Katiuscia Torres Soares, 34, conhecida como Kat Torres ou Kat A Luz, foi presa preventivamente em Belo Horizonte sob suspeita de manter pessoas em condições análogas à escravidão nos Estados Unidos, entre outros possíveis crimes. O caso está em segredo de Justiça.

A ordem de prisão preventiva (sem prazo) foi decretada pela 5ª Vara Federal de São Paulo e a medida foi cumprida na última sexta (18), conforme o tribunal. Kat estava em um voo com deportados que chegou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. A influenciadora ainda não designou advogados e é assistida pela Defensoria Pública de União (DPU). 

A Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais informou nesta terça-feira (22) que a influenciadora está presa no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte. Ela deu entrada no sistema penitenciário no último sábado (19).

Em nota enviada a O TEMPO, o Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) confirmou a prisão preventiva, que teve a cooperação da Polícia Federal e da Interpol. "Embora as investigações estejam sob sigilo, o MPF obteve autorização judicial para confirmar a informação. Katiuscia é investigada por tráfico de pessoas e redução a condição análoga à escravidão", diz a nota.

O MPF paulista afirmou que colhe depoimentos de vítimas de forma sigilosa, por meio de videoconferência. "Qualquer pessoa que tenha sofrido danos pelas condutas da ex-modelo, já amplamente noticiadas na imprensa, pode procurar o MPF para formalizar seu relato, com a garantia de preservação de sua identidade e sem necessidade de comparecer a uma unidade da instituição. Não é necessária a assistência de advogados. Basta acessar o site “MPF Serviços” e, na área “Protocolar”, clicar em “Representação inicial (denúncia)”. Na página seguinte, o(a) usuário(a) deverá preencher o formulário com a descrição dos fatos.

O caso

 

Kat Torres é influenciadora digital e dizia ser guru espiritual. Ela começou a ser investigada depois que parentes e amigos passaram a procurar uma jovem que foi levada para os Estados Unidos para morar com ela. A suposta vítima deletou as redes sociais e aplicativos de mensagens e interrompeu todo contato com a família.

O caso originou um boletim de ocorrência por suspeita de tráfico humano e uma campanha nas redes. Outros relatos semelhantes foram divulgados em uma página na internet e reunidos pela advogada Gladys Pacheco, que representa cerca de 15 pessoas que se apresentam como vítimas de Kat Torres, inclusive a jovem procurada pela família.

"Entre outras coisas, ela pedia dinheiro para resolver, de forma milagrosa e secreta, os problemas dessas vítimas", explica Pacheco, que diz que os supostos atos da influencer podem configurar tráfico de pessoas, tortura, redução a condição análoga à de escravo, favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual, extorsão religiosa e charlatanismo.

Segundo a advogada, os casos foram enviados para o Ministério Público Federal, que analisa se apresentará denúncia.

Kat Torres estava presa nos Estados Unidos desde o dia 2 de novembro, no estado do Maine, por viver ilegalmente no país. Segundo a advogada das vítimas, ela agora está presa em Minas Gerais.

Questionado pela reportagem se houve extradição, o Ministério das Relações Exteriores disse que não poderia "fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros".
Em nota, a pasta disse que, "por meio de sua área consular, acompanhou a situação da nacional brasileira, em interlocução com as autoridades norte-americanas competentes, e prestou a assistência cabível à nacional, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local".