Membros do grupo de educadores e pais de alunos que instalou outdoors por Belo Horizonte reuniram-se com o comitê de enfrentamento à pandemia da capital nesta sexta-feira (11). Eles cobraram que a prefeitura divulgue ainda neste ano a data de retorno para as aulas presenciais facultativas e que, se for preciso, suspenda outras atividades na cidade para reabrir as escolas até fevereiro de 2021. O comitê não fez promessas no encontro, mas os participantes dos dois lados dizem ter iniciado um diálogo de negociação. 

Na reunião, segundo membros do comitê de enfrentamento à pandemia e do grupo de pais e educadores, foi informado pela prefeitura que as escolas públicas do município já têm condições estruturais de receber alunos e que os primeiros que devem retornar às atividades tendem a ser os menores de 12 anos. As aulas ainda não teriam sido retomadas, entretanto, devido ao cenário epidemiológico de agravamento da pandemia na cidade. 

O argumento do grupo de pais e educadores é que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA tem declarado que as escolas são os locais mais seguros para as crianças durante a pandemia e que deveriam ser uma prioridade de reabertura. Nas últimas declarações do órgão sobre o tema, ele já não cita que uma faixa segura para o retorno seria a média de no máximo 20 novos casos confirmados de Covid-19 por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. 

A prefeitura fia-se nesse índice, apontado inicialmente pelo CDC, para definir quando as escolas serão reabertas. Hoje, ele é quase cinco vezes maior do que o estabelecido, chegando a 99,4. Na perspectiva do infectologista Estevão Urbano, membro do comitê municipal, basear-se nessa taxa continua sendo um parâmetro válido para Belo Horizonte, e o comitê ainda não poderia definir uma data de retorno às aulas com o número atual, considerado alto por ele. 

“Estamos vivendo quase um novo pico. Nesse nível de situação que temos hoje, não é possível voltar. Se nos mantivermos assim pelos próximos dois meses, não dá para bancar início de aula até o pico abaixar. Mas, não necessariamente, precisamos chegar aos 20 casos por 100 mil habitantes”, diz. Ele sinaliza que é possível reabrir as escolas com um índice superior ao estabelecido em princípio, porém isso ainda será discutido ao longo do tempo e não foi oficializado pela prefeitura. 

A advogada Luciana Dadalto, 36, mãe de um estudante de cinco anos e uma das representantes do movimento de pais, cobra que a abertura das escolas seja priorizada pelo poder público e que, se a prefeitura insistir em chegar aos 20 casos por 100 mil habitantes, faça o que for necessário para isso ocorrer até fevereiro de 2021, inclusive fechar outros setores da economia. 

“Reconhecemos que muitos setores estão sofrendo, mas as crianças já deram sua contribuição à sociedade, deram mais de dez meses sem escola. Agora, é hora de a sociedade dar sua contribuição às crianças. Não queremos sacrificar nenhum setor que está sacrificado, mas é preciso entender a prioridade. A escola tem que ser a primeira (a abrir)”, argumenta. 

Urbano elabora que a abertura e o fechamento de cada setor depende dos números da pandemia e que a dinâmica pode mudar ao longo do tempo. “Se tiver que fechar escola ou boteco, o boteco tem mais risco (de transmissão). Mas a ideia de que tem que fechar tudo e deixar só as escolas abertas é radical. As escolas, aparentemente, não são o pior dos mundos para transmissão da Covid-19, mas, para abri-las, temos que ter uma sirtuação epidemiológica melhor que a de hoje”, destaca.   

Ele pontua que, em setembro e outubro, quando o comitê de enfrentamento à pandemia cogitava permitir o retorno das aulas, uma pesquisa realizada pela prefeitura revelava que cerca de 74% da população eram contra a retomada das atividades presenciais — o número foi citado pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) em uma coletiva de imprensa, na qual ele não deu mais detalhes sobre o estudo.