praça Sete, durante a noite, muita truculência. Tropa de choque e 'Caveirão' se deslocaram pela avenida Afonso Pena.  A PM montou um cordão com centenas de policias militares, para tentar garantir a segurança no local. Por volta das 21h30, bombas de gás foram lançadas, bem como tiros de bala de borracha, causando a dispersão do grupo. Até o fechamento desta matéria, cerca de 30 manifestantes ainda estavam no local.

Em um dos momentos desagradáveis, uma equipe da TV Bandeirantes foi atacada por 12 manifestantes: com um cassetete na mão, eles agrediram o cinegrafista. Por sorte, ele e o repórter estavam com coletas à prova de balas.

Pampulha. Os momentos de tensão começaram na Pampulha, no fim da tarde, no cruzamento entre as avenidas Antônio Carlos e Abraão Caram. Um pequeno grupo tentou furar um dos bloqueios da PM e foi atingido com spray de pimenta. O tumulto se estendeu e dois policiais se feriram na confusão, um no braço e outro no olho. Manifestantes gritavam “sem violência”, mas um grupo continuava jogando pedras contra os policiais. Um idoso de 66 anos foi atingido por uma pedrada na cabeça. Outros manifestantes também ficaram machucados e foram socorridos pela PM. No total, 12 pessoas ficaram feridas, sendo quatro delas gravemente. De acordo com a Polícia Civil, 22 pessoas foram presas.

A reportagem de O Tempo presenciou a queda de um adolescente de 16 anos do viaduto José Alencar, na avenida Abraão Caram. Um estudante de medicina estava no local ajudando pessoas com estilhaços e prestou os primeiros socorros. Ele disse que a vítima teve traumatismo craniano. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado, mas não conseguia acessar o local. Então, manifestantes carregaram a vítima até onde estava a PM, e a vítima foi atendida por uma equipe do Samu que estava no local. O homem, que sofreu fraturas no rosto e na perna, foi levado para o Hospital Risoleta Neves.

Vandalismo. Quatro concessionárias de veículos, uma agência do Bradesco e a Faculdade Anhanguera, todos localizados na região da Pampulha, sofreram depredações dos vândalos. Além disso, de acordo com a Polícia Militar, todos os radares da avenida Antônio Carlos foram destruídos.

Alguns vândalos infiltrados entre os manifestantes também cogitaram invadir o 3º Batalhão de Bombeiros, na mesma avenida. Porém, de acordo com a corporação, pessoas de dentro do próprio movimento formaram um cordão de isolamento em frente do quartel, impedindo o ataque dos vândalos. Em seguida, com o apoio da Policia Militar, o risco de invasão foi totalmente afastado.

Vários chefes da PM estiveram no local. “Somos pacíficos, mas não somos passivos. A autoridade policial está aqui e vamos reagir”, afirmou o Coronel Alberto Luís. Um artefato de chumbo de metal foi jogado pelos baderneiros na polícia. A polícia revidou com bombas de gás e atirou balas de borracha.

O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) foi acionado. A PM contou também com cães, equipe da cavalaria e tropa de choque.

Mais cedo. De acordo com a Polícia Militar, mais de 60 mil pessoas tomaram a avenida Antônio Carlos, que ficou completamente fechada nos dois sentidos. O grupo gritava palavras de ordem, como “vem pra rua” e “1, 2, 3, 4, 5, mil ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”. Em frente a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), eles cantaram o hino nacional. Cerca de 4.000 policiais militares acompanharam o protesto.

O grupo começou a se concentrar às 10h, na praça Sete, fechando completamente o acesso à região. A Polícia Militar (PM) contabilizou 12 mil pessoas no local. Por volta das 13h30, eles começaram a caminhada em direção ao Mineirão, região da Pampulha, onde ocorre o jogo entre Japão e México, pela Copa das Confederações. No caminho, outros manifestantes foram se unindo ao grupo.

Alguns policiais foram flagrados pela reportagem de O Tempo escondidos na mata da universidade, para impedir que os manifestantes passem por lá e alcancem o estádio.

Mais cedo, o pirulito foi enfeitado com balões verdes e amarelos. Carregando faixas, alguns manifestantes subiram no monumento. A expectativa dos organizadores do protesto é que pelo menos 120 mil pessoas se reúnam neste sábado (22).

