As unidades de pronto-atendimento das redes pública e privada ficaram lotadas nesta segunda-feira (27). A procura intensa é, especialmente, por pessoas com sintomas gripais e respiratórios. A reportagem de O TEMPO visitou duas UPAs e os prontos-socorros do Hospital Infantil João Paulo II e do hospital São Lucas. Em todos, pessoas reclamavam da demora no atendimento.

Larissa Mel, de 19 anos, chegou à UPA do Santa Efigênia, na região Centro-Sul, com dor de cabeça muito forte, enjoo e sintomas gripais. Ela chegou às 9h, mas no meio da tarde ainda não tinha sido atendida. “Não sei quanto tempo vai levar para eles me darem um soro e depois me mandarem de volta para casa”, relatou a jovem. “Lá dentro está muito cheio, tiveram que fazer uma chamada, porque muitas pessoas desistiram, foram embora”.

Samuel Vieira de Castro, de 19 anos, contou que chegou às 8h, mas só foi passar na triagem às 11h. “Tinha mais de 40 pessoas na minha frente. Tive febre de 39 graus ontem à noite e o pessoal não consegue dar atenção pra gente. Se você entrar lá dentro, vai ver umas 300 pessoas esperando.

Na UPA do Odilon Behrens, na região Nordeste de BH, Antônio Amarildo, 53 anos, esperava por mais de cinco horas para ver o filho ser atendido. Ele relatou que a situação é de estresse entre os pacientes. “Muita gente já desistiu. Tem até tido muita briga lá dentro, os guardas municipais tiveram que intervir”.

A procura também tem sido intensa em hospitais privados, como o São Lucas. Nesta unidade do grupo Santa Casa BH, houve um aumento de 40% nos casos respiratórios em apenas uma semana. A ocupação dos leitos pediátricos está em 75%.

De acordo com Devanir Araújo Ferreira, gerente de Regulação, Acesso e Fluxo Assistencial do Grupo Santa Casa BH, essa procura ficou mais intensa desde quinta-feira (23). “Ainda não temos um número alarmante de internações, mas o pronto-atendimento está bem cheio, com pessoas com sinais respiratórios, como coriza, tosse e outros sinais clínicos que confundem com a Covid”, disse o gerente, acrescentando que tem pedido para as operadoras a realização de testes para descartar a Covid e poder fazer o tratamento voltado para a gripe.

Segundo ele, entre os pacientes que fizeram o exame específico de Influenza, a cepa H3N2 tem surgido em maior quantidade. É a mesma variante que circula intensamente em São Paulo, Rio de Janeiro e outras partes do país.

Por enquanto, não houve grande pressão nos leitos dos hospitais, mas já houve um aumento nas internações. Segundo Ferreira, foi registrado um crescimento de 50% nas solicitações por leitos de enfermaria na Santa Casa BH para pacientes com sintomas respiratórios mais sérios. "Mas, até o momento, não houve aumento de demanda no CTI", afirmou.

Para o especialista, há duas hipóteses para o grande aumento de casos respiratórios, que podem estar associados a uma epidemia de gripe. “A gente não se preocupou com a vacinação da gripe. Nos preocupamos muito com a vacinação da Covid e deixamos a gripe em segundo plano. A maioria não se vacinou neste ano. Além disso, houve uma abertura das atividades e muitos encontros de fim de ano. Esse vírus da gripe tem uma grande propagação”, explicou.

Ferreira recomendou que as pessoas com síndrome gripal procurem atendimento médico em casos de sintomas mais forte, como febre alta (acima de 39 graus), tosse com catarro e intensa dor de cabeça. “Quem está com mal estar no corpo e sintomas leves pode fazer um repouso e tomar muito líquido. O ideal é não procurar o pronto-atendimento em casos leves para não provocar tumulto. E quem não está gripado e não se vacinou pode procurar um posto de saúde para tomar a vacina”.

Devanir Araújo recomendou ainda que, quem puder, busque atendimento online junto às redes pública e privada. 

