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Estado lança vídeo emocionante por respeito à diversidade sexual

Vídeo lançado nesta quinta é direcionado a todas as famílias mineiras para fortalecer a luta no combate à LGBTfobia

Por JULIANA BAETA
Publicado em 14 de julho de 2016 | 11:10
 
 
 
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Um vídeo lançado na manhã desta quinta-feira (14) pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac) não tem o objetivo de chocar a tradicional família mineira, mas dialogar com ela. Ele faz isso retratando, em cerca de 1 minuto, 50 anos na vida de uma família do interior de Minas e é protagonizado por uma mulher transexual.

Lançado às 10h no Memorial Minas Gerais Vale, o vídeo "O Amor Transforma Preconceitos" toca direto na mineiridade de cada um, independente de religião, orientação sexual ou identidade de gênero.

É que o cenário escolhido, a cidade de Piranga, na Zona da Mata, retrata em detalhes o interior de Minas, com direito a galo cantando pela manhã, leite tirado na hora, mocinha namorando na janela, crianças brincando em chão de terra e café quentinho. Tudo isso costurado pelos versos da música "Quem sabe isso quer dizer amor", de Lô Borges e Márcio Borges, do Clube de Esquina, que acabam guiando o desenvolvimento da história de Jussara desde a sua infância, quando, ainda em um corpo de menino, começava a se descobrir como mulher.

A personagem é vivida pela maquiadora, gestora e ativista Laura Zanotti, de 31 anos que, como mulher transexual traz verdade ao vídeo, principalmente por retratar uma história que não é muito diferente da dela e de tantas outras travestis e transexuais.

"Me senti lisonjeada por ter sido chamada para participar e me emocionei durante as gravações, porque muito do que está ali é o que aconteceu comigo, principalmente na infância, e que é ainda a realidade de muitas trans e travestis. Acredito que a grande maioria de nós foi representada nesta história", conta.

Não é necessário estar na pele de uma transexual para sentir o que o vídeo mostra, porque a mensagem principal, de que "o amor rompe barreiras" é assimilada por todas as pessoas, independente da identidade de gênero ou orientação sexual. "Falar da cor dos temporais, do céu azul, das flores de abril" é recorrente pra quem nasce no Estado, assim como deve ser o respeito à diversidade sexual. O caminho, como sugere o vídeo, é seguir a canção e "pensar além do bem e do mal", lembrando que o mundo continua sempre a rodar e que "em cima dele tudo vale". Especialmente quando isso quer dizer amor.

Armário no interior

Como explica o coordenador especial de Políticas de Diversidade Sexual da Sedpac, Douglas Miranda, o roteiro do vídeo foi pensado na dificuldade que encontram homossexuais, transexuais e travestis, quando se descobrem em uma cidade pequena, onde todo mundo conhece todo mundo e os julgamentos são direcionados.

"O vídeo institucional dialoga com a população mineira e tem o olhar muito voltado para as pequenas cidades do interior, para mostrar que não existe preconceito só nos grandes centros urbanos. As pessoas tem que ser respeitadas em todo o Estado de Minas Gerais. Se você observar, nas cidades pequenas é mais difícil se esconder no armário, porque as pessoas são mais próximas, todo mundo se conhece. Por isso essas pessoas acabam migrando pras cidades grandes, como Belo Horizonte e Uberlândia, onde conseguem se diluir na população", explica.

Muitos atores presentes no vídeo são da própria cidade de Piranga, outra estratégia para criar identificação e trazer verdade à história, além de prestigiar a comunidade que acolheu a produção. "É um vídeo leve, curto, que mostra que a construção da família na sociedade pode ser muito mais colorida e respeitosa. A única coisa que a população LGBT pede é respeito. Respeito ao poder frequentar uma escola, a ter acesso à saúde, um emprego, uma família".

Por isso, o vídeo mostra a transição de uma família do interior, com tudo o que isso envolve, como a agricultura familiar em Minas Gerais, o conservadorismo e até a normatividade presente no contexto da história. A conciliação disso com o respeito à diversidade sexual é possível e acontece no fim do vídeo.

"A gente quis mostrar essa sociedade ainda muito conservadora e com pensamentos cristãos muito enraizados, mas que isso não é o problema. A religiosidade também deve ser respeitada. O problema é como muitas destas pessoas lidam com o olhar de sua religião frente ao prejuízo dos demais. O que a gente não quer é que os fundamentalistas utilizem a ideia da bíblia para construir o ódio, mas que seja possível conviver com a diversidade na nossa tradicional família mineira", conclui Miranda.

A produção, que tem como objetivo promover o respeito à diversidade sexual, faz parte da “Livres & Iguais”, campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) pela igualdade LGBT, e conta com a parceria da embaixada do Reino dos Países Baixos no Brasil.

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