Falta de médicos

Hospital Júlia Kubitschek retorna com 'poucos médicos' e sobrecarga de trabalho

Candidatos chegam a desistir por causa da demora no processo de contratação, diz funcionária

Por Rayllan Oliveira
Publicado em 07 de julho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Funcionários do Hospital Júlia Kubitschek denunciaram à reportagem que a reabertura do setor de emergência do centro de saúde, localizado no Barreiro, deve ocorrer com baixa no quadro de médicos. “Eles (médicos) fazem o processo (seletivo), mas não terminam. Com a demora, eles (candidatos) desistem no meio do caminho”, relatou uma das fontes. O setor está fechado desde o início da pandemia, alguns leitos chegaram a ser reabertos em maio deste ano. Procurada, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) admitiu o problema e informou que a expectativa é que unidade seja reaberta ainda este mês.

Na última segunda-feira (4), o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, prometeu que a ala voltaria a funcionar até o fim do mês. Segundo funcionários, a data prevista é o próximo dia 15. Nessa terça-feira (5), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Baccheretti reconheceu a dificuldade de contratação de médicos, mas não mencionou as denunciadas “falhas” no processo. 

Sobrecarga de trabalho

Além da falta de pessoal, uma visita técnica feita por deputados estaduais, em maio deste ano, constatou problemas graves no hospital. A comissão achou servidores sobrecarregados e equipamentos novos e caros, como respiradores e camas elétricas, jogados em uma ala da unidade. A funcionária ouvida pelo O TEMPO espera que os problemas sejam amenizados antes que a “demanda aumente devido aos casos de problemas respiratórios, H1N1, dengue e Covid-19, além dos pacientes atendidos por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)”.

De acordo com a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), a denúncia quanto aos equipamentos e mobiliários são, na verdade, referentes a itens obsoletos que foram substituídos e aguardam destinação para leilão. Já com relação à sobrecarga, a Fhemig admite o problema e informa que, para a reabertura da emergência, está elaborando as escalas do serviço para o início dos atendimentos.

O que diz a Fhemig 

A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que implementou um planejamento para a contratação de profissionais, em especial de médicos, mas alguns não obtiveram sucesso. No entanto, a Fundação alega que todos os processos realizados foram finalizados e as contratações encerradas, na última sexta-feira (1º).

"No momento, a unidade está elaborando as escalas do serviço, realocando equipes internas e fazendo revisão de capacidade de atendimento para a reabertura da porta ainda neste mês de julho", afirmou a fundação por nota. 

De acordo com uma funcionária do hospital, que pediu anonimato, a adesão aos processos de enfermagem e técnicos de enfermagem teria sido grande, diferentemente do procedimento para a contratação dos médicos.  Em junho, quatro chamamentos emergenciais para o Complexo de Especialidades, do qual o HJK faz parte, foram abertos.

A expectativa entre os colaboradores é de que o serviço retorne no próximo dia 15. A funcionária relata que estão sendo feitas reformas no setor, e que as equipes foram reforçadas com novos profissionais. As contratações foram feitas principalmente nos setores de enfermaria. No último mês, colaboradores que estavam no CTI Covid também foram remanejados para a Unidade de Emergência. 

"Sem dúvida, a categoria médica é a que apresenta mais desafios na captação para preenchimento das vagas. Para todas as outras categorias sempre houve inscrições suficientes, que contemplassem o total de oportunidades que estava sendo ofertado. Isso se explica pelo momento de alta demanda destes profissionais, com mercado aquecido e expansão de serviços de saúde, sobretudo durante a pandemia", completou a Fhemig.

O setor do Hospital Júlia Kubitschek teve seus leitos redirecionados para o enfrentamento aos casos da Covid-19 em março de 2020. Apenas o pronto atendimento da Maternidade foi mantido. A decisão foi em pactuação entre a Fhemig e Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). 

Em maio deste ano, deu início a retomada da unidade de emergência. Na ocasião, foi feita a abertura de 30 leitos de atendimento de retaguarda que, historicamente, realiza atendimento de clínica médica adulta. Segundo a Fhemig, o pronto atendimento será reaberto com os mesmos serviços que oferecia antes do fechamento para atendimento à Covid-19. O hospital é referência para uma população de 300 mil pessoas da região do Barreiro e para a Região Metropolitana da capital.

Aumento de casos respiratórios evidencia falta de profissionais

A demanda nos pronto-atendimentos de Belo Horizonte aumentou em função do crescimento de casos respiratórios, nos últimos meses. No Hospital João Paulo II, que é referência no atendimento infantil pelo Sistema Único de Saúde, a alta foi de 144%. A falta de profissionais aumentou também o tempo de espera nessas unidades. Em alguns os casos, os pacientes tiveram que aguardar em torno de 10 horas.

O Sindicato dos Médicos de Minas Gerais apontou que a falta de profissionais tem como explicação principal a precariedade do serviço. Segundo o Sindicato, quem trabalha na rede pública acaba não ficando por conta dos salários e das condições de trabalho.

Em abril, a Prefeitura de Belo Horizonte homologou um concurso para a área de saúde. A abertura foi feita diante da maior demanda por médicos pediatras e psiquiatras na Rede SUS-BH. A nomeação desses profissionais foi classificada como prioridade. Também neste período, a Fhemig também abriu inscrições para processos seletivos no Complexo de Urgência e Emergência. Foram 43 vagas de médicos para os Hospitais João XXIII, Infantil João Paulo II e Maria América Lins.

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