Unimed

No hospital da Unimed, localizado na avenida Babita Carmargos, no bairro Parque Industrial, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, pacientes à espera de atendimento podiam ser vistos do lado de fora do pronto-atendimento. Cena rara para quem passa todos os dias em frente à unidade médica e alvo de reclamação para quem precisa de atendimento. 

"Minha filha apresentou sintomas de gripe. Ela está com febre e chegou aqui às 14h30. Ela demorou mais de três horas para ser chamada para o atendimento. A maioria do pessoal que está aqui é por sintomas de gripe. Encontrei mais cedo com uma colega minha que chegou aqui com a filha às 7h e saiu daqui às 15h", disse a  profissional de Marketing, Márcia Cristina Rodrigues, 52.  

A servidora pública aposentada, Sônia de Oliveira, 70, reclama que dentro da unidade médica as pessoas com posíveis sintomas de Covid-19 estavam próximas de outros pacientes. "Achei tudo muito embolado. Eles não conseguiram organizar, colocar as crianças de uma lado e pessoas com suspeita de Covid-19 de outro. Tem pessoas ali dentro com blusa de frio, então tem algum coisa errada, não é não?", questiona. 

Por meio de nota, a Unimed-BH informou que nesta segunda-feira (27) registrou um aumento da ordem de 30% no número de atendimentos feitos nas unidades de Belo Horizonte e região metropolitana em relação a três semanas atrás.

"A Cooperativa afirma ainda que vem percebendo uma queda dos casos positivos do coronavírus e um aumento de casos respiratórios causados por outros vírus. Além disso, diferente do que foi detectado no ápice da pandemia da COVID-19, em que os pacientes eram em sua maioria adultos, agora há um crescimento dos atendimentos pediátricos", traz a nota.

A Unimed-BH destacou ainda que todas as unidades estão reforçando suas equipes e que neste período de alta demanda, os usuários devem priorizar a consulta on-line, evitando assim, o atendimento presencial.

"A Cooperativa reforça que a transmissão da COVID-19 e de outros vírus respiratórios ocorre de forma semelhante. Por isso, é importante que a população continue se cuidando e seguindo as medidas de prevenção como o uso de máscaras, lavagem das mãos com frequência, uso do álcool em gel e o distanciamento social. Para agendar consulta on-line, basta acessar o site www.unimedbh.com.br ou pelo aplicativo da Unimed-BH", pontuou em nota. 

Sintomas respiratórios

A Secretaria Municipal de Saúde informou que as UPAs têm apresentado um aumento na procura por atendimento, especialmente de pacientes com sintomas respiratórios e casos crônicos agudizados.  Disse também que todos pacientes são atendidos e que tem se esforçado para garantir o atendimento mais ágil aos pacientes.

“Todos os dias, cerca de 2 mil pessoas são atendidas nas nove UPAs de Belo Horizonte. A grande questão é que cerca de 70% desses atendimentos poderiam ser realizados em um dos 152 centros de saúde, pois são casos leves. Pessoas com síndrome respiratória leve, como uma coriza ou tosse, podem procurar um centro de saúde, que são unidades altamente capacitadas para lidar com esse tipo de caso”, disse a pasta, por meio de nota.

A secretaria informou ainda que das, 536 vagas de trabalho abertas para a área de saúde no sistema municipal, 158 são para urgência (o que engloba as UPAs). “A expectativa é que com o concurso sendo homologado em janeiro, os profissionais médicos sejam empossados com prioridade em fevereiro”, afirmou.

Nem Prefeitura de Belo Horizonte nem a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) apontam a H3N2 como responsável pelo aumento de casos respiratórios, por não haver dados mais concretos sobre a variante identificada inicialmente na Austrália. 

Um balanço da semana passada feito pela SES-MG afirmou que, até dia 23 de dezembro, 147 amostras clínicas do vírus Influenza A/H3N2 haviam sido detectadas pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). A detecção foi apenas do subtipo A/H3N2 e nenhum outro subtipo de influenza foi identificado no estado.