Brumadinho

Familiares de vítimas da Vale são ouvidos em julgamento da Tüv Süd na Alemanha

Empresa que atestou segurança da barragem que se rompeu em 2019, em Brumadinho, é processada em seu país de origem por negligências que resultaram na morte de 272 pessoas

Por Pedro Nascimento
Publicado em 19 de setembro de 2022 | 16:25
 
 
 
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Familiares de vítimas que morreram na tragédia da mineradora Vale em Brumadinho, em 2019, foram ouvidos nesta segunda-feira (19), na corte de Munique, durante o julgamento do processo movido contra a Tüv Süd - empresa alemã que atestou a segurança da barragem de rejeitos da Mina de Córrego do Feijão que se rompeu, resultando na morte de 272 pessoas. A partir das falas no tribunal, o juiz do caso deverá apresentar uma sentença, ou solicitar novos testemunhos, dentro de um prazo de 90 dias.

Os parentes das vítimas procuraram a Justiça alemã sob a alegação de que a Tüv Süd teria sido negligente ao atestar a segurança da barragem. Na justificativa, os familiares de 183 vítimas alegam que a Tüv Süd teria aplicado padrões de verificação que não atendem às exigências internacionais. 

No entendimento da Avabrum (Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão em Brumadinho), a Justiça no Brasil não foi suficiente para reparar os danos causados pela empresa. “Afirmamos também que se a Tüv Süd não tivesse aceitado a pressão da Vale para assinar um laudo de falsa estabilidade, 272 pessoas não teriam morrido”, disse a presidente da Avabrum, Alexandra Andrade, que esteve presente no julgamento. 

“É muito difícil, mas tem horas que a gente tem de falar que muitas das vítimas foram encontradas em segmentos, sem cabeça, sem braço, um pedaço da perna, um pé. E três anos e sete meses após o ocorrido, quatro vítimas ainda se encontram soterradas na lama, enquanto seus familiares aguardam seu encontro para sepultamento. Gostaríamos que a Tüv Süd assumisse sua culpa, porque se não fosse por ela, tudo isso poderia ter sido evitado. A Tüv Süd precisa ser punida, tem de haver justiça, esse crime não pode ficar impune”, completou a presidente da Avabrum.

Os familiares são representados pelo advogado Maximiliano Garcez, da Advocacia Garcez. Após o julgamento, o defensor explicou que o escritório terá três meses para produzir informações complementares para o juiz: “A gente vai mostrar o que é evidente e claro que a Tüv Süd na Alemanha comandava o que acontecia no Brasil”, afirma o advogado. Após esse prazo de 90 dias, o tribunal irá informar se tomará uma decisão final ou vai requerer mais provas testemunhais.

Esse é o segundo processo contra a Tüv Süd em menos de uma semana. Na última sexta-feira (16), o tribunal de Munique também deu sequência em uma ação civil contra a empresa movida por por seis familiares de uma das vítimas da tragédia em Brumadinho. Hoje, o processo inclui quase 1.100 pessoas e entidades afetadas pelo desastre. A empresa foi procurada para comentar o processo, mas não se manifestou.

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