Uma das primeiras moradoras a ocupar a Cabana do Pai Tomás, na região Oeste, Maria Fernandes dos Santos, 78, habita hoje uma divisão do local conhecida como Gogó da Ema.

Segundo dona Lourdes, como é chamada desde criança, a região era coberta com mata de eucalipto e pertencia ao então deputado federal Antônio Luciano Pereira Filho.

"Meu marido trabalhava como rondante para Luciano e nos deu a casa para ficar mais fácil tomar conta da terra, há quase 50 anos. Quando chegamos, os nomes já existiam", disse.

Há uma crença popular de que Gogó da Ema tem esse nome devido à prática da caça na mata, em momento anterior à ocupação em massa.

Lourdes afirmou que vários caçadores se deslocavam de toda parte da cidade atrás de lobos e tatus que viviam no local.

"Perto da mata também existia uma pedreira onde a polícia levava os presos para trabalhar quebrando pedras. Mas tinha dia que eles fugiam e entravam no meio das plantas. Esta outra parte ficou conhecida com Pedreira, porém, do Cabana", disse.

Já Zely Marques da Silva, 75, supõe que tenha existido algum curandeiro, de mesmo nome, que morava na região. Hoje, dona Zely mora com dois filhos em uma área conhecida como Escadão.

"Saí de Governador Valadares para procurar emprego e cheguei aqui nos anos 60. Enquanto estive casada, morei de aluguel no bairro Santa Tereza e depois compramos um lote no Jardim Laguna. Tínhamos construído dois cômodos. Com a morte do meu marido, não consegui prosseguir com as obras do Laguna e vim ocupar a Cabana", disse.

O relato das moradoras sobre a Cabana do Pais Tomás nos primeiros movimentos de ocupação, o retrata como uma região desprovida de qualquer recurso como água ou luz e perigosa em períodos chuvosos.

Ambas ainda assistiram à chegada de alguns caminhões que traziam outros forasteiros que, como elas, sonhavam em melhorar de vida na cidade grande. "Eu me lembro da polícia derrubando os barracos de lona do povo. Só que não adiantava nada. Eles levantavam de novo", disse Lourdes.

Vila
Mesmo com todos os obstáculos e privações, dona Zely é enfática: "só saio da Cabana depois de morta." Além do amor pelo local, ela também nutre esse nobre sentimento pelos estudantes.

"Cheguei a dormir encostada em pé de árvore por não ter onde deitar. Quando vim para a Cabana, os estudantes ajudavam muito a gente. Davam comida e roupas para quem estava aqui. Colocamos o nome da região como Vila Esportiva Estudantil, como uma homenagem."

Contudo, o nome incomodou alguns setores da sociedade e teve que ser abolido. "Os ricos de Belo Horizonte não gostavam dessa ajuda porque, segundo eles, estimulava o aumento da favela e os estudantes também tinham força, momento este entre os anos 70 e 80. Pressionaram tanto, que tiramos o nome. Depois veio a malandragem e denominou o lugar de Escadão por causa da escada que liga a avenida Independência ao alto do morro", disse.

Com dificuldades em lembrar datas precisas, Zely recorda que a série de degraus foi concretada há pouco tempo, ganhando também corrimão dos dois lados. "A escada era de barro e, como tínhamos que descer para buscar água em uma mina um pouco afastada, sempre tinha um tombo", relembrou.