Descaso

Esgoto polui Várzea das Flores e espalha mau cheiro em bairro de Contagem

Dejetos são jogados em córrego, do bairro Icaivera, e vão parar no importante reservatório de água

Por Anderson Rocha
Publicado em 28 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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O esgoto despejado em um córrego no bairro Icaivera, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, está dificultando a vida de moradores da região. O mau cheiro tira o sono e o paladar, e a água suja corre e cai, sem tratamento, na represa Várzea das Flores – um dos principais reservatórios de água para abastecimento de Contagem, Betim e parte de Belo Horizonte.

Os dejetos estariam vindo de bairros como Darcy Ribeiro, Santa Filomena, entre outros, todos em Contagem. Segundo moradores, a Copasa já foi chamada ao local por diversas vezes nos últimos anos, mas o problema não é solucionado.

“De 18h em diante, o odor é absurdo em casa. Às vezes, estou jantando e perco até o apetite, porque é forte”, contou o bombeiro hidráulico Cefas Teixeira da Silva, 52, morador do Icaivera há duas décadas. Conforme o bombeiro hidráulico, a realidade piorou com a ampliação do bairro vizinho. “Fizeram a rede de esgoto do Nazaré, mas começaram a despejar aqui. Ou seja, não adiantou nada”, disse. 

O vereador por Betim Layon Silva (PSL) tem usado as redes sociais para chamar a atenção para impasses. “Nossa indignação é em fazer a defesa da Várzea das Flores. Aquelas instituições que deveriam fazer o tratamento da água, que é fonte da vida, têm jogado todo o esgoto recolhido de vários bairros nesse curso d’água, que é um importante manancial da Várzea. Temos que dar uma resposta aos moradores. Isso é um pedido de socorro”, pontuou. 

Questionada sobre os problemas no local, a Copasa se limitou a informar que uma equipe técnica da empresa irá, hoje, ao bairro Icaivera para “verificar a situação e tomar as providências cabíveis”. Já a prefeitura de Contagem declarou que, embora a responsabilidade pela gestão do esgoto seja “totalmente da Copasa”, vai mandar uma equipe no local.

A gestão municipal ainda disse que atua, por meio de fiscalizações ambientais e de vigilância sanitária, e que pode notificar casos de ligações incorretas de esgoto na rede da Copasa.

"No entanto, isso só é possível a partir de apresentação, por parte da Copasa, de um mapa de rede que comprove as ligações na região ou microbacia”, disse a nota.

“BH bebe esgoto tratado”, diz especialista
 
O despejo de esgoto em qualquer área é, na análise da ambientalista Simone Bottrel, coordenadora da Associação para a Recuperação e Conservação Ambiental (Arca AmaSerra), um absurdo ainda recorrente em 2022. 

Segundo a especialista, toda a gestão ambiental deveria estar voltada para devolver a água usada já tratada ao meio ambiente. “A gente tem um sonho de que os rios sejam de classe 1, ou seja, de água que possa ser bebida. E não uma água que seja esgoto. O fato é que Belo Horizonte bebe esgoto tratado. A gestão da Várzea precisa ser melhor cuidada pela prefeitura e pelo Estado”, analisou. 

Para uma das coordenadoras do Movimento SOS Várzea das Flores, a professora Adriana Souza, a Copasa tem falhado tecnicamente. “Parece uma política deliberada do governo estadual em sucateá-la, até para ‘justificar’ uma possível privatização. O lançamento de esgoto pode causar um dano ambiental irreversível”, declarou a coordenadora.

O SOS Várzea das Flores informou ainda que a organização denunciou o caso do esgoto no córrego da rua Sema e que vai acompanhar os próximos passos no local. A reportagem procurou o governo de Minas, mas não tinha obtido retorno até o fechamento desta edição

 

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