Pouco mais de dois meses após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, roupas, material escolar, kits de higiene, galões de água e alimentos doados a atingidos continuam estocados e sem um destino adequado nos galpões da cidade. De acordo com a prefeitura do município, só de roupas são mais de duas toneladas, que foram recebidas.
Na última quarta-feira, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) fez uma vistoria nos quatro locais que atualmente armazenam os donativos e determinou que eles sejam encaminhados aos atingidos pela tragédia o mais rápido possível. A prefeitura por sua vez alega falta de estrutura para lidar com a quantidade de material.
Além disso, o promotor Wagner Freitas de Moraes Júnior fez uma recomendação à prefeitura, que terá 48 horas, a partir da notificação, para retirar o material estocado na Escola Municipal Maria Coeli. Segundo ele, as condições de armazenamento do local estão ruins. Ainda na recomendação, Wagner Júnior afirma que as doações pertencem às vítimas da tragédia, mesmo que elas estejam em outros municípios, aldeias indignas e comunidades quilombolas.
De acordo com Moraes, uma vez que a necessidade de todos os atingidos sejam atendidas e ainda sim sobrarem doações, a prefeitura poderá convocar um chamamento público para organizações sociais interessadas.
“O município tem tido dificuldades com o gerenciamento das doações, em razão do volume de bens, e por ausência de voluntários. Infelizmente, é normal neste tipo de situação que, após um certo tempo, o numero de voluntários diminua”, afirmou o promotor.
Um moradora que não quis se identificar reclamou da burocracia para a liberação dos donativos. “Temos galpões lotados, enquanto do lado de fora muita gente passa necessidade. É injusto”, afirma a mulher.
Triagem é necessária
Apesar da grande quantidade de roupas recebidas, nem todas estão em condições de uso, segundo a Secretária de Desenvolvimento Social de Brumadinho, Christiane Passos. Ela explica que, em meio às doações estão peças sujas e sem nenhuma condição de uso.
“Tem muitas coisas boas, mas, infelizmente, algumas estão muito sujas e até mofadas. Há doações que já vieram vencidas. Foram muito importante e só podemos repassá-las para os atingidos. Estamos lavando, fazendo triagem, mas faltam pessoas. A cidade estava cheia de voluntários, agora não são tantos mais”, explicou a secretária. Ela disse que as doações continuam sendo feitas.
"Todo o nosso trabalho está seguindo os protocolos e sendo fiscalizado pelo Ministério Público. Infelizmente não dá pra sair atropelando as fases do processo. Buscamos trabalhar com zelo e transparência e com isso estamos conseguindo o apoio das autoridades para superar os efeitos gerados pós tragédia no Município. Estamos empenhados para reerguer nossa cidade e assistir os atingidos”, completou.