BH

Expansão de espetinhos no Lourdes não tem agradado

Dois novos bares do tipo serão inaugurados, e em ambos teriam sido afixados cartazes contrários ao negócio

Por aline diniz /Joana Suarez
Publicado em 17 de outubro de 2015 | 03:00
 
 
 
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Cartazes que teriam sido colados em imóveis onde serão instalados espetinhos no bairro Lourdes, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, substituindo restaurantes, diziam que aquele “tipo de estabelecimento” não era bem-vindo porque iria empobrecer o bairro e insinuavam que os produtos que serão vendidos lá são de má qualidade. Os donos dos bares não lembravam exatamente as palavras escritas nesses papéis, que já foram retirados, mas a iniciativa, cuja procedência ninguém sabe, foi uma surpresa.

“Eu só quero trabalhar em paz. Tenho seis anos de mercado, não faço nada ilegal. Tenho minha fábrica (de espetos), com refrigeração. Trabalho 12 horas por dia”, contou Junior Machado, que irá inaugurar sua quarta casa “O Rei Espetinhos”, na rua Curitiba. As outras são nos bairros Prado, na região Oeste; Floresta, na Leste; e Anchieta, também na Centro-Sul. Essa nova unidade de espetos, ainda em construção, ocupará o imóvel onde era um restaurante de alta gastronomia contemporânea.

O mesmo cartaz teria sido colado no estabelecimento Alvarenga, na rua São Paulo, que está acertando os últimos detalhes para abrir, na semana que vem. Esse estabelecimento é definido como cervejaria com tira-gostos, dentre eles o espetinho. Ele irá ocupar o espaço do restaurante Atlântico, que fechou em agosto último após oito anos de mercado especializado em peixes. “Temos 40 rótulos nacionais e internacionais de cervejas. O nosso alvará vale até setembro de 2020. Vamos gerar 13 empregos e estamos na contramão do Brasil”, disse Alexandre Chaves, um dos sócios.

Os espetinhos, porém, têm sido malquistos nos bairros onde eles fazem muito sucesso, principalmente às quintas-feiras, apesar de ninguém saber explicar o porquê de ser esse dia. E o motivo da “rejeição” é a multidão de jovens que toma as ruas para beber e comer carne no palito. A lógica dos espetos, que vendem fichas de cerveja e comida antes do consumo, atrai muita gente e acaba por incentivar que as pessoas fiquem em pé e do lado de fora dos bares.

No Lourdes, já funcionam há cerca de seis meses dois espetinhos, a poucos quarteirões desses novos. Os dois costumam lotar as calçadas e as ruas com um público animado, que faz até festa de despedida de solteira, como aconteceu nesta quinta em um deles. A Associação de Moradores do Lourdes (Amalou) já tem um acordo há quatro anos com os 50 bares e restaurantes do bairro, mas tem dificuldades com esses novatos. “O acordo é que todos devem retirar mesas das calçadas às 23h em dias de semana (de segunda-feira a quinta-feira) e à 1h às sextas e nos fins de semana.

Mas os espetinhos não estão respeitando. Eles dizem que param de vender fichas às 23h, mas o pessoal continua bebendo e na rua”, disse Jeferson Rios, presidente da associação.

Uma reunião foi feita no início deste mês com moradores, donos e a Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG) na Regional Centro-Sul. Foram dados 30 dias para eles se adequarem às regras, e uma nova reunião será marcada em breve. 

Resposta
Geral
. A Regional Centro-Sul informou que fiscaliza regularmente estabelecimentos comerciais de forma preventiva e em atendimento a denúncias, mas não falou sobre a situação específica no Lourdes. 

Saiba mais
Proprietários
. A reportagem não conseguiu entrar em contato com os donos dos espetinhos já em funcionamento no Lourdes.

Recomendação. A Abrasel-MG orienta que os bares cumpram a Lei do Silêncio e o Código de Posturas na utilização de calçadas. Segundo a associação, alguns bares contratam até fiscal do silêncio para ajudar nisso.

Pesquisa. Levantamento feito pela Abrasel no Lourdes, em 2014, mostrou que 80% dos pesquisados (moradores) aprovavam e utilizavam os bares.

Moda passa, avalia Abrasel-MG

A moda dos espetinhos no bairro Lourdes, na avaliação da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), deve passar daqui a algum tempo, e o público, normalizar-se. Mas a empresária Cristiane Mourão, 35, não quer esperar. Ela vai se mudar do bairro para um condomínio fechado. “Tenho filhas pequenas, de 2 anos e de 8 meses, e moro no meio dos bares. Sou contra o excesso. Acho que deveriam ficar até certo horário, porque é muito barulho e pessoas bêbadas”, desabafou.

Diretor executivo da Abrasel-MG, Lucas Pêgo diz que o consumidor de Belo Horizonte gosta de novidades. “Tudo que é novo aqui lota. Teve uma época em que tínhamos cem temakerias, hoje temos menos de dez. Somos 18,6 mil estabelecimentos dos mais diversificados, e o mercado é acirrado”, afirmou.

Em agosto, O TEMPO fez uma reportagem mostrando a venda de espetinhos e de cervejas, principalmente perto de uma faculdade, que tornou-se receita infalível para o sucesso no mercado. O pioneiro nesse tipo de comércio está no bairro Prado, na região Oeste, próximo à faculdade Estácio de Sá, há mais de cinco anos. “Hoje, esses espetinhos precursores ficam cheios, mas não causam problemas. Por isso, fazemos uma leitura que a aglomeração é momentânea, mas não sei quanto tempo vai durar”, completou Pêgo.

No Lourdes, os moradores estão divididos em relação a essa novidade. Enquanto muitos reclamam do barulho, outros comemoram. Eglayr Passini, 77, gosta e diz: “Onde tem bar não tem padrão. Eu gosto de gente”. Jovina Imaculada Bravo, 86, também ressalta a movimentação. “Quanto mais bares, melhor”.

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