Drama

Falta de insumos hospitalares atinge 90% dos 300 maiores municípios do país

Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), 768 cidades do país registram filas por leito de UTI

Por Letícia Fontes
Publicado em 12 de abril de 2021 | 17:32
 
 
 
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A falta de insumos hospitalares atinge 90% dos 300 maiores municípios do país. De acordo com o presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Jonas Donizette, há escassez de produtos considerados básicos, como luvas e fraldas geriátricas. Em audiência pública, nesta segunda-feira (12), na Comissão Temporária do Senado, que debate a Covid-19, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Glademir Aroldi, afirmou que a situação nunca foi tão dramática. 

"Pelo menos 38% dos prefeitos relataram que o hospital de referência de sua região estava em risco iminente de ficar sem medicamentos do chamado kit intubação. O levantamento aponta que 18% dos prefeitos relataram risco iminente de falta de oxigênio, enquanto 25% dos gestores afirmam haver pacientes em seus municípios aguardando leitos de UTI. Pelo menos 26% dos gestores relataram também falta de leito nas UPAs. Isso é extremamente preocupante", destacou. 

De acordo com a pesquisa realizada pela confederação, atualmente 768 municípios do país registram filas por leitos de UTI e 1.207 cidades indicam risco iminente de falta de remédios. 

Para Jonas Donizette, o problema está acontecendo por culpa do governo federal, que teria se negado a comprar, em setembro, os itens para o chamado kit intubação. Na época, segundo Donizette, o Executivo federal alegou aumento de 10% nos preços. Porém, agora, com o agravamento da crise, o kit intubação aumentou quase 1.000% no mercado. “Começamos a ter relatos de falta de avental, óculos de proteção e fralda. As dificuldades vão se multiplicando. Na virada do ano, é como se a pandemia tivesse deixado de existir para o governo. Os municípios ficaram praticamente sozinhos”, ressaltou. 

Na última semana, o governador Romeu Zema (Novo) chegou a alertar que algumas regiões mineiras só possuíam estoques do produto para até dois dias. "Estamos correndo risco de pacientes intubados acordarem por falta de sedativos e isso não pode ocorrer de forma nenhuma", declarou na ocasião.

Uma das causas do agravamento do problema, segundo Zema, é que o Ministério da Saúde teria requisitado toda a produção industrial desses medicamentos, que além de manter o paciente sedado ajuda a relaxar os músculos para que a ventilação mecânica seja eficiente. 

Ritmo de vacinação
De acordo a Confederação Nacional dos Municípios, os municípios brasileiros possuem estrutura e capacidade para aplicar 1,5 milhão de doses de imunizantes contra a Covid-19 por dia, podendo ampliar rapidamente a velocidade da vacinação no país, desde que haja imunizantes.

No entanto, segundo o presidente da Federação Nacional dos Prefeitos (FNP), Jonas Donizette, prefeitos têm visto dificuldade na compra de vacinas por falta de oferta. Atualmente, mais de 300 consórcios municipais se organizaram para aquisição de imunizantes. 

“Não queremos concorrer com o Ministério da Saúde, inclusive vamos nos reunir com a pasta para fazer uma harmonização de procedimentos para conseguir mais vacinas. Mas a verdade é que a aquisição está muito difícil”, afirmou. 

“Não conseguem comprar porque não tem oferta”, acrescentou Aroldi, que rebateu acusações de que municípios estariam fazendo estoque de vacinas. “A incerteza sobre novas entregas também nos obriga a isso. Nas últimas semanas, ficou claro que o ritmo de vacinação é determinado exclusivamente pela oferta de imunizantes. Quando tivemos, há uma semana, a disponibilidade de um número maior de vacinas, chegamos a vacinar um pouquinho mais de 1 milhão de pessoas por dia. Hoje o número caiu. Por que o número caiu? Porque não existe vacina nos postos de saúde dos municípios. Reduzimos para 250, 300 mil pessoas vacinadas por dia", completou. 

O presidente da CNP afirmou ainda que o problema está na falta de uma coordenação nacional. “Isolados, os gestores locais não conseguem fazer frente às medidas necessárias para sair do pico da pandemia. Estamos apenas enxugando gelo”, pontuou. Segundo ele, mais de 70% das cidades adotaram algum tipo de medida como toque de recolher, restrições em fins de semana e suspensão de aulas presenciais.

Próximos passos

Após a reunião desta segunda-feira (12), a Comissão Temporária da Covid-19 no Senado aprovou um requerimento para que senadores possam visitar fábricas de imunizantes veterinários que poderiam ser utilizadas na produção de vacinas contra a Covid-19.

Os senadores também aprovaram a realização de uma audiência pública para buscar ajuda internacional para o Brasil. Devem ser convidados os embaixadores da China, da Índia, dos Estados Unidos e da Rússia. 

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