O governador Romeu Zema afirmou, nesta terça-feira (17), que o Complexo Minerário Serra do Taquaril (CMST), da Taquaril Mineração S.A. (Tamisa), não será implementado nos limites da Serra do Curral que, nas palavras dele, “é intocável, é o monumento de Belo Horizonte, da região metropolitana”. Porém, até mesmo a própria empresa afirma, em estudo enviado ao Estado, que o projeto “está inserido no Quadrilátero Ferrífero, mais especificamente nas proximidades da serra do Taquaril, nome local da serra do Curral, no município de Nova Lima”. 

Em entrevista ao Bom Dia Minas Gerais, da Rede Globo, o governador disse que a mineração no local, aprovada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), compreende “uma atividade fora da Serra do Curral, que não afetará a serra”. Romeu Zema ainda frisou que “esse monumento de Belo Horizonte nunca será alterado”. 
Ambientalistas explicam que a diferenciação entre Serra do Curral e Serra do Taquaril é administrativa, cultural, social e política, e está relacionada à ocupação daquele território pelo ser humano. 

“A formação geológica completa leva o nome de Serra do Curral, que compreende toda a região do que chamamos de Quadrilátero, da Serra da Piedade, em Caeté, a Itatiaiuçu, no Centro do estado. Ao longo do caminho essa formação terá outros nomes, que são locais ou regionais, o que é o caso da Serra do Taquaril, como está denominada a porção de Nova Lima. Pode ter o nome que for, o desenho visual que for, mas é originária da mesma formação geológica, que abrange também as serras da Moeda e do Gandarela”, ressalta a ambientalista e pesquisadora do projeto Manuelzão e do movimento Tire o Pé da Minha Serra, Jeanine Oliveira. 

Já o texto da Tamisa, que também reconhece que a divisão está relacionada à denominação oficial, foi escrito por consultoria contratada pela empresa para elaborar o Relatório de Impacto do Projeto (Rima) - documento que, junto com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), é de apresentação obrigatória no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos de mineração no estado de Minas Gerais.. 

Mesma formação geológica

O EIA/Rima busca detalhar as atividades que devem ser desenvolvidas na área e seus impactos para o meio ambiente. Ao falar de tombamento no EIA, enviado pela Tamisa à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), em dezembro de 2019, a empresa comenta novamente a divisão citada pelo governador:

“O tombamento da serra do Curral constitui fator de especial importância a ser considerado em projetos de mineração como esse ora em análise, tendo em vista as restrições a que são submetidos os proprietários de bens em área tombada, considerando-se que a chamada serra do Taquaril caracteriza-se como um prolongamento daquele acidente geográfico [serra do Curral]”, diz o relatório. 

Tombamento

A formação da Serra do Curral é protegida pelo município de Belo Horizonte e pela União, restando ser tombada apenas em esfera estadual. Questionado sobre os esforços para acelerar o processo em Minas, já em tramitação, Romeu Zema afirmou que o tombamento depende das prefeituras da região metropolitana ligadas à serra  e disse que está esperando o posicionamento delas para tomar uma decisão estadual. 

A Tamisa argumenta que o tombamento da porção belo-horizontina da serra não pode se prolongar para os municípios vizinhos, como Sabará e Nova Lima, já que devem ser considerados a autonomia e a independência dos entes federados. Para a mineradora, a capital não pode “estabelecer limitações ao uso de bens imóveis situados em outras municipalidades” e para as “áreas apropriadas” pela proposta da empresa. 

O engenheiro do Fórum Permanente São Francisco e morador da região do Taquaril, em Belo Horizonte, Euler Cruz, reforça que a serra é uma só. “Você pode chamar um cachorro de cachorro ou de dog, a Serra do Taquaril é a parte da Serra do Curral. A parte que será minerada está colada no pé do Pico Belo Horizonte, que é tombado, e pode fazê-lo desmoronar”, frisa.

O argumento do governador também foi rebatido pelo urbanista e professor da UFMG Roberto Andrés, que participa movimento “Tira o pé da minha Serra".

"O governador precisa voltar para a aula de geografia. Tanto ali é serra do Curral que o dossiê de tombamento da serra do Curral inclui aquela área, então não tem o que dizer", rebate.