Um ato simbólico em apoio ao grafite alvo de inquérito policial em Belo Horizonte, em uma obra que compõe o Circuito Urbano de Arte (Cura), foi realizado na manhã deste sábado (13) no centro da capital mineira. Organizada pelo coletivo Mobiliza Vermelho, a ação contou com a presença de representante do Cura. A vereadora Macaé Evaristo (PT) também participou.
Assim como a organização do evento cultural, os participantes do protesto acreditam que as obras de arte questionadas são vítimas de preconceito racial, já que o grafite “Deus é Mãe” exibe a figura de uma mulher negra. Outras obras com figuras negras não receberam a mesma reprovação, e nem outros grafites que usam a estética de pichação, segundo as realizadoras. “Foram contestadas obras de artistas negros e que tem negros representados. Isso não é coincidência”, defende Janaína Macruz, uma das coordenadoras do Cura.
Organizador de carreatas recentes que pregam a defesa do SUS, o Mobiliza Vermelho chamou o manifesto de hoje com o intuito de chamar atenção para a questão. “Resolvemos abrir o Carnaval em defesa da arte”, explicou Ricardo Oliveira, um dos integrantes. Segundo ele, a cidade vivencia um histórico de intervenções contra os negros de periferia. “São vários preconceitos velados e acumulados”, observou.
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A ação contou com pouca adesão. Alguns manifestantes exibiam cartazes com frases em defesa da liberdade artística, entre outras pautas. Para Janaína, a investigação em curso pode comprometer a realização da próxima edição do Cura, marcada para o segundo semestre deste ano. “O Ministério Público vai emitir um parecer sobre isso (a investigação policial). Já pedimos o encerramento do inquérito”, disse.
Entenda o caso
O grafite intitulado “Deus é Mãe”, assinado por Robinho Santana, teve colaboração dos artistas Poter, Lmb, Bani, Tek e Zoto. A intervenção foi realizada na fachada do edifício Itamaraty, próximo à igreja de São José, no centro de Belo Horizonte. Por conter estética que remete à pichação, o Departamento Estadual de Investigações de Crimes contra o Meio Ambiente decidiu intimar as coordenadoras do Cura a prestar depoimento. A investigação envolve suspeita de crime contra o patrimônio. Até as empresas patrocinadoras da ação cultural foram convocadas.
A Polícia Civil informou que as investigações encontram-se em segredo de Justiça. Por meio de nota, a corporação explicou que existe a suspeita de que algumas das pichações existentes no prédio sejam de associações criminosas já investigadas e que foram realizadas clandestinamente no local. “Ressalta-se que a Polícia Civil, como defensora dos direitos constitucionais, não coaduna com quaisquer práticas discriminatórias”, finalizou o comunicado.
A controvérsia também acontece porque a investigação, que agora envolve o Cura, já existia. O prédio que recebeu a obra de arte já exibia pichações, e por isso foi alvo do inquérito bem antes da obra de arte ser criada. Como o Cura fez intervenção artística sobre o pixo, a polícia decidiu incluir o coletivo de arte urbana nas investigações.
O festival Verão Sem Censura, que irá receber os artistas mineiros, estreou ano passado e reúne artistas que foram vítimas de ataques ou tiveram seus trabalhos censurados.