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Educação presente no dia a dia

Escolas transformadoras de BH mudam rotina de alunos com projetos e comunidade próxima

Por Jhonny Cazetta
Publicado em 20 de junho de 2016 | 03:00
 
 
 
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Ao menos duas vezes na semana é dia de excursão para alguns alunos da Escola Municipal Paulo Freire. Mas nada de ônibus e visitas a museus ou zoológicos, como normalmente acontece na maioria das escolas pelo Brasil. Em uma caminhada de 30 minutos, eles rodam pelas ruas estreitas do bairro Ribeiro de Abreu, na região Nordeste de Belo Horizonte, até uma das nascentes do ribeirão do Onça. Lá, sob a orientação de monitores e da líder comunitária Julia Machado, 63, eles se dividem para aguar plantas e tirar o lixo do local na tentativa de revitalizar a mata ciliar.

“Tem que nascer as plantinhas para proteger a água que a gente bebe. Tem gente que faz muita sujeira, e isso não pode, não. Porque suja todo o meio ambiente, e a água fica muito fedorenta”, explica Vinícius Gonçalves, 10, enquanto conta que, durante um passeio, chegou a pegar inúmeras garrafas PET jogadas pelo local.

A Paulo Freire é uma das duas únicas instituições da capital a integrarem a lista das 12 escolas transformadoras do Brasil, feito pelas organizações Alana e Ashoka. As unidades são destaques pelos projetos extraclasse que desenvolvem.

Para a monitora Adalgiza Côrrea, além de contribuir para a nascente do ribeirão, a atividade transforma a mentalidade das crianças em relação à preservação ambiental. “Quando chegam aqui, muitos não sabem as consequências que se pode ter ao jogar um lixo em lugares inapropriados, e essa ida deles serve para verem essas consequências. E eles também contam tudo para seus familiares”, diz.

Muitos estudantes têm aproveitado para recolher materiais recicláveis, seja para ganhar um dinheirinho com a venda ou para fazer artesanato e/ou brinquedos. “Minha mãe ajudou a montar um caminhãozinho. Era para um trabalho da escola, mas utilizo ele para brincar também”, conta Flávio Júnior Medeiros, 9.

Além de idas semanais às nascentes do rio, os alunos da escola também ajudam a plantar uma horta que fornece parte da merenda. Entre as verduras e legumes estão taioba, cenoura e alface.

“Eles mesmos acabam aprendendo a plantar, e, na casa de muitos deles, a gente ajuda a fazer uma hortinha parecida também”, revela a diretora Maria do Socorro. 

Silêncio

Entrevista.  A Secretaria de Educação da capital não se posicionou sobre as escolas.

Outros projetos

Escola Municipal Anne Frank. Entre os projetos desenvolvidos na escola, está o Feminicídio e Ditadura NÃO!, no qual os alunos montam uma exposição para chamar atenção sobre a questão da morte de mulheres. Outro deles é o STI: Somos Todos Iguais, que trabalha a questão do racismo com os alunos. 

Escola Municipal Paulo Freire. Entre as iniciativas dessa instituição estão oficinas de artesanato, culinária, capoeira, brincadeiras populares, musicalização, jogos, leitura e aulas de teatro. 

História de bairro se torna livro

Conhecer a história do local onde moram é um dos novos desafios dos estudantes da Escola Municipal Anne Frank. Desde o mês passado e com o apoio de estudantes de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os alunos estão entrevistando os moradores do bairro Confisco, na Pampulha, em Belo Horizonte, para relatarem os casos em um livro em quadrinhos.

“Acho que é interessante os alunos conhecerem mais profundamente sobre o lugar em que eles vivem. Muitos, por aqui ser um lugar periférico da cidade, acham que a localidade é de pouca importância, mas eles estão descobrindo que não é. Só assim, com esse conhecimento, acho que eles irão poder modificar para melhor o bairro”, destacou o professor de história Moacir Fagundes de Freitas.

Uma das entrevistadas pelos alunos é a aposentada Maria das Graças Silva, 70, uma das primeiras moradoras da localidade. “O bairro surgiu a partir de uma ocupação na igreja São José, no centro da cidade, no fim dos anos 80. Para dar uma resposta, o governo confiscou essa área em que estamos hoje e nos jogou aqui, mas sem nenhuma estrutura. E fomos nos desenvolvendo por conta própria mesmo”, contou ela, que também é uma das idealizadoras do projeto.

Antes da confecção do livro em quadrinhos sobre a história do bairro, os alunos também realizarão uma exposição com fotos antigas e atuais do lugar. (JC)

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