Região Metropolitana

Cuidador suspeito de maltratar idosos em asilo de Santa Luzia é preso

O suspeito do crime estava foragido e está sendo apresentado para a Justiça nesta tarde

Por Natália Oliveira e Carolina Caetano
Publicado em 31 de julho de 2019 | 17:41
 
 
 
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A Polícia Militar prendeu nesta quarta-feira (31) o cuidador de idosos conhecido como JP, de 47 anos, suspeito de maltratar e torturar idosos em um asilo de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. O homem está sendo apresentado para a Justiça.

De acordo com a Polícia Civil, o homem se apresentou com o advogado dele na 71ª Companhia da Polícia Militar, em Santa Luzia, ainda nesta tarde. 

A PM entrou em contato com a PC para informar o caso. Nesse momento, uma delegada já estava no fórum onde conseguiu o mandado de prisão. Depois da autorização da prisão, ele foi encaminhado para delegacia de Polícia Civil no centro histórico da cidade. 

Ainda de acordo com a Polícia Civil, ele prestá depoimento ainda nesta quarta. Ele pode responder pelo crime de tortura, assim como as outras duas mulheres presas. 

O caso 

Uma testemunha ouvida pela Polícia Civil informou que ao menos sete pessoas podem ter morrido no asilo de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, em menos de um ano. A informação foi confirmada pela delegada Bianca Prado na tarde desta segunda-feira (29). Duas mulheres estão presas por tortura e maus-tratos aos internos. 

"Temos confirmadas até agora três mortes. Um inquérito aberto por uma delas, mas vamos investigar os outros casos que foram passados por essa testemunha", explicou a delegada. 

A Justiça converteu as prisões da responsável pela Clínica Acolhendo Vidas para Vida e da filha dela para preventivas. 

Fezes no rosto

Com as prisões de mãe e filha, pacientes seguem contando os tipos de agressões físicas e psicológicas que sofriam no asilo. 

"Tivemos a informação que, como a fralda demorava a ser trocada, umas das pacientes tirava sozinha e deixava em algum lugar da clínica. Como castigo, a proprietária chegava a passar as fezes no rosto da mulher", contou Bianca. 

Segundo a delegada, também há relatos que os internos ficavam mais de 24 horas sem alimentação. "A comida que sobrava no prato voltava para a panela", detalhou. 

Para a polícia, as investigadas negam os crimes. Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de Santa Luzia, 14 internos do asilo seguem internados no hospital municipal da cidade.

Sem alvará

Segundo o secretário  municipal de Desenvolvimento Social de Santa Luzia, Wander Rosa de Carvalho Junior, o local não tem alvará de funcionamento. O asilo funciona no local há cerca de três anos. 

"É um local privado. Não acredito que houve falha na fiscalização. Nós estivemos lá e solicitamos que algumas alterações fossem feitas. No momento, o asilo foi interditado, mas precisamos de um posicionamento da Justiça para que possamos tirar os outros pacientes ou que os parentes possam ir buscar", afirmou.

Cadeirante levava tapas na cara, dizem vizinhos do asilo

Vizinhos ouvidos pela reportagem de O TEMPO afirmam que os maus-tratos aos internos eram constantes. 

"Na noite que ela chegou aqui, nós já acordamos com barulhos. Quando fui ver, a Elisabete ameaça bater em um rapaz. Ela xingava, falava: 'desgraçado, filho de uma égua, eu vou meter a mão na sua cara. Tinha uma cadeirante que era estapeada na cara todos os dias. Ela ameaçava os funcionários para que não fosse denunciada", contou a sacoleira Zélia da Conceição Santos Matos, de 55 anos. 

Uma outra vizinha do imóvel, a açougueira Giovanna Pereira dos Santos, de 40 anos, afirmou que Elisabete xingava também os moradores próximos.

 "Ela não deixava a polícia entrar, dava 'banana' pra gente com o bravo e dizia que tinhas costas quentes. Quando eu descia para trabalhar era muito choro. Teve uma vez que saí para trabalhar e vi os velhinhos na piscina por volta das 5h30. Ela dizia que colocava eles do lado de fora da casa esse horário dizendo que era para tomar sol", detalhou. 

O companheiro de Elisabete, pai de Poliana, disse que trabalha fora e chega a noite para apenas para dormir e que não presenciou nenhum tipo de agressão.

Posicionamento da defesa das suspeitas

Procurado pela reportagem de O TEMPO, o advogado de defesa de mãe e filha, Welbert Souza Duarte, informou que está tomando conhecimento dos fatos. 

"O que posso dizer é que já solicitei a liberdade provisória das duas, e a audiência de custódia deve ocorrer na próxima segunda-feira. Sobre o caso do afundamento de crânio de uma mulher foi me passado que ele é antigo e ela já passou por cirurgia há alguns anos em um hospital de Belo Horizonte", finalizou.

Resposta da prefeitura sobre o caso 

Sobre o asilo interditado em uma ação policial em Santa Luzia, a Prefeitura informa que desde o primeiro momento prestou toda assistência necessária, encaminhando imediatamente duas equipes médicas ao local, que constataram a necessidade de cuidados hospitalares em nove idosos apresentando quadros de pneumonia, fratura, desnutrição e relatos de agressão.

Esses pacientes foram encaminhados ao Hospital Municipal Madalena Calixto e estão recebendo cuidados médicos. Também está sendo prestado apoio psicológico para os idosos. 

A instituição é particular e se encontrava irregular. A Vigilância Sanitária Municipal já havia notificado o órgão sobre essas irregularidades. O estabelecimento era conhecido pela prática de mudar de endereço todas as vezes que venciam os prazos estipulados pelo órgão de fiscalização.

Em 2017, o Ministério Público encontrou a instituição novamente e acionou a Vigilância Sanitária para que fosse averiguada a condição de funcionamento e exigências legais. Nesta ocasião, a Vigilância Sanitária fez um levantamento das irregularidades e desde então trabalha com prazos para instituição cumprir.

Em 10 de julho de 2019, a Vigilância Sanitária fez uma notificação cautelar, dando prazo de 15 dias para que as exigências fossem cumpridas definitivamente.

Paralelamente, pacientes vindos da instituição asilar deram entrada no Hospital Madalena Calixto e houve um relato de maus tratos. Diante disso, o médico fez uma denúncia à polícia, que foi até o local abrindo as investigações e solicitando a interdição. 

Agora, todo o processo segue a cargo da Justiça, estando a Administração Municipal colaborando com o que for necessário para que os idosos sejam assistidos da melhor maneira possível.

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