Polêmica

Cura: artistas urbanos protestam contra investigação por pichação em prédio

Os participantes do ato simbólico acreditam que as obras de arte questionadas são vítimas de preconceito racial

Por Rafael Rocha
Publicado em 13 de fevereiro de 2021 | 19:30
 
 
 
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Um ato simbólico em apoio ao grafite alvo de inquérito policial em Belo Horizonte, em uma obra que compõe o Circuito Urbano de Arte (Cura), foi realizado na manhã deste sábado (13) no centro da capital mineira. Organizada pelo coletivo Mobiliza Vermelho, a ação contou com a presença de representante do Cura. A vereadora Macaé Evaristo (PT) também participou.

Assim como a organização do evento cultural, os participantes do protesto acreditam que as obras de arte questionadas são vítimas de preconceito racial, já que o grafite “Deus é Mãe” exibe a figura de uma mulher negra. Outras obras com figuras negras não receberam a mesma reprovação, e nem outros grafites que usam a estética de pichação, segundo as realizadoras. “Foram contestadas obras de artistas negros e que tem negros representados. Isso não é coincidência”, defende Janaína Macruz, uma das coordenadoras do Cura.

Organizador de carreatas recentes que pregam a defesa do SUS, o Mobiliza Vermelho chamou o manifesto de hoje com o intuito de chamar atenção para a questão. “Resolvemos abrir o Carnaval em defesa da arte”, explicou Ricardo Oliveira, um dos integrantes. Segundo ele, a cidade vivencia um histórico de intervenções contra os negros de periferia. “São vários preconceitos velados e acumulados”, observou.

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A ação contou com pouca adesão. Alguns manifestantes exibiam cartazes com frases em defesa da liberdade artística, entre outras pautas. Para Janaína, a investigação em curso pode comprometer a realização da próxima edição do Cura, marcada para o segundo semestre deste ano. “O Ministério Público vai emitir um parecer sobre isso (a investigação policial). Já pedimos o encerramento do inquérito”, disse.

Entenda o caso

O grafite intitulado “Deus é Mãe”, assinado por Robinho Santana, teve colaboração dos artistas Poter, Lmb, Bani, Tek e Zoto. A intervenção foi realizada na fachada do edifício Itamaraty, próximo à igreja de São José, no centro de Belo Horizonte. Por conter estética que remete à pichação, o Departamento Estadual de Investigações de Crimes contra o Meio Ambiente decidiu intimar as coordenadoras do Cura a prestar depoimento. A investigação envolve suspeita de crime contra o patrimônio. Até as empresas patrocinadoras da ação cultural foram convocadas.

A Polícia Civil informou que as investigações encontram-se em segredo de Justiça. Por meio de nota, a corporação explicou que existe a suspeita de que algumas das pichações existentes no prédio sejam de associações criminosas já investigadas e que foram realizadas clandestinamente no local. “Ressalta-se que a Polícia Civil, como defensora dos direitos constitucionais, não coaduna com quaisquer práticas discriminatórias”, finalizou o comunicado.

A controvérsia também acontece porque a investigação, que agora envolve o Cura, já existia. O prédio que recebeu a obra de arte já exibia pichações, e por isso foi alvo do inquérito bem antes da obra de arte ser criada. Como o Cura fez intervenção artística sobre o pixo, a polícia decidiu incluir o coletivo de arte urbana nas investigações.

O festival Verão Sem Censura, que irá receber os artistas mineiros, estreou ano passado e reúne artistas que foram vítimas de ataques ou tiveram seus trabalhos censurados.

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