Por causa dos protestos, o shopping Cidade, no centro de Belo Horizonte, ficará de portas fechadas neste sábado. Amanhã, será ponto facultativo no centro de compras.

Grupos unidos

Por volta das 12h, 50 pessoas da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) chegaram à praça Sete para se unir ao grupo e lutar contra o projeto da "cura gay". Segundo o presidente da associação, Carlos Magno, os casos de depredação não prejudicam o movimento, pois, para ele, os "reacionários são uma minoria". Magno também disse que considera importante ver que a pauta do movimento LGBT foi aderida por vários outros manifestantes. Antes, às 10h, o Comitê Popular dos Atingidos pela Copa 2014 (Copac) realizou assembleia popular, sendo este o 4º ato, e também se uniu ao grupo que protesta.

Além disso, segundo militares da Sala de Operações da Polícia Militar, pessoas se reuniram na entrada do Morro do Papagaio e desceram a avenida Nossa Senhora do Carmo em direção à praça Sete. Na avenida Bernardo Monteiro, por sua vez, um protesto convocado por ambientalistas reuniu cerca de 70 pessoas. Na praça da Liberdade, manifestantes pintaram camisetas. Na região da Pampulha, membros do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG) se reuniram em frente a Igreja de São Francisco de Assis.

Região metropolitana

Em Contagem, manifestantes que se encontraram na praça do Hospital Iria Diniz seguiram pela avenida João César de Oliveira em direção à Estação Eldorado. De lá, o grupo pegou o metrô e foi para o centro de Belo Horizonte para se juntar a grande manifestação rumo ao Mineirão. Devido ao protesto, a feira de artesanato do Eldorado, que acontece aos sábados, foi cancelada. Nenhuma confusão foi registrada.

Em Betim, os manifestantes protestaram por cerca de uma hora e meia. Eles passaram pelo centro da cidade, na esquina das ruas Santa Cruz e Pará de Minas, desde às 9h30.  O grupo saiu da praça Senai e caminhou pela avenida Amazonas, após a concentração, que aconteceu na praça da Mecatrônica. Segundo a TransBetim, a manifestação reuniu mais de 1.000 pessoas. O trânsito ficou completamente fechado na BR-381, na altura do KM 496, nesse município, nos dois sentidos, e foi registrado 15km de congestionamento. No início da tarde, o tráfego de veículos foi normalizado. Os manifestantes pediram redução da passagem de ônibus para R$ 2,50. Já houve redução de R$ 2,90 para R$ 2,75. Eles também querem o fim do monopólio da empresa Santa Edwiges, meio-passe para estudantes, implantação do crédito educativo municipal e audiência pública para obras da rodoviária e do metrô.

Na cidade de Ibirité, cerca 500 pessoas foram às ruas para pedir, principalmente, qualidade no transporte público e melhorias na área da saúde. O grupo se concentrou na praça do Fórum, no centro do município, por volta das 8h, e saiu em caminhada passando pela prefeitura, chegando à principal entrada da cidade, na avenida Renato Azeredo. Com cartazes, faixas e apitos, o protesto foi finalizado por volta das 12h30. Não houve registros de vandalismo ou de ocorrência policial.

Em Santa Luzia, manifestantes fecham a MG-010, na entrada do bairro São Benedito.

Na BR-040, altura do bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, a manifestação começou por volta das 14h. De acordo com PM, cerca de 500 manifestantes fecharam a BR-040 por cerca de uma hora e meia, no sentido Rio de Janeiro. O grupo expunha cartazes e reivindicava, principalmente, redução no preço da passagem de ônibus. Eles também reclamaram dos gastos excessivos com a Copa do Mundo. Às 16h30, a manifestação continuava.

Também na BR-040, em Conselheiro Lafaiete, a rodovia chegou a ser fechada por manifestantes, durante a manhã, na altura do 1º trevo de acesso à cidade. À tarde, o trânsito foi liberado. Na BR-381, Igarapé, a rodovia ficou fechada por manifestantes na altura do km 513, mas a pista também foi liberada durante a tarde

Atualizada às 21h40

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