Saúde pública

Denúncia: falta de médicos prejudica atendimento no Hospital Julia Kubitschek

Com número reduzido de profissionais, médicos especializados estariam sendo convocados para atender na urgência, desassistindo os atendimentos de pneumologia e doenças raras

Por Pedro Nascimento
Publicado em 11 de novembro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Alvo de denúncias recorrentes por conta da falta de equipes e a escassez de profissionais habilitados para atender durante os plantões médicos, o Hospital Júlia Kubitschek, localizado na região do Barreiro, em Belo Horizonte, está novamente no centro das reclamações após denúncias de que faltam médicos para cobrir o serviço de urgência. Recentemente, a situação se agravou após pneumologistas e profissionais especializados em doenças raras serem convocados para cobrir buracos na escala de plantonistas, desassistindo os atendimentos especializados.

A situação faz parte de uma série de denúncias que foram incluídas em um relatório do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sindmed-MG) que foi entregue ao CRM (Conselho Regional de Medicina). O documento lista uma série de irregularidades que estariam acontecendo dentro do hospital e que estão prejudicando o trabalho dos médicos e, consequentemente, o atendimento dos pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo o diretor de mobilização do Sinmed-MG, Cristiano Túlio Maciel, a ‘gota d’água’ foi quando a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) se recusou a contratar os médicos que já estavam selecionados em um processo seletivo para preencherem as quase 100 vagas que estão em aberto no hospital.

“Depois de muita luta, conseguimos que a Fhemig fizesse um grande processo seletivo e foram entrevistados médicos para mais de 100 vagas. Esse processo foi realizado, e, recentemente, a Fhemig anunciou que não convocaria esses médicos porque a Advocacia Geral do Estado proibiu por conta da eleição”, disse o sindicalista.

No último dia 9, o sindicato se encontrou com a Fhemig e o CRM, em uma reunião que ocorreu na sede do Conselho Regional de Medicina, e reafirmou a necessidade das contratações, mas voltou a ouvir que os profissionais só poderiam ser chamados em janeiro.

“Esse processo seletivo terminou no dia 25 de outubro e os médicos ainda não foram chamados. O medo que nós temos é de que esses profissionais que fizeram o processo e que estão interessados em aceitar o emprego acabem desistindo. E, enquanto isso, o hospital funciona com uma escala precária. Neste fim de semana mesmo, não teria ninguém para o plantão, então, outros médicos estão sendo convocados para atender na urgência, como cardiologistas e pneumologistas”, diz Cristiano.

Consequências

A falta de pessoal, principalmente do médico que realiza o atendimento de urgência, tem afetado o funcionamento do hospital como um todo, não apenas no plantão. Segundo a secretaria do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde/MG), Dehonara de Almeida, muitos pacientes, que aguardavam há meses por consultas especializadas, estão tendo seus atendimentos cancelados por conta dos remanejamentos nas escalas feitos para preencher as lacunas deixadas pela falta de médicos.

“Vários profissionais que atendiam doenças raras estão sendo transferidos para atendimento de urgência e emergência, e isso tem reduzido o número de consultas de pneumologia e das doenças raras. É um processo de grande desassistência e que traz consequências muito ruins para quem depende do SUS”, diz.

De acordo com o diretor do Sinmed-MG, Cristiano Túlio Maciel, a própria estrutura e o investimento feito pelo Estado no hospital estão sendo desperdiçados devido a falta de pessoal. 

“Hoje o Júlia tem 60 leitos de CTI e está operando só com 10, o bloco cirúrgico está fechado, e é novinho em folha, e estão fazendo somente pequenas cirurgias no bloco obstétrico, por falta de anestesista”, relata. Funcionários do centro de saúde, que pediram anonimato, denunciaram que já presenciaram, inclusive, em alguns momentos, espera por vagas de internação na unidade.

Penalidades

Comunicado da gravidade da situação, o Conselho Regional de Medicina informou que encaminhou aos gestores do hospital algumas orientações para que sejam tomadas providências relacionadas à falta de plantonistas nos próximos dias e o possível fechamento da porta de entrada.

Em nota, o CRM alegou que levou em conta a “defesa da preservação da saúde do paciente e da sociedade, visando resguardar a qualidade na assistência e a segurança do médico”, informou. Um ofício solicitando colaboração na resolução do problema foi enviado à Promotoria de Saúde do Ministério Público de Minas Gerais.

Temendo penalidades que poderiam ser impostas pelo CRM e até pela Justiça, ao menos quatro coordenadores técnicos do hospital entregaram os cargos nos últimos dias.

O que diz a Fhemig

Procurada pela reportagem, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) admitiu que "os plantões do Hospital Júlia Kubitschek (HJK) vêm operando com escala exígua (insuficiente), devido à dificuldade de captar profissionais médicos no mercado", disse.

Na quarta-feira (9), a Fhemig publicou um edital para credenciar médicos para atuarem no hospital, mas sem previsão de chamamento. Mesmo assim, a Fundação alega que permanece tentando buscar uma solução para o problema.

“A Fhemig continua buscando soluções que garantam uma equipe assistencial completa e mantém diálogo permanente com os gestores do Sistema Único de Saúde e com os profissionais da unidade”, diz um trecho da nota enviada à reportagem.

Debate na Assembleia 

A situação caótica no Júlia Kubitschek chamou a atenção de deputados da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Nesta quinta-feira (10), o deputado doutor Jean Freire (PT) protocolou um pedido de audiência pública para debater o assunto. A reunião foi marcada para o próximo dia 21.

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