“Ela é filha única, maravilhosa, muito amada por mim e por todos. Estamos inconsoláveis, foi uma covardia sem tamanho.” A frase dita com a voz embargada por Marcelo Oliveira resume a dor de um pai que vive um dos momentos "mais cruéis e inexplicáveis de sua vida". Em entrevista exclusiva ao Super Notícia, ele afirmou que torce para acordar e tudo isso ser apenas um pesadelo.
No último domingo (15), a filha dele, de apenas 10 anos, foi baleada na cabeça por um policial penal de 34 anos, que atirou contra o carro da família em uma estrada de terra entre Diogo Vasconcelos e Porto Firme, na Zona da Mata mineira. A criança está internada em coma Santa Casa de Juiz de Fora. O autor dos disparos está preso.
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Marcelo contou que voltava de um passeio em família, algo extremamente rotineiro, quando percebeu que estava sendo seguido. “Era uma tarde de domingo, voltando da casa dos meus pais. Ao passar pelo veículo dele, percebi que ele começou a nos seguir, ele estava muito próximo do meu carro. Em preocupação com a segurança da minha filha, eu acelerei para distanciar. Nem pensei que pudesse ser alguém mal intencionado, então resolvi dar passagem para ele. Quando eu parei para ele me ultrapassar, ele fechou meu carro. Desviei o máximo que pude e entrei no trevo em alta velocidade. Foi quando ouvi os tiros”, relembra.
O desespero tomou conta do pai ao perceber que a filha havia sido atingida. “Ela estava com a janela aberta e, mesmo de cinto, percebi que a cabeça dela ficou tombada. Me desesperei quando vi a quantidade de sangue, achei que ela já estivesse morta".
A partir deste momento, ele relata que começou uma verdadeira corrida pela vida da filha. "Perdi o controle do carro várias vezes, invadi o mato, gritava ‘meu Deus, me ajuda’. Eu segurava uma mão no volante, e com a outra a cabecinha da minha filha, até que senti a respiração dela".
Perceber que a filha estava viva lhe deu esperança. "Dirigi correndo e rezando para ela aguentar. Ela estava sangrando muito. Eu só pensava que ela não podia morrer ali.”
Marcelo dirigiu mais de 35 km, até chegar em Viçosa, cidade com mais estrutura para receber a filha, que no momento ele já considerou em estado grave. “Parei no hospital e já desci com ela nos meus braços, gritando por ajuda. A equipe médica a imobilizou, a Polícia Militar foi acionada, porque eu disse que estava sendo seguido. Depois levaram ela para Ponte Nova, onde tinha mais recursos, e de lá para Juiz de Fora”, contou.
Ele relata ainda que, ao ver as imagens de uma câmera de segurança, teve a certeza de que os disparos começaram antes mesmo de perceber a perseguição. “Estávamos cantando dentro do carro, sempe vamos cantando músicas para passar o tempo, ela adora. Meu carro também estava fazendo alguns barulhos, então encobriu os primeiros tiros. Se eu tivesse ouvido, jamais teria parado o carro".
Questionado pelos militares sobre alguma ameaça ou problema pendente com alguém, que poderia ter motivado o ataque, o pai da criança informou que vive em Viçosa há 10 anos e que não tem qualquer pendência, dívidas ou problemas com ninguém, sem saber dizer o que poderia ter motivado os disparos.
A menina é descrita pelo pai como uma criança alegre, estudiosa e muito querida na comunidade. “Ela é radiante, todo mundo que a conheceu sabe o quanto ela é especial. Tirava notas altas, sempre feliz. Os colegas da escola estão chorando, orando pela vida dela. Tenho vários vídeos dela rindo, brincando”.
Marcelo finaliza com uma mensagem de esperança: “O único interesse que eu tenho é ajudar minha filha. Ou que isso sirva para conscientizar as pessoas: que tenham mais amor e menos ódio. Estamos passando por um momento muito difícil, mas seguimos em oração”.
Para o sucesso do tratamento, a menina precisa de doação de sangue.
O crime
Segundo a Polícia Militar, o policial penal foi preso em casa após os militares identificarem o veículo utilizado por ele. A arma do crime foi apreendida. Ele prestou depoimento na Delegacia de Polícia Civil de Viçosa e teve a prisão em flagrante ratificada.
Em sua versão, o agente alegou que dirigia um Chevrolet Onix e se sentiu ameaçado após levar uma “fechada”, o que teria motivado os disparos contra o Chevrolet Santana conduzido por Marcelo. Ainda de acordo com o depoimento, ele afirmou não saber que havia atingido uma criança.
TRAGÉDIA - Uma criança de 10 anos foi atingida por tiros após o motorista de um carro atirar contra o veículo em que ela estava. Câmeras de segurança registraram o momento em que o homem coloca o braço para fora de um Ônix. Em seguida, ouve-se o som dos disparos. pic.twitter.com/DurRahw4jg
— O Tempo (@otempo) June 16, 2025