Com dificuldades de trabalhar em segurança, em função do risco de contaminação por coronavírus, o dentista mineiro Luís Gustavo de Medeiros Veiga, de 51 anos, criou, praticamente no quintal de casa, um dispositivo capaz de permitir o retorno dos atendimentos. O Prevent Chamber, que significa câmara de prevenção em livre tradução, é um equipamento que isola a cabeça do paciente no momento do atendimento, filtra as partículas que saem da boca e as lançam para fora do consultório já livres de qualquer vírus.
E o mais impressionante: o dentista construiu o primeiro protótipo em uma espécie de oficina que ele tem em casa mesmo. “Eu sou daquelas pessoas que têm a mente inquieta e querem consertar tudo que quebra. Em quatro dias, eu consegui ter a ideia do primeiro protótipo e depois fui fazendo melhorias nele”, conta.
Assim que teve a primeira ideia, ele entrou em contato com os funcionários dele na clínica e os convidou para ajudá-lo na produção. O dentista transformou a clínica, localizada no bairro Mangabeiras, na região Sul de Belo Horizonte, em uma fábrica. “Tiramos portas, colocamos bancadas, enfim, modificamos todo o primeiro andar do prédio para dar andamento a esse projeto”, afirma. De 14 de março, quando ele fez o primeiro modelo, até há cerca de um mês, quando patenteou o dispositivo, ele criou 20 modelos diferentes do equipamento com a produção de cerca de 500 peças. O investimento na empreitada girou em torno de R$ 30 mil, sendo que, entre erros e acertos, houve uma perda de 50% do material adquirido.
Na prática, o paciente vai chegar no consultório do dentista, munido de máscara, e só vai retirar o equipamento de segurança quando estiver dentro do Prevent Chamber, que é uma espécie de câmara transparente, que permite a entrada de até quatro mãos para acessar a boca do paciente. É para que o dentista possa contar com o apoio do assistente, nos casos em que houver necessidade. O equipamento é jogado no lixo após o uso, assim como as mangas descartáveis colocadas nos braços nos profissionais e as luvas.
Segundo Veiga, a utilização de equipamentos assim é primordial para evitar a propagação da Covid-19 entre pacientes e profissionais. “Quando usamos nossos motores jogando água e ar na boca do paciente, eles batem na gengiva e dentes e voltam para o ambiente, que são os aerossóis. Têm partículas que ficam no ar por até quatro horas e as gotículas contaminadas da saliva ficam no consultório e podem alcançar até três metros de distância”, explica. Com o equipamento criado por ele, essas gotículas ficam contidas na câmara, depois são filtradas e lançadas para fora do consultório. O filtro utilizado é o mesmo usado em hospitais para evitar contaminação do ambiente.
Agora que já patenteou a ideia, o dentista passou a contar com o apoio da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para levar o produto ao mercado. A ideia é que ele já esteja disponível para outros profissionais daqui a 15 dias. Porém, ainda não está definido valor de venda e as parcerias com os industriais que irão fazer o produto em larga escala estão sendo costuradas.