Covid-19

Estudo com plasma é esperança no combate ao coronavírus

Estratégia reduziu em 50% taxa de mortalidade da gripe espanhola em 1918

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 28 de março de 2020 | 14:47
 
 
 
normal

Pesquisadores tentam salvar as vidas de infectados pelo Covid-19 por meio de plasma de sobreviventes do novo coronavírus. Na sexta-feira (27), a Associação Médica Americana (maior associação de médicos dos Estados Unidos)  divulgou um estudo feito no Hospital de Shenzhen, na China, que mostrou resultados positivos na utilização da tática em cinco pacientes com a doença. A publicação da pesquisa aconteceu na mesma semana em que a Food and Drug Administration, a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, deu aval para solicitação do uso de plasmas para transferência de anticorpos a pacientes em estado grave naquele país. 

    Para a realização do estudo, cinco pacientes na China com quadro de coronavírus confirmado receberam transfusões do chamado plasma convalescente e tiveram o quadro avaliado entre os dias 20 de janeiro e 25 de março deste ano. Os doadores de plasma têm entre 18 e 60 anos e, apesar de terem atestado positivo para o novo coronavírus, estavam sem sintomas da doença em um prazo de pelo menos dez dias antes da retirada do sangue.  

O tratamento com plasma se baseia na premissa de que, como um sobrevivente desenvolveu anticorpos ao longo da infecção, doações de sangue deles para novos doentes serviriam como vantagem ao sistema imunológico dos pacientes. A estratégia foi utilizada durante a pandemia da gripe espanhola de 1918 e reduziu a taxa de mortalidade da doença em até 50% entre os que receberam a transfusão.

    Os cinco pacientes que receberam a doação de plasma apresentaram redução da carga viral e melhora no quadro clínico em poucos dias de tratamento, conforme avaliação da imagem torácica e acompanhamento da temperatura corporal. Além disso, a quantidade de anticorpos neutralizantes do Covid-19 aumentou significativamente após a transfusão do plasma. 

Apesar do resultado positivo, os próprios pesquisadores ponderaram que novos estudos precisam ser realizados para uma conclusão. É que a amostra, de apenas cinco pacientes, foi limitada para uma afirmação mais definitiva sobre a eficácia do tratamento. 

Enquanto os estudos avançam, a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos se prepara para a possível utilização do método em larga escala no país com a publicação de um protocolo para direcionar os tratamentos. O órgão delimitou padrões para a definição de doadores e dos destinatários e ponderou em comunicado recém-divulgado: “Embora promissor, o plasma convalescente não demonstrou ser eficaz em todas as doenças estudadas. Portanto, é importante determinar, através de ensaios clínicos, antes da administração rotineira de plasma convalescente em pacientes com Covid-19, que é seguro e eficaz fazê-lo”. 

No Brasil, o uso do método contra o novo coronavírus ainda está longe de ser uma realidade, como explica o infectologista e membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia de Belo Horizonte, Carlos Starling. “Isso é uma estratégia que ainda está em pesquisa e não é viável em larga escala. Porque é preciso um investimento grande na tecnologia para que possamos purificar o soro a ser aplicado. É um processo complicado de ser feito ainda mais em meio a uma pandemia”, explica.

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!