Pais de alunos se mostram preocupados com o fato de a maioria das creches parceiras da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e das escolas municipais não terem proteção contra incêndio e pânico atestada pelo Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Dos 565 prédios de educação infantil, 60% deles (342) estão desprotegidos.
A filha da pedagoga Raquel Augusta Santos, de 42 anos, estuda em uma creche parceira da rede pública. Ela se diz apreensiva com a notícia de que mais de 340 instituições não têm o AVCB. “Fica um medo muito grande. Acreditava que todas as escolas e creches tinham esse documento, pois são tão bem supervisionadas pelos órgãos competentes. É preocupante essa informação”, diz.
A artesã Fernanda Martins, de 38 anos, também se mostra preocupada, principalmente pelo fato dela ver a escola como um local de “confiança”. “A gente deixa os nossos filhos por ter confiança de que eles estão seguros por lá e nós podemos trabalhar e desenvolver outras atividades. Criança não tem noção do perigo, não tem a maldade de sair correndo quando ver um incêndio”.
Um ponto que desperta preocupação em Fernanda é o fato da escola do filho ser de dois andares. “Imagina só numa situação de incêndio a professora tendo que descer escadas com tantos alunos. Pode até correr o risco de alguém ficar para trás. É muito preocupante. Não gosto nem de imaginar. Segurança é tudo e é o mínimo que esperamos”.
Uma outra mãe, que optou pelo anonimato, afirma estar insegura em levar o filho para a escola. “Ele é tudo na minha vida, desde um aninho que estuda na creche. Agora, fica a insegurança. Estou bastante assustada”, relata.
Os dados apresentados pela PBH quanto a ausência do AVCB nas instituições de ensino simbolizam, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (SindRede-BH), a falta de investimento na área por parte do poder público.
“Esta é só mais uma parte dos problemas que temos denunciado com relação ao fato da prefeitura não ter planejamento de investimento na educação que seja condizente com as necessidades reais das escolas. A segurança das crianças e dos trabalhadores está sendo negligenciada a ponto de não cumprir exigências básicas”, critica Flávia Silvestre, diretora do SindRede-BH.
A representante da entidade cobra que a situação seja “corrigida imediatamente”. “Gastam milhões em compras de materiais que não são pertinentes ao trabalho ou com obras e esquecem do básico, do essencial”.
Uma professora da rede pública e que terá a identidade em anonimato afirma que trabalha com medo. “Na minha escola veio uma equipe, recentemente, para falar sobre prevenção e deram um curso sobre as medidas que devemos adotar em caso de incêndio ou algo do tipo, porém isso foi somente um dia e ficou na parte teórica”.
A profissional cobra o ensinamento prático. “Se o pior acontecer, nós não vamos saber como devemos atuar, pois sequer tivemos um simulado. O perigo é recorrente, pois na escola onde trabalho convivemos com problemas elétricos frequentemente. Está muito difícil trabalhar dessa forma”, desabafa.
Em nota, a prefeitura informou que um grupo com representantes da Secretaria Municipal de Planejamento foi instituído pela Secretaria Municipal de Educação para que 100% das creches parceiras e escolas da rede própria atendam às exigências do Corpo de Bombeiros. “Com essa força tarefa, a Smed pretende agilizar os processos de tal forma que elas tenham o AVCB o mais rápido possível”.