Artesanato, cultura, gastronomia e lazer. Há seis meses, os agitados domingos na avenida Afonso Pena, na região Central de Belo Horizonte, deram lugar à calmaria e à saudade. Por conta da pandemia do coronavírus, os expositores da Feira Hippie tiveram que interromper os trabalhos e, com isso, vieram as dificuldades. Nesta semana, a prefeitura chegou a apresentar uma proposta de retomada, mas que limita a 50% o número de barracas por final de semana.
O protocolo não agradou a categoria, que promoveu um protesto na tarde desta terça-feira (15) na porta do Executivo municipal – eles querem o retorno de 100% das barracas com os protocolos de segurança sugeridos previamente por eles à prefeitura. Ao todo, quase 350 pessoas participaram do ato e pediram que o poder público permita que todos possam expor seus produtos nos domingos. Entre as justificativas, estão os problemas financeiros agravados nos últimos meses e o número de pessoas que devem retornar: dos 1.700 trabalhadores cadastrados antes da pandemia, 1.100 vão conseguir voltar a expor.
Como muitos profissionais são do grupo de risco e outros não possuem mais condições de comprar as mercadorias para fazer os produtos, o número de feirantes estará reduzido. Já a prefeitura quer que 850 barracas sejam instaladas a cada domingo. Membro da comissão paritária da feira, Sandra Mariana, que expõe no local há 40 anos, lembra que o grupo chegou a enviar um protocolo de retomada para o poder público.
"Quando fomos entregar, já vieram com essa proposta. O nosso protocolo foi muito bem feito, apresentamos uma série de medidas sanitárias para evitar as aglomerações e garantir a segurança dos frequentadores", conta. Entre as sugestões, estão a instalação de grades nos pontos de entrada do evento, com medição de temperatura, além do fechamento do Parque Municipal para evitar mais pessoas no entorno.
Outro ponto que os feirantes apresentaram é o aumento do espaço para a exposição dos produtos, antes limitado entre a rua da Bahia e a avenida Carandaí, o que garantiria o distanciamento entre as barracas. "Levamos a proposta da prefeitura e a maioria do pessoal não quer aceitar. Estamos seis meses sem trabalhar e na hora de voltar, querem que as pessoas participem da feira de 15 em 15 dias. Tem outros que até aceitam por conta das dificuldades que estão vivendo", afirma.
A manifestação pela retomada foi pacífica e interditou parcialmente o trecho da avenida Afonso Pena. Conforme a dirigente, os feirantes também criticaram a proposta para deslocar a área de alimentação para a rua Goiás, um quarteirão acima do tradicional espaço.
Problemas emocionais
Sem trabalho e condições de vender os produtos através das redes sociais, Sandra Mariana contou que muitos feirantes desenvolveram problemas psicológicos durante a pandemia. "Teve muita gente que ficou com depressão, outras até sofreram infartos. A feira existe há mais de 50 anos e nunca passamos por isso. É uma tristeza enorme", acrescenta.
Em nota, a prefeitura informou que a alternância dos feirantes a cada domingo foi feita "com base nos parâmetros de distanciamento social colocados pela vigilância. A comissão paritária está avaliando a proposta e, junto com a PBH, fazendo um censo para apuração do número de feirantes que querem retornar durante a pandemia".
Segundo o Executivo municipal, caso seja constatada uma queda expressiva no número de feirantes que vão retornar ao trabalho, pode ser elaborada uma proposta em que seja possível o funcionamento do evento "sem a alternância". Ainda não há previsão para o retorno das atividades.