Em reunião na tarde desta segunda-feira (11) com representantes da categoria, o governo de Minas e a Polícia Militar (PM) afirmaram que vão intensificar a fiscalização do transporte por aplicativo no Estado, principalmente em Belo Horizonte. Assunto veio à tona após uma sequência de crimes contra motoristas, como o caso de Anderson Alves, de 27 anos, vítima de latrocínio no último dia de 2020 em Vespasiano, na região metropolitana.
Segundo o secretário-geral do Estado de Minas Gerais, Mateus Simões, para atingir esse objetivo, o contingente da PM será inflado com militares que estão saindo da academia. "Estamos com o compromisso de novas blitze específicas para isso. Temos o contingente de 910 alunos que vão pra rua para trabalhar especificamente com isso e vamos avançar em alguns procedimentos operacionais", disse.
Para ele, a identificação dos carros e motoristas que estão em serviço é muito importante para aumentar a segurança. "Uma de nossas dificuldades hoje é achar o carro de aplicativo, para que ele possa ser parado. Alguns têm adesivo de identificação, mas também não é tão difícil identificar. Temos os carros com passageiros atrás e também o fato das blitze estarem acontecendo mais à noite, que é o horário que os crimes costumam acontecer, e em locais mais afastados do Centro", completou.
De acordo com o chefe do Estado Maior, coronel Eduardo Felisberto Alves, a PM tem combatido os crimes contra os motoristas por aplicativo com eficácia, porém, é preciso pensar em novas maneiras de se evitar que os fatos aconteçam. "A gente estabeleceu algumas linhas de trabalho, efetuamos a prisão dos agentes que cometeram aquele crime (caso Anderson). Posteriormente houve outros crimes da natureza de roubo a motoristas de aplicativo, que nós também efetuamos a prisão desses agentes. Mas essa é uma ação repressiva", afirmou.
O coronel também enfatizou a importância da identificação de motoristas e veículos para melhorar a segurança. "O que interessa aqui no momento é que a gente traga segurança para esses motoristas trabalharem melhor, voltada para a ação preventiva. Logicamente que a prisão é importante, mas se não houver o crime, é melhor ainda. O que estamos montando aqui são ações voltadas para a identificação mais fácil dos motoristas e dos veículos, para que nós possamos abordar essas pessoas, seja com o carro vazio ou com o carro cheio", concluiu Alves.
Outro lado
Para o presidente do Clube dos Motoristas, Warley Leite, a reunião foi produtiva, pois a categoria teve uma visão mais nítida do que o Estado planeja fazer para melhorar a vida dos trabalhadores e usuários do serviço. "A PM hoje nos trouxe de imediato que está iniciando várias blitze em vários pontos da cidade, onde os motoristas estão sendo identificados. Também nos informaram que estão disponibilizando várias viaturas nos principais corredores, principalmente entre 0h e 6h", explicou.
"A gente fica muito grato ao governo e à PM pela atenção e pelo empenho deles. É nítido que há um interesse em nos ajudar. Já tivemos outras reuniões como essa, que vão continuar acontecendo. Isso é um processo de construção e de diálogo constante", ponderou.
O representante, no entanto, contou que fica chateado pelo fato de empresas que administram o serviço não demonstrarem estar tão interessadas em melhorar a segurança e abrir um diálogo com os colaboradores. "Nenhum deles (empresas) participou. Fomos até insistentes, mas ninguém veio. Na teoria, eles são os que mais poderiam colaborar e trazer uma segurança mais efetiva", argumentou.
A reunião aconteceu na sede do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), localizada do Centro da capital mineira.
Posição
Em nota, a 99 informou que segurança é uma prioridade para a firma, sendo antes, durante e depois das corridas. "Por isso, só ano passado, a empresa investiu R$35 milhões em sistemas preventivos e ferramentas de proteção. Tais esforços reduziram 8% das ocorrências graves registradas na plataforma, em Minas Gerais", disse.
Quando há ocorrência, a 99 reitera que sempre se coloca à disposição das autoridades para a resolução dos casos e está sempre aberta ao diálogo e a construção de melhores políticas para segurança pública e mobilidade urbana.
"Como formas de prevenção antes das chamadas, a companhia mostra aos motoristas informações sobre o destino final, a nota do passageiro e se ele é frequente - além de exigir que todos os passageiros incluam CPF ou cartão de crédito. A empresa mapeia áreas de risco e envia aos motoristas notificações sobre viagens que passem por essas zonas. O levantamento é feito utilizando estatísticas internas do aplicativo e dados externos das Secretarias de Segurança Pública. Com a informação da área de risco, o motorista opta por aceitar ou não determinada corrida sem penalização.
Durante o trajeto, a plataforma disponibiliza aos condutores o serviço de monitoramento por câmeras de segurança dentro dos carros. O dispositivo é conectado à central de segurança 24h da 99, que oferece suporte imediato em caso de necessidade. O motorista também tem a opção de gravar áudio, monitoramento da corrida via GPS, compartilhamento de rotas com parentes e amigos e um botão para ligar direto para a polícia. Depois das viagens, existe um recurso que permite bloquear o passageiro caso o motorista não queira se conectar com ele novamente em viagens futuras. Em caso de emergência contra os motoristas parceiros, uma central telefônica funciona 24h e oferece apoio imediato no 0800-888-8999.
O app reitera que está aberto ao diálogo com as lideranças de motoristas e poder público presentes na reunião para construir soluções benéficas que aumentem a segurança dos usuários em Minas Gerais e região".
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Também procurada pela reportagem, a Uber explicou em nota que a empresa está sempre buscando, por meio da tecnologia, fazer da plataforma a mais segura possível.
"Foi anunciada recentemente a introdução da checagem de documentos de usuários - algo inédito nas alternativas de mobilidade urbana. Com isso, usuários que optarem por pagar sua primeira viagem em dinheiro, sem fornecer dados do meio de pagamento digital (cartão de crédito ou débito), precisarão fornecer um documento de identidade, como RG ou CNH. A tecnologia já é utilizada pela Uber em países como Chile, México e Argentina", disse.
Essa medida soma-se à exigência, do usuário que quiser pagar em dinheiro, de inserir CPF e data de nascimento, dados que são checados na base de dados do Serasa. "A informação sobre essa opção de pagamento também é exibida na tela do aplicativo de quem está atrás do volante antes que o usuário entre no carro, assim como a região do destino final e a nota do usuário no aplicativo", informou.
Além disso, a Uber utiliza no Brasil o recurso de machine learning. Esta ferramenta usa algoritmos que aprendem, de forma automatizada, a partir dos dados históricos de viagem, e bloqueia aquelas consideradas potencialmente mais arriscadas. Os motoristas também podem cancelar as viagens.
Ainda segundo a Uber, caso aconteça uma parada longa e não prevista na rota ou se a viagem terminar fora do destino planejado, a empresa pode iniciar uma checagem e enviar uma mensagem para o motorista parceiro e o usuário perguntando se é necessário algum suporte e direcionando-o às ferramentas de segurança. Também há o botão Recursos de Segurança, que reúne todas as funções de segurança da plataforma, como compartilhar informações e gravar áudio.
"Usuários e motoristas podem e devem avaliar um ao outro depois de cada viagem, de forma anônima. Uma equipe monitora essas informações e pode banir da plataforma usuários ou motoristas que tiverem uma média baixa de avaliações ou conduta que viole os termos e condições de uso ou o código de conduta da comunidade, como por exemplo, comportamento inapropriado ou perigoso".
"Os motoristas parceiros contam ainda com um número de telefone 0800 para registrar casos de emergência e solicitar apoio da Uber depois que tiverem comunicado às autoridades e estiverem em segurança. O time de suporte está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana pelo aplicativo e analisa caso a caso cada registro".
Violência
Motoristas de aplicativo fizeram um protesto no dia 5 de janeiro em Belo Horizonte pedindo mais segurança para a categoria. O principal motivo foi o caso de Anderson Coelho Alves, de 27 anos, que foi roubado e morto na enquanto trabalhava em Vespasiano.
Na ocasião, os ladrões usaram uma faca para cometer o crime e contaram que furaram os olhos do motorista e tentaram degolá-lo, mas não conseguiram.
Um outro caso que também assustou os colegas aconteceu no dia 3 em Sabará. Um homem de 51 anos foi assaltado e agredido por um adolescente de 17 anos e um jovem de 18 – policiais apreenderam com eles duas réplicas de arma de fogo e recuperaram dinheiro, veículo, celular e documentos pessoais do motorista.
Já entre os dias 4 e 5 de janeiro, em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, um homem de 24 anos ele foi rendido por assaltantes durante uma corrida, levou uma injeção no pescoço e foi deixado no porta-malas de seu carro. Apenas o seu celular foi levado.