Três meses após o governo do Estado admitir risco de racionamento de água na região metropolitana de Belo Horizonte, devido a suspensão do abastecimento no sistema Paraopeba por conta do rompimento da barragem em Brumadinho, em janeiro do ano passado, as fortes chuvas que atingem a capital nesta semana afastam o fantasma da falta de água.
Em outubro, a secretária-adjunta de Estado de Planejamento e Gestão, Luíza Barreto, afirmou que, caso o volume de precipitações não fosse suficiente para suprir outros reservatórios no primeiro trimestre deste ano, poderia haver falta de abastecimento em BH a partir de março.
Em nota, a Copasa alega que o volume em suas represas está em “plena capacidade de atender a região metropolitana de BH”, acumulando 165 milhões de metros cúbicos de água nos sistemas de Rio Manso, Serra Azul e Várzea das Flores. Só nesta semana, o nível de água subiu 0,7%.
“Portanto, considerando todas as ações em andamento por parte da Copasa, do Governo de Minas Gerais e das obrigações assumidas e o compromisso de execução pela (mineradora) Vale, neste momento, é precipitado falar em racionamento (de água)”, diz o texto encaminhado à reportagem.
A vazão do Rio das Velhas, na região metropolitana de Belo Horizonte, quase dobrou entre os dias 22 e 23 deste mês, indo de 81,6 metros cúbicos por segundo a 128,2 metros cúbicos por segundo, o que representa crescimento de 58% em apenas um dia.
Entre essa quinta (24) e sexta-feira (24), o sistema Vargem das Flores foi o que mais cresceu, pulando de 68,6% da capacidade para 77,3%, avanço de 8,7 pontos percentuais. Todos os outros estão com mais da metade de seu volume preenchido por água, com crescimento médio de 2,4 pontos percentuais no período.
Reuniões
Há alguns meses, representantes da Vale, da Copasa e de empresas com maior consumo de água, em especial hospitais e escolas, estão se reunindo para tratar de ações emergenciais caso haja desabastecimento.
Uma fonte relatou à reportagem que, durante um dos encontros, falou-se abertamente que o risco de falta de água é real.
Em nota, a Vale ressalta que assinou em outubro de 2019 o segundo aditivo ao Termo de Compromisso com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) do novo sistema de captação de água do rio Paraopeba.
O texto prevê “execução de medidas adicionais de caráter emergencial e mitigatório para garantir o abastecimento de água da grande BH até a conclusão da obra do novo sistema”.
Entre as ações acordadas, estão a reativação de poços artesianos profundos no Vertor Norte de BH e a implantação de outros 50 para 40 “clientes essenciais”, como hospitais e escolas.
“Outra intervenção prevista viabilizará a interligação entre os sistemas de abastecimento hídrico da bacia do rio Paraopeba e da bacia do rio das Velhas, além de adequações na rede distribuidora da Copasa na RMBH”, diz o texto.
Procurada, a Copasa não respondeu à reportagem sobre o assunto.
Transbordamento
Na madrugada desta sexta-feira, cerca de mil famílias foram atingidas por transbordamento do Rio das Velhas em Raposos, cidade da região metropolitana de Belo horizonte.
Moradores foram retirados de suas casas pela prefeitura municipal e a administração declarou situação de calamidade pública na região.