Proprietário de uma mansão distante um quarteirão da praia, com uma vida de alto luxo e um completo “cidadão de bem”. Era assim que vivia em Balneário de Camboriú, em Santa Catarina, Luiz Henrique Nascimento do Vale, o “Totó”, o criminoso mais procurado do estado de Minas Gerais. Com pelo menos cinco mandados de prisão em aberto, uma pena que ultrapassa os 50 anos de detenção e uma ficha criminal que engloba crime organizado, tráfico de drogas, roubos, furtos e dezenas de homicídios, entre eles dois fuzilamentos a carros blindados em Belo Horizonte, Totó foi preso nesta quarta-feira (2) pela Polícia Civil. Ao ser encontrado, o suspeito foi categórico: “não tenho inimigos. Já matei todos”, disse aos policiais.
Entre as principais acusações que pesam contra Totó estão os homicídios do advogado Jayme Eulálio de Oliveira, contratado para fazer a defesa da quadrilha de Totó e executado a tiro de fuzil na entrada do próprio prédio, no bairro Castelo, na região da Pampulha, em 2013, e o do empresário Adriano Costa Vale, executado com mais de 50 tiros de fuzil também na porta de casa no bairro Santa Cruz, na região Nordeste da capital, em fevereiro do ano passado.
Após chegar a Belo Horizonte, Totó conversou com a reportagem e negou todas as acusações. “Eu estava omisso. Não foragido. O Jayme era meu amigo. Além de ser meu advogado, era meu amigo. Qual vai dar mais ibope? Falar que o advogado morreu ou que o Totó é matador? Eu não tenho nada a ver com isso e não tenho poder de mandar nem fazer. Eu não tenho nada com isso. Eu tenho fé em Deus, no advogado e nos autos do processo que eu vou ser absolvido”, afirmou.
O delegado João Marcos de Andrade Prata, da Delegacia Especializada em Repressão de Roubo a Banco, que realizou a prisão, afirma que não tem dúvidas do envolvimento de Totó com os crimes. “A gente não tem dúvida de que ele é o autor intelectual disso, é o mandante desses homicídios. Os criminosos que praticaram o homicídio são da quadrilha do Totó e os armamentos são do Totó. Nós não temos dúvidas de que ele premeditou os assassinatos do Jayme e do Adriano”, afirmou.
Pagou para sair
Dentro da extensa ficha criminal, Totó também surpreende como sendo o pivô de uma investigação do Ministério Público e da Justiça de Minas, divulgada em primeira mão pelo O TEMPO em agosto do ano passado. Condenado a 53 anos de detenção, ele saiu pela porta da frente da penitenciária Nelson Hungria em dezembro de 2017, apenas 17 meses depois de ser preso. Ele teria pago a quantia de R$ 600 mil para fraudar o sistema de mandados de prisão da Polícia Civil. “Não existe suspeita. Existe certeza. Ele teve o benefício de alguém para que saísse. Tem que ser apurado. A Polícia Civil não compactua com desvios de conduta e com a prisão do Totó vai aprofundar as investigações e os autores serão apontados”, afirmou o Márcio Nabak, chefe da Delegacia Especializada de Crimes Contra o Patrimônio.
“Eu não paguei nada porque não tenho condição disso. Eu saí com alvará legítimo, não foi fácil, não”, afirmou Totó.
Empreendedor
Desde que saiu da prisão, há cerca de um ano e três meses, Totó, segundo a Polícia Civil, chegou a morar em Campos do Jordão, Americana, Foz do Iguaçu e, até mesmo, no Paraguai. Há cerca de seis meses ele teria se mudado para Balneário Camboriú com a esposa e um filho. “Empreendedor”, ele estaria sendo sustentado com os lucros do tráfico em Belo Horizonte. “Vivia como cidadão de bem, com os ganhos oriundos do tráfico de drogas aqui em Belo Horizonte. Lá, ele nasceu um novo cidadão. Não tinha armamento. O documento de identidade era verídico, embora com dados falsos. Possui farto armamento bélico, fuzis, pistolas, submetralhadoras, e ele terceiriza esses armamentos para crimes contra o patrimônio”, afirmou o delegado João Marcos de Andrade Prata.
Já Totó negou as acusações e afirmou que estava vivendo de doações. “Eu estava vivendo de ajuda. Você tem que ver a casa que eu tava morando. Além da minha família, muitas pessoas me ajudam. Ninguém sabia onde eu tava. Foi mérito dos policiais terem me achado”, disse. Ainda segundo o acusado, tudo se trata de uma mentira provocada por uma perseguição iniciada em 2009 após uma briga com policiais. “Em 2009 eu tive uma desavença com policiais militares por causa de uma multa de trânsito e eles começaram a me perseguir. Foi discussão banal e os policiais falaram que iam acabar com a minha vida. É uma covardia”, disse.
De acordo com a Polícia Civil, as investigações continuam. Pelo menos 15 integrantes da organização criminosa comandada por Totó estão na mira da corporação.