Alívio

Idosas que vivem em asilo de BH recebem 'doses de esperança'

PBH ampliou, nesta semana, público-alvo com chegada de mais 57,6 mil doses

Por Letícia Fontes
Publicado em 04 de fevereiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Os braços podem não ter a mesma força de antes, mas estão completamente preparados para receber uma picada que não dói e ainda só traz sentimentos bons, como esperança e fé em dias melhores. Foi pensando dessa maneira que 15 idosas do Lar Recanto Feliz São Francisco de Assis, no bairro Betânia, na região Oeste de BH, receberam a primeira dose da vacina contra o coronavírus nesta quarta-feira (3).

A aplicação foi possível porque, nesta semana, a capital ampliou o público-alvo do grupo prioritário para imunização com a chegada de novos 57,6 mil doses. Nesta etapa, podem receber a vacina trabalhadores de saúde da Atenção Primária de Saúde (APS) e dos Centros de Referência de Saúde Mental (Cersams), além de idosos institucionalizados.

Para a coordenadora da instituição, Lúcia Helena de Paula, a vacinação é a chave para uma nova era: "Não tem outra palavra para esse momento a não ser esperança. O coronavírus não pediu licença, da noite para o dia não tinha mais visita, não tinha mais família, amigos, supermercado, não tinha mais nada para elas, só solidão mais uma vez. A morte é inerente a todos nós, mas, para os idosos, principalmente em asilos, o sentimento era: 'amanhã serei o próximo', diz.

Lúcia Conceição, 83, foi a primeira idosa da unidade a se vacinar. Teve choro de alegria e também por ela não ter tido tempo de arrumar o cabelo. “Não sei quanto tempo mais vou viver, mas, do pouco que resta, esse vai ser o momento mais importante, com certeza. E queria estar mais bonita”, brinca a idosa, que incentiva: “Eu quero aproveitar bastante, até ir em um forró se deixarem. Dançar até suar. Não entendo quem fica com medo, é uma picadinha só. É chave pra liberdade”. 

Solidão. Além de viver o medo de adquirir o vírus, os idosos institucionalizados sofrem nesta pandemia com outra realidade: são cada vez mais comuns os casos de abandono. “A maioria não tem família. Por isso, temos a comunidade, a igreja, que é a família delas. A família, às vezes, vem por obrigação. Agora, tem a desculpa da Covid. O idoso sentiu duplamente o abandono, antes pelo fato de ser velho e estar aqui e agora porque existe uma doença que impede de ir e vir”, explica Lúcia.

A idosa Maria Júlia Batista, 76, não vê nem o filho nem a neta desde março: “Saudade de sair na rua, ir na igreja, dos passeios.  Agora, ninguém mais vem ver a gente. As pessoas ligam às vezes, mas não é a mesma coisa”. 

No Brasil, de acordo o Ministério da Saúde, 73% das mortes por Covid-19 foram de idosos. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), residentes de abrigos públicos, casas de repouso e outras instituições para permanência de idosos são mais vulneráveis à Covid-19, ao lado de idosos frágeis e pessoas que têm comorbidades. 

BH conta com 228 Instituições de Longa Permanência (ILPIs) cadastradas na Vigilância Sanitária. Essas instituições são compostas por 3.842 moradores e 3.652 trabalhadores. Desse total, 688 idosos são acolhidos nas 24 ILPIs parceiras da PBH. Todos estão contemplados nesta fase da vacinação.

Vacinação
- Nesta segunda etapa da vacinação, a PBH vai usar as 40,5 mil doses AstraZeneca e 16,8 mil doses da Coronavac. 

- Minas Gerais não tem data para início da imunização em idosos acima de 75 anos fora das casas de longa permanência. O Ministério da Saúde retirou esse critério da primeira fase da campanha e deixou que Estados e municípios organizem a prioridade tendo em vista a disponibilidade de vacinas.

- Em São Paulo, a partir da próxima segunda-feira (8), idosos acima de 90 anos poderão se vacinar. Já no dia 15 será a vez das pessoas com 85 anos ou mais. No Rio de Janeiro, idosos com mais de 99 anos receberam nesta as primeiras doses. A prefeitura carioca estima proteger todas as pessoas com mais de 80 até o fim de fevereiro.

Prioridade da vacinação em BH

• 100% dos Trabalhadores lotados nos 152 Centros de Saúde do município
• Moradores e profissionais (cuidadores, equipe de enfermagem, auxiliar de serviços gerais e quem realiza a manipulação dos alimentos) que atuam em todas as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs)
• 100% dos Trabalhadores lotados nos 16 Centros de Referência em Saúde Mental (Adulto, Álcool e outras drogas e infantil)
• Moradores e Profissionais (cuidadores, equipe de enfermagem, auxiliar de serviços gerais e quem realiza a manipulação dos alimentos) dos Serviços de Residência Terapêutica (SRT)
• Moradores acima de 18 anos e Profissionais (cuidadores, equipe de enfermagem, auxiliar de serviços gerais e quem realiza a manipulação dos alimentos) das Residências Inclusivas (para pessoas com deficiência institucionalizadas)

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