Mesmo tendo que pagar R$ 6,15 pelo litro de gasolina, o engenheiro civil Hudson Correia Santos, 25, morador de Belo Horizonte, é enfático ao responder se deixaria o carro em casa para usar um transporte alternativo: “Nunca mais volto para o ônibus”. A opinião da servidora pública federal Iasca Fernanda Campos, 59, que também mora na capital e já usou transporte coletivo, é semelhante. “Não abriria mão do carro por nenhuma outra opção”, afirma ela. Oferecer alternativas de transporte atrativas o suficiente para convencer esses e outros motoristas a mudarem de opinião é o grande desafio hoje, data em que se celebra o Dia Mundial sem Carro.

A avaliação é da coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), Eveline Trevisan. Segundo ela, ainda não é possível dizer que a cidade é amigável com quem deseja andar de ônibus, bicicleta ou a pé, mas o futuro é promissor. 

“Há alguns anos, eu mesmo estava sem esperança, pois demoramos muito para conseguir avançar na infraestrutura, principalmente para bicicleta. Até 2016 a gente patinava no assunto. Mas a gente conseguiu dar um avanço internamente, na prefeitura, na elaboração de projetos, e temos um volume grande de projetos de ciclovias e faixas exclusivas de ônibus”, conta. Ainda segundo ela, a implantação das iniciativas “vai fazer diferença para BH nos próximos anos”. 

O número de carros da capital é quase o mesmo da população: são 2.274.465 veículos emplacados e 2.530.701 moradores (dados do IBGE, de 2020).

Preconceito

Representante do Nossa BH, movimento de cidadãos da capital que propõe políticas para o município, a educadora Luana Silva Costa, 36, avalia que a cidade precisa superar a barreira do preconceito. “Fazer com que o motorista entenda que se locomover de outras maneiras é um papel integrado é desafio de todos”, avalia.

Segundo ela, há uma “cultura do carro” que é muito difícil de ser vencida, pelo conforto e possibilidade de chegar mais rápido, mas é preciso atuar de maneira educativa para promover uma cultura que pense no coletivo, e não só no individual. “É um caminho longo, mas que precisar ser percorrido por todos nós”, defende.

Ela concluiu que o motorista precisa se sentir atraído: "Se optar pelo transporte público, o ideal é que seja rápido, seguro e confortável. Se a escolha é caminhar, que as calçadas sejam atrativas e seguras. E, se ele for de bicicleta, que a estrutura seja adequada”.

Faltam integração e ciclofaixas

Deixar o carro na garagem e optar pelo transporte de bicicleta é uma decisão corajosa, tendo em vista que Belo Horizonte ainda não é uma cidade amiga do ciclista. A avaliação é de Augusto Schimidt, 29, representante do coletivo BH em Ciclo, que aponta problemas na infraestrutura da cidade. “Belo Horizonte tem uma demanda muito grande por projetos que integrem o uso da bicicleta com outros modais, como o ônibus. E a estrutura atual não atende a todos”, explica o ciclista. 

Uma das demandas do grupo é pelo cumprimento da meta de implantar quatro novos bicicletários nas estações de ônibus até o fim da atual gestão. “Onde há essa estrutura com qualidade, as pessoas usam. Os bons bicicletários ficam cheios”, observa Schimidt.

O grupo também cobra mais ciclofaixas exclusivas na capital mineira.

Passeata em BH e “aulão” marcam data 

Alguns eventos programados em BH por ocasião do Dia Mundial Sem Carro prometem elevar a consciência da população. Na estação Vilarinho, das 9h às 11h, a BHTrans vai apresentar mensagens educativas referentes à segurança no trânsito.

A partir das 19h30, na praça da Estação, no centro, vai acontecer o #BHPedala. Um grupo de ciclistas vai se reunir em um trajeto pela cidade, com o intuito de incentivar o uso da bicicleta. Em alguns pontos do trajeto, vão ser distribuídos panfletos com conteúdos educativos sobre o tema.

No mesmo horário, o Movimento Tarifa Zero vai promover um “aulão” online, no qual vão ser repassadas informações sobre a CPI da BHTrans, que apura irregularidades em contratos e serviços. O grupo vai discutir soluções possíveis para o sistema de ônibus em Belo Horizonte. 

 

 

NÚMEROS

A capital mineira é a terceira cidade do Brasil com o maior número de veículos emplacados, atrás apenas de São Paulo, a primeira da lista, e Rio de Janeiro, o segundo município no ranking, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano passado. 

Há dez anos, a cidade tinha 1.438.723 veículos emplacados. Hoje em dia, são 2.274.465 – a frota cresceu 58%. Cerca de 70% dos veículos são carros.

Como são 2.530.701 moradores, a capital mineira tem 0,89 veículo por habitante.