Alívio para as famílias

Idosa que teve corpo trocado com de homem é enterrada em BH nesta quinta

Leonora de Jesus Celestina tinha sido enterrada em uma cova destinada ao corpo de Fernando Jesus Reis, de 68 anos, na última terça-feira (12); o homem foi enterrado nesta quarta

Por Natália Oliveira
Publicado em 14 de janeiro de 2021 | 09:37
 
 
 
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A idosa de 91 anos que teve o corpo trocado com o de outro idoso de 68 anos, foi enterrada na manhã desta quinta-feira (14), no Cemitério da Saudade, no bairro de mesmo nome, região Leste de Belo Horizonte. O neto dela, Jaílson Rocha dos Santos, de 41 anos, disse que os familiares "se sentem um pouco aliviados" por poderem fazer o enterro.

Leonora de Jesus Celestina  tinha sido enterrada em uma cova destinada ao corpo de Fernando Jesus Reis, na última terça-feira (12). Os dois morreram vítimas do novo coronavírus (Covid-19) no Hospital São Francisco de Assis, em Belo Horizonte. Reis morreu no domingo (10) e Leonora, na segunda-feira (11) pela manhã. 

A confusão começou quando os familiares da idosa aguardavam o corpo dela para o enterro, na última terça-feira (12), e após muito atraso, eles descobriram que ela tinha sido enterrada um dia antes no Cemitério da Consolação, em Venda Nova. Na verdade aquele era para ser o enterro de Reis, mas por erro, a idosa foi enterrada no lugar dele. 

A família do idoso descobriu então que o corpo de Reis ainda estava no hospital e que eles tinham enterrado outra pessoa. Começou então um pesadelo para as duas famílias. Para que a família da idosa conseguisse enterrá-la no Cemitério da Saudade foi preciso pedir a exumação do corpo do cemitério de Venda Nova. 

O que foi feito nesta quarta-feira (13) e a idosa enterrada nesta quinta-feira (14) pela manhã, sem direito a velório. Já o corpo do idoso foi liberado também na quarta-feira (13) e o enterro foi feito na mesma data, por volta de 13h30.

O filho dele, Flaviano Rodrigues Reis, de 41 anos, disse que apesar de tudo que aconteceu, a família ficou mais aliviada após fazer o enterro do corpo do pai de forma correta. "Estamos mais aliviados. O pai agora descansou", declarou. 

O que dizem a funerária e o hospital 

O Hospital São Francisco de Assis informou, em nota, que a funerária cometeu um erro no momento de retirar o corpo do centro de saúde. "Neste caso específico, foi identificado que não  houve a devida conferência por parte da Funerária o que, infelizmente, ocasionou na troca dos corpos. Após tomar conhecimento do ocorrido, a alta gestão da Fundação prontamente realizou uma reunião com os envolvidos para solucionar o problema e acolhimento dos familiares. Na ocasião, a Funerária Emirtra assumiu a responsabilidade informando que adotará as ações necessárias para remediar o ocorrido, arcando com todas as despesas", informou por nota.

Já a funerária disse que o erro foi do hospital. De acordo com a Emirtra, houve erro do hospital que entregou o corpo errado ao motorista da funerária. "Nós fomos contratados para remover o corpo do Fernando. Chegando no hospital eles demoraram 50 minutos para fazer a liberação e a funcionária do necrotério entregou o corpo da idosa para ele. Como foi morte por Covid-19 ninguém vê os corpos", disse Maria Luzia Cordeiro de Brito, gerente administrativa da funerária.

O gerente comercial, Chateaubriand Brito, acrescentou que houve confusão também pelos dois idosos terem sobrenome Jesus e por erro de uma funcionária do hospital.

"O motorista disse que já havia muito atraso e, em caso de Covid, os cemitérios têm o horário certinho para enterrar, ele pediu agilidade. Ele foi abrir o carro e quando voltou a funcionária do necrotério já estava com o corpo do lado de fora, ele pegou e foi. Tinham três corpos no necrotério e os três mortos por Covid, por falta de sorte com dois com o sobrenome Jesus. Meu motorista pode ter errado em não conferir, mas ele foi induzido ao erro pelos funcionários do hospital", considerou.

Segundo a funerária foi prestado todo apoio às famílias e nunca tinha acontecido nada do tipo com a funerária. Eles só ficaram sabendo do erro quando a outra funerária procurou a idosa. 
 

Veja a nota do Hospital São Francisco de Assis na íntegra:

"Em relação a troca de corpos de pacientes com Covid-19 questionada no dia 12 de janeiro de 2021, terça-feira, a Fundação Hospitalar São Francisco de Assis (FHSFA) esclarece que realmente houve um equívoco por parte da Funerária Emirtra no recolhimento do corpo para deslocamento ao local do enterro.

Quando o paciente vai a óbito, é feita a identificação para o mesmo e essa identificação o acompanha em todas as etapas, seguindo todos os processos sistêmicos da Fundação. Todas as etapas são registradas e conferidas por meio de protocolos para garantir a segurança da informação. Neste caso específico, foi identificado que não  houve a devida conferência por parte da Funerária o que, infelizmente, ocasionou na troca dos corpos. Após tomar conhecimento do ocorrido, a alta gestão da Fundação prontamente realizou uma reunião com os envolvidos para solucionar o problema e acolhimento dos familiares. Na ocasião, a Funerária Emirtra assumiu a responsabilidade informando que adotará as ações necessárias para remediar o ocorrido, arcando com todas as despesas.

Ressaltamos que a Fundação é uma instituição filantrópica com atendimento exclusivo ao Sistema Único de Saúde (SUS), e, em seus 10 anos de atuação, nunca passou por uma situação como essa justamente por seguir criteriosos protocolos de segurança. Uma dessas medidas é a opção para as famílias de pacientes que falecem com a Covid-19 reconhecerem os corpos dos seus entes queridos seguindo diversas medidas de segurança.

Apesar de não ter nenhuma responsabilidade sobre o triste fato ocorrido, a Fundação lamenta muito e se solidariza com as dores dos familiares. Sabemos que é um momento de muita tristeza e o enterro faz parte do processo de luto.

Sobre a questão do tempo de espera da liberação do corpo, essa informação não está correta. Nos nossos registros de entrada e saída do veículo da funerária, identificamos que o motorista ficou no total 26 minutos na instituição, esse tempo contabilizando estacionar o carro, fazer todos os protocolos e o carregamento do corpo para o veículo. Sobre o outro questionamento, nenhum funcionário da fundação pode sair com um corpo do necrotério. O colaborador acompanha o motorista da funerária no necrotério e o mesmo que faz a retirada do corpo para levar ao local do destino".